A CRIANÇA NA EXPERIÊNCIA TEMPORAL DE SUAS NARRATIVAS GRÁFICAS
Resumo
A pesquisa apresenta uma reflexão acerca do desenho da criança como possibilidade narrativa de recontar o vivido ancorado pela espessura de um tempo. Para Gaston Bachelard (1990), o vivido é sustentado por uma poética da vida vivida revivendo-a, separando-a da natureza, da pobre e monótona natureza, passando do fato ao valor. O vivido nessa perspectiva está na ótica do que pode ser inventado – imaginado - sugerindo pensá-lo como possibilidade de abertura a uma temporalidade narrativa pela ação de desenhar. Walter Benjamim (1985), ao escrever sobre o narrador, sugere pensar sua figura como aquela que sabe intercambiar experiências, sendo, por esse motivo, a ação de narrar uma forma artesanal de comunicação, uma vez que ela não está interessada em apenas transmitir a experiência como um relatório ou uma mera informação. Para Walter Benjamim (1985), ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele, assim como a mão do oleiro na argila do vaso. O pensamento de Benjamim contribui para alcançar a ação de desenhar da criança como ação inventiva de intercambiar experiências, sendo por isso um modo particular de tecer fios na história, configurando-se como processo afetivo e cognitivo de comunicar-se na temporalidade. E, para elucidá-la na narrativa gráfica, busco referência no pensamento de Maurice Merleau-Ponty (2002), por evidenciar o desenho da criança como narrativa gráfica sustentada pela espessura de um tempo, permitindo pensá-la como possibilidade de invenção de um corpo fenomenal que opera no e com o vivido. A possibilidade de lançar-se no real por meio da ação de narrar-se permite refletir sobre o processo linguageiro que conduz o corpo a intencionalmente marcar no suporte uma determinada relação com o mundo. A ação de desenhar, de estabelecer uma interação com o suporte, de inventar e utilizar técnicas gráficas para evidenciar movimento de um tempo narrado permite a reflexão sobre o modo complexo que é a ação de desenhar da criança. Ao contar-se na história, brinca com o tempo, com isso vai investigando possibilidades para a linha evidenciando a plasticidade de um pensamento latente. É pelo poder de figurar para testemunhar sua presença temporal no espaço mundano que a criança move-se no tempo como um narrador que desce profundamente em si mesmo para evidenciar sua potência vidente. Nessa perspectiva a reflexão objetiva pensar qual relação há entre a narrativa gráfica e o tempo, na intenção de problematizar o olhar “objetivo” que concebe e pensa o tempo como uma série de pontos temporais justapostos, deixando, por esse motivo, compreender que a narrativa gráfica é lacunar com intenção de representar o mundo. Em contrapartida a intenção é propor um olhar fenomenológico para a possibilidade de uma temporalidade na narrativa com a intenção de compreender qual sua implicância nas experiências imaginadas pela criança. O percurso da linha no suporte evidencia um pensamento agressor que marca na ação narrada sua presença corpórea no mundo. A linha nesse sentido é uma abstração, ao sustentar por pela ação performativa da mão, um tempo imaginado pela narrativa gráfica.Downloads
Publicado
31-08-2011
Como Citar
SANTOS, Michele Idaia dos. A CRIANÇA NA EXPERIÊNCIA TEMPORAL DE SUAS NARRATIVAS GRÁFICAS. Revista Signos, [S. l.], v. 31, n. 2, 2011. Disponível em: https://univates.br/revistas/index.php/signos/article/view/695. Acesso em: 23 nov. 2024.
Edição
Seção
Artigos
Licença
Copyright (c) 2010 Michele Idaia dos Santos
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.