Estudo de TCC constata que margens do rio Forqueta não apresentam capacidade necessária para a restauração da sua cobertura vegetal de forma natural
Postado as 03/01/2023 08:15:13
Por Lucas George Wendt
Jader Vivian Zeni, de Marques de Souza, diplomado do curso de bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade do Vale do Taquari - Univates, concluiu recentemente o curso e, como trabalho de conclusão de curso, analisou a qualidade da cobertura vegetal das margens do rio Forqueta com relação ao seu potencial de restauração. Confira aqui uma reportagem sobre o início da pesquisa.
O trabalho intitulado “Banco de sementes do solo de áreas degradadas nas margens do rio Forqueta, Rio Grande do Sul, Brasil” teve como objetivo avaliar a prevalência de espécies e o potencial de restauração natural de áreas degradadas das margens do rio Forqueta, bacia hidrográfica do rio Taquari-Antas, Rio Grande do Sul, para a restauração da cobertura arbórea por sucessão natural.
Originalmente, o processo de degradação é natural, mas é intensificado pelas ações humanas, sobretudo a partir da remoção da vegetação que teria como função conter a produção de sedimentos por meio da proteção do solo, facilitando assim os processos de erosão.
Para entender o estudo
O solo foi coletado em três áreas ribeirinhas que foram degradadas por uma grande inundação no ano de 2010. Em cada área foram coletadas amostras em 200 m de extensão ao longo das margens do rio Forqueta, na bacia hidrográfica do rio Taquari-Antas. As áreas 1 e 3 estão localizadas na margem esquerda do rio, no município de Travesseiro. A área 2 está localizada na margem direita do rio, no município de Marques de Souza.
Para realização do estudo foram coletadas 90 amostras de solo em três áreas degradadas e mantidas em casa de vegetação para acompanhamento da germinação. Foram registradas 7.541 germinações diferentes, de 137 espécies e 41 famílias de plantas. As espécies herbáceas apresentaram os maiores valores de importância.
Psidium guajava, exótica invasora, foi a única espécie arbórea registrada, tendo nove germinações. Apesar da elevada diversidade de espécies, a dominância de plantas herbáceas, tanto de espécies quanto de indivíduos, ausência de espécies arbóreas e a presença de espécies exóticas invasoras indicam que as áreas estudadas não apresentam potencial para a restauração da cobertura vegetal, exigindo a interferência antrópica para restauração.
O projeto faz parte de um estudo maior que tem o objetivo de definir metodologias eficazes para a restauração da cobertura vegetal das margens de rios e arroios da região cuja vegetação encontra-se degradada ou ausente. A partir desse estudo, e de outros semelhantes em andamento vinculados ao projeto, é possível definir a metodologia mais adequada a ser utilizada para restaurar a vegetação nas margens dos nossos rios.
Os impactos da descoberta
Com os resultados obtidos é possível conhecer as espécies existentes nas margens dos rios e, a partir disso, definir as espécies que devem ser utilizadas para acelerar a restauração das áreas que se encontram degradadas, de modo a garantir a adequada regeneração da vegetação nas margens dos rios em estudo.
Na avaliação do diplomado, este tema de pesquisa tem importância regional. “O tema é importante para sabermos em qual grau de degradação se encontram as margens dos nossos rios e averiguar qual a sua capacidade de regeneração natural. Esta pesquisa traz informações importantes sobre o potencial de recuperação da vegetação nas margens de rios e arroios da região, ajudando a decidir qual o melhor método de restauração a ser utilizado em cada área de modo a garantir a adequada regeneração da vegetação”.
“Estar envolvido em uma pesquisa científica significa poder ajudar a resolver algum problema relevante para a sociedade, contribuindo efetivamente para mudar uma realidade, uma vez que a pesquisa científica surge a partir de um problema ou uma dúvida que atinge diretamente a todos nós”, indica ele.
As espécies exóticas, mesmo em baixa quantidade e com poucos indivíduos registrados nas áreas, preocupam os pesquisadores pois as condições locais indicam que o ambiente se encontra perturbado, favorecendo a entrada de exóticas invasoras, as quais competem por nutrientes e espaço com as espécies nativas.
As espécies arbóreas, por apresentarem maior porte de altura e de raízes, proporcionam ao solo maior segurança e estabilidade na época das cheias. Quanto às espécies nativas, elas permitem o crescimento de outras espécies nativas no local, não havendo competição entre as espécies do lugar. O uso de espécies nativas também apresenta maior probabilidade de êxito quanto mais próximo das condições naturais for o plantio, em vista que a introdução de espécies inadequadas pode levar a uma série de consequências que podem acarretar em prejuízos ambientais.
“A grande quantidade de espécies herbáceas e pouca quantidade de espécies arbóreas comprova que é necessária a intervenção antrópica para a recuperação dessas áreas. A partir do que foi analisado, conclui-se que as margens do rio Forqueta se encontram completamente degradadas, e sem formações preservadas nas proximidades, não apresentando condições de recuperar a sua cobertura vegetal por meio da sucessão ecológica, sendo necessária a adoção de ações para favorecer a restauração da vegetação”.