Arte e potencialização de sentidos: atravessamentos no ensino

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Data
2020-10
Orientador
Schuck, Rogério José
Banca
Schneider, Paulo Rudi
Seibt, Cezar Luis
Martins, Silvana Neumann
Schwertner, Suzana Feldens
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Resumo
É necessário avisar. Este não é um roteiro de escrita científica normal. Segue linhas outras. Na arte do escrever, não há um certo e um errado; há o escrever. Há um fio de sentido – desde o que se refere ao significado, até o que perpassa o sentir. A escrita desta tese dá-se em forma de peça teatral. É no espaço teatral que ocorre o encontro do artista, da tese e do expect-actor (aquele que observa e age ao mesmo tempo). É no espaço entre o palco e a plateia que ocorre o diálogo, a fusão de horizontes e a compreensão do que está sendo dito. Mas, o que é encenado nos diferentes atos que compõem esta tese? Neles, falamos sobre a arte e a potencialização de sentidos no ensino. E, para contemplar tal temática, partimos de dois questionamentos: Como a arte vem contribuindo nos processos de ensino? Como a arte potencializa sentidos no ensino? Para responder a essas questões, definimos, como objetivo geral, investigar como a arte potencializa sentidos no ensinar. Cabe mencionar que desenvolvemos uma pesquisa qualitativa que teve, como metodologia principal, a Hermenêutica (GADAMER, 2015). Como primeiros objetivos específicos, buscamos investigar o conceito de arte na contemporaneidade e conceituar a arte a partir da perspectiva hermenêutica de Hans-Georg Gadamer. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica centrada nesse filósofo alemão. Constatamos, a partir das leituras realizadas, que a arte está na vida do homem desde os seus primórdios, através de diferentes expressões: desenho, música, pintura, teatro, dança, comédia, drama. E que é da alçada da subjetividade, pois cada um possui uma percepção e uma compreensão a respeito do que é arte e da importância que ela tem para a humanidade. Além disso, constatamos que não somos nós que interpretamos a arte à luz de nossos interesses; é ela que se dá a interpretar na medida em que nos questiona. No seu constante movimento autopoiético, nunca é a mesma para quem diante dela se coloca. Aliás, mesmo que a contemplemos inúmeras vezes, sempre teremos um olhar diferente, e, a cada olhar, ela nos abrirá um ou múltiplos sentidos. Para compreender o que a obra de arte tem a nos dizer, temos de estar abertos ao diálogo que trava conosco, pois é por meio dele que constatamos a sua verdade, o seu jogo e movimento. Outro objetivo proposto foi averiguar as concepções prévias acerca de arte dos professores e alunos de uma escola da rede pública estadual de Capitão/RS, para verificar como as diferentes expressões artísticas vêm contribuindo na potencialização de sentidos no ensino. Para tanto, aplicamos um questionário dissertativo e aberto com 52 alunos do Ensino Médio (1o ao 3o ano) e nove professores da referida escola. Analisamos as respostas com base na Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZE, 2016) e a partir de quatro categorias, a saber: No Vale da Saudade, perceptos da arte; No Vale da Procura, a arte como presença na vida e no espaço escolar; No Vale do 18 Amor, a arte auxiliana compreensão dos conteúdos e instauraçãodesentidos; e No Vale do Conhecimento, a potencialização de sentidos. Mediante essas categorias, percebemos que a arte está presente na vida dos alunos e professores, auxiliando na formação da subjetividade, seja a partir do sentir ou das singelezas do cotidiano e do ser. Além disso, entramos em contato com as diferentes percepções de alunos e professores sobre o que é a arte, sobre sua importância e sua presença na vida e no espaço escolar. Também observamos como a arte auxilia na compreensão dos conteúdos e na instauração e potencialização de sentidos. Ainda buscamos desenvolver oficinas de arte com professores da rede pública estadual do município de Capitão/RS, denominadas Olhicriarte, uma junção dos termos olhar+criar+arte. Realizamos duas oficinas - uma de teatro e outra de escrita enquanto arte - por meio das quais os professores puderam experienciar a arte e buscar o autoconhecimento. As percepções dessas vivências foram relatadas, pelos participantes, em diários denominados “Diários Vivenciais”. Mediante a leitura de um total de 10 diários, verificamos que o experienciar não é algo objetivo ou que possa ser (re)produzido; ao contrário, é uma vivência que perpassa o corpo de cada um, de forma única e inexplicável. Constatamos que, quando o professor olha e cria a partir da arte, ele se torna artista, e, sendo professor artista, é capaz de lidar com os problemas que ocorrem na sua prática pedagógica e está em constante processo de aprendência (ASSMANN, 1998). Por último, procuramos realizar uma análise da práxis pedagógica no que tange à presença das artes numa atividade interdisciplinar entre as áreas das Ciências Humanas e das Linguagens. Para tanto, levamos em consideração um trabalho desenvolvido a partir do filme “Minha querida Anne Frank”, em que desafiamos os alunos do 2o e 3o Anos do Ensino Médio a escreverem, em duplas, um diário contendo relatos, poesias e desenhos relativos a temas do filme. Ao todo, foram escritos 24 diários, os quais demonstraram que trabalhar com arte nos processos de ensino propicia, ao aluno, outra compreensão sobre o que está sendo trabalhado, bem como possibilita que ele exercite a empatia e vivencie o contexto histórico, na medida em que horizontes são fundidos e tradições são compreendidas, mas, acima de tudo, serve de fuga e de rompimento do cotidiano. Ao contemplar a arte na sua práxis pedagógica, o professor demonstra saber que uma aula não precisa ser idêntica à outra e que cada uma contém, em si, a multiplicidade, os devires, as variáveis e variantes do próprio existir. Por fim, considerando os resultados alcançados, é possível afirmar que esta tese comprovou que a arte pode e deve se fazer presente na práxis pedagógica, pois potencializa sentidos e permite olhares outros, diferentes dos existentes até então. A arte nos leva a pensares inexistentes, à compreensão de quem somos e do meio no qual estamos inseridos. Ela permite que sejamos críticos, questionadores. Ela nos desafia a enfrentar nossos medos, a demonstrar os sentimentos que mantemos, muitas vezes, guardados em nosso ser. Enfim, no momento em que há uma experienciação com a arte e a partir dela, há o processo criativo, há a possibilidade de olhicriar, há apropriação e potencialização de sentidos.

Es necesario advertir que este escrito no es un guión de escritura científica usual; sigue otras líneas. En el arte de escribir no hay buena o mala escritura; hay un hilo conductor de sentido, pasando por lo que se refiere al significado, hasta rozar el sentir. Esta tesis está escrita en forma de obra teatral. Es en el espacio teatral donde se encuentran artista, tesis y expect-actor (quien observa y actúa al mismo tiempo). Es en el espacio entre el escenario y el público donde se desarrolla el diálogo, la fusión de horizontes y la comprensión de lo que se está diciendo. Empero, ¿qué está articulado en los diferentes actos que componen esta tesis? En ellos, hablamos de arte y de potenciar sentidos en la docencia. Así, para contemplar ésta temática, abrimos el telón con dos preguntas: ¿Cómo el arte viene contribuyendo en los procesos de enseñanza? ¿Cómo el arte potencia sentidos en la enseñanza? Para responder a estas preguntas, definimos, como objetivo general, investigar de qué modo el arte potencia sentidos en la enseñanza. Cabe mencionar que desarrollamos una investigación cualitativa que toma la Hermenéutica como su principal metodología (GADAMER, 2015). Como primeros objetivos específicos, buscamos investigar el concepto de arte en la época contemporánea y conceptualizar el arte desde la perspectiva hermenéutica de Hans-Georg Gadamer. Para ello, realizamos una búsqueda bibliográfica centrada en éste filósofo alemán. Comprobamos, a partir de las lecturas realizadas, que el arte ha estado en la vida de la humanidad desde sus inicios, a través de distintas expresiones: dibujo, música, pintura, teatro, danza, comedia, drama, entre otras. Y, que ésta, es del orden de la subjetividad, pues, cada uno tiene una percepción y un entendimiento de lo que es el arte; así como de la importancia que tiene para la humanidad. De igual forma, corroboramos que no somos nosotros quienes interpretamos el arte a la luz de nuestros intereses; es ella que se da a interpretar, al mismo tiempo que nos interroga. En su constante movimiento autopoiético, nunca es la misma para quienes se debruzan con ella. De facto, aunque la contemplemos innumerables ocasiones, siempre tendremos una mirada diferente, y con cada mirada se abren uno o múltiples sentidos. Para comprender lo que la obra de arte quiere comunicarnos, tenemos que estar abiertos al diálogo que nos convida, porque es a través de ella que constatamos su verdad, su juego y su movimiento. Otro objetivo propuesto fue indagar las concepciones previas de arte, de profesores y alumnos, pertenecientes a una escuela pública departamental (provincial) ubicada en el municipio de Capitão/RS/Brasil, para verificar cómo las diferentes expresiones artísticas han contribuido a la potenciación de sentidos en la enseñanza. Para ello, se aplicó una encuesta abierta a 52 estudiantes de los últimos años de secundaria, y a nueve docentes de la escuela en cuestión. Analizamos las respuestas a partir del Análisis Textual Discursivo 20 (MORAES; GALIAZZE, 2016), en base a cuatro categorías, a saber: En el Valle de la Nostalgia: perceptos del arte; En el Valle de la Procura: Arte como presencia en la vida y en el espacio escolar; En el Valle del Amor: el arte ayuda a comprender los contenidos y establecer sentidos; y En el Valle del conocimiento: la potenciación de los sentidos. Gracias a estas categorías percibimos que el arte está presente en la vida de estudiantes y docentes, a la vez que ayuda en la formación de la subjetividad, ya sea desde el sentir, o desde la simpleza de la cotidianidad y del ser. Del mismo modo, entramos en contacto con las distintas percepciones de alumnos y profesores sobre qué es arte, sobre su importancia, su presencia en la vida y en el espacio escolar. También, observamos cómo el arte ayuda a comprender los contenidos, a instaurar y potenciar sentidos. Todavía, buscamos desarrollar talleres de arte con maestros de la escuela pública departamental (provincial) en Capitão/RS/Brasil, llamados Micrearte (Olhicriarte en portugués), una combinación de los términos mirar + crear + arte (Micrearte). Realizamos dos talleres, uno sobre teatro y otro sobre escritura literaria, en los cuales los profesores pudieron vivenciar el arte y buscar el autoconocimiento. Las percepciones de estas experiencias fueron informadas por los participantes en diarios denominados “Diarios vivenciales”. Al leer un total de 10 diarios, encontramos que vivenciar no es algo objetivo ni que se puede (re)producir; al contrario, es una experiencia que va más allá del cuerpo, de manera única e inexplicable. Verificamos que cuando el docente mira y crea a partir del arte, se convierte en artista y, siendo un maestro artista, es avezado para lidiar con los problemas que se presentan en su práctica pedagógica, y está en un proceso de aprendencia(ASSMANN, 1998). Finalmente, buscamos realizar un análisis de la praxis pedagógica en torno a la presencia de las artes en una actividad interdisciplinar entre las áreas de Humanidades e Idiomas. Para eso, tuvimos en cuenta un trabajo desarrollado a partir de la película “Memorias de Anne Frank”, en la que desafiamos a los alumnos de 10o y 11o de bachillerato a escribir, en parejas, un diario que incluyese reportajes, poesías y dibujos relacionados con la temática de la película. En total se redactaron 24 diarios, que demostraron que laborar con arte en los procesos de enseñanza proporciona al alumno una nueva comprensión de lo que se está trabajando. Además, le permite ejercitar empatía y vivenciar los contextos históricos, en la medida que se fusionan horizontes temporales y tradiciones son comprendidas; pero, sobre todo, sirve como fuga y ruptura de la cotidianidad. Al contemplar el arte en su praxis pedagógica, el docente demuestra saber que cada clase que imparte no necesita ser idéntica a otra, y que cada una contiene en sí la multiplicidad, los devenires, las variables y variantes de la propia existencia. Finalmente, considerando los resultados alcanzados, es posible afirmar que esta tesis comprobó que el arte puede y debe estar presente en la praxis pedagógica ya que potencia sentidos, y permite una forma de mirar diferente a las habituales. El arte nos lleva a pensar lo impensado, a comprender quiénes somos y el entorno cotidiano; de igual forma, nos permite ser críticos, cuestionadores. Adicionalmente, nos desafía a enfrentar nuestros miedos, a manifestar los sentimientos que a menudo guardamos en nuestro ser. Por fin, en el momento en que existe una vivencia con el arte y a partir de ella, se dá un proceso creativo, se dá la posibilidad de Micrearte (Olhicriarte en portugués), se dá apropiación y potenciación de sentidos.

One has to be warned. This is not an ordinary scientific writing script. It follows distinct guidelines. In the art of writing, there is no right or wrong; there is only writing. There is a line of thought – beginning with what regards meanings to what encompasses feelings. The writing of this dissertation is done as that of a theater play. In the theater venue, the encounter of the artist, the dissertation, and the spect-actor (the one who watches and plays at the same time) takes place. In this venue between the stage and the audience is where the interlocution occurs, as well as a merge of the horizons, and the understanding of what is being said. But then, what is staged in the several acts that constitute this dissertation? The art and the potentializing of the meaning/senses in teaching. To complement this theme, we base ourselves on two questions: how has art been contributing to the teaching processes and how does it potentialize the meanings/senses in teaching? To answer these questions we established, as a general purpose, the investigation of how art potentializes meanings/senses in teaching. To do so, we developed a qualitative research whose main methodology was the Hermeneutics (GADAMER, 2015). As specific purposes, we aimed to investigate the concepts of art within contemporaneity based on Hans-Georg Gadamer’s hermeneutic perspective. For that purpose, a bibliographical research based on this German philosopher was carried out. Based on the readings, we concluded that art has been in human life since its very beginning, through diverse expressions: drawing, music, painting, theater, dance, comedy, drama. Subjectivity encompasses it, once each one has a perception and understanding of what art is, and of its relevance to humankind. Furthermore, we concluded that it is not up to us to interpret art in light of our interests, but rather, art enables interpretations as it questions us. In its self-poetical unceasing movement, it is never the same before the one who stands to see it. Moreover, even if we contemplate it several times, we will always have a different look at it, and in each look, it will offer us one or multiple meanings. To be able to understand what works of art have to tell us, we have to be open to the interlocution that they hold with us, once it is through it that we verify their truth, their game, and movement. Another purpose established was verifying the previous concepts about art the teachers and students of a state public school in Capitão/RS/Brazil had to verify how the diverse artistic expressions have been contributing to the potentializing of meanings/senses in teaching. To that end, an open/dissertation questionnaire was applied to 52 students of the Secondary School (1st to 3rd year) and 9 teachers of the said school. The answers were analyzed through the Discursive Textual Analysis (MORAES; GALIAZZE, 2016) based on four categories: in the Valley of Longing, perceptions of art; in the Valley of 22 Quest, art as a presence in life and in the school venue; in the Valley of Love, art assists in the understanding of contents and establishment of meanings; and in the Valley of Knowledge, the potentializing of meanings/senses. By using these categories, we realize that art is present in the life of students and teachers, assisting in building subjectivity, whether from the feelings or the subtleties of daily life and the beings. Furthermore, we get in touch with students’ and teachers’ different perceptions of art, with its relevance and presence in their life and in the school venue. We also observed how art assists in understanding contents and in potentializing meanings/senses. Additionally, art workshops were developed with teachers of the state public schools of the municipality of Capitão/RS; they were called Olhicriarte, a merge of the words Olhar (look)+ criar (create)+ arte (art). Two workshops were offered, one of drama and the other of writing as art – through which the teachers could experience art and search for self-knowledge. The perceptions of these experiences were reported by the participants in journals called “Experience Journals”. Upon reading a total of 10 journals, we verified that experiencing is not an objective act, or one that may be (re)produced; on the contrary, an experience is felt by each individual’s body, in a unique and inexplicable way. We conclude that, when teachers look at and create based on art, they become artists, and as teachers-artists they are capable of dealing with the problems that occur in their pedagogical practice, and are in a constant process of learning (ASSMANN, 1998). Finally, we attempted to analyze the pedagogical praxis regarding the presence of arts in an interdisciplinary activity involving the Human Sciences and Languages. To do so, we took into consideration a work based on the Movie “Dear Anne Frank”, in which we challenged the 2nd and 3rd -year students of the Secondary School to write, in pairs, a journal with accounts, poetry, and drawings related to elements in the movie. Twenty-four journals were written, and they showed that working with art in the teaching process stimulates students to have a diverse understanding of what is being worked, as well as it enables them to develop empathy and experience the historical context, as horizons become merged and traditions are understood, but above all, it is an escape from and a disruption to the daily life. Upon observing art in their pedagogical praxis, teachers show that they know that one class does not need to be identical to others, and each of them contains in itself, the multiplicity, the becoming, the variables and varying of existing itself. Finally, when considering the outcomes, one can state that this thesis has proved that art may be and has to be present in the pedagogical praxis, once it potentializes meanings/senses and allows other looks, unlike the ones existing until then. Art leads us to inexistent thoughts, to the understanding of who we are and of the environment we belong to. It enables us to be critical and questioning. It challenges us to face our fears, and to show feelings that quite often we keep within ourselves. Ultimately, whenever there is experiencing of art or with it as a basis, there is the creative process, there is the possibility of olhicriar, there is an allocation and potentializing of meanings/senses.
Descrição
Palavras-chave
Artes; Sentidos; Processos de ensino; Hermenêutica; Experiência; Procesos de enseñanza; Hermenéutica; Experiencia; Arts; Meanings/Senses; Teaching processes; Hermeneutics; Experience
Citação
BAGATINI, Fabrício Agostinho. Arte e potencialização de sentidos: atravessamentos no ensino. 2020. Tese (Doutorado) – Curso de Ensino, Universidade do Vale do Taquari - Univates, Lajeado, 09 nov. 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/10737/2914.
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