Ambiente é tudo
Postado as 01/04/2019 17:04:31
Por Ney José Lazzari
Por Ney José Lazzari
Neste semestre estarei residindo por um período na Espanha e na Itália, acompanhando e conhecendo com um pouco mais de profundidade como se dá a interação da Universidade com o seu meio em algumas cidades e regiões (Málaga, Barcelona e Trento). Estou no meu período sabático como professor da Univates, o que possibilita essa excelente oportunidade de atualização, convivência e experiência em espaços culturais e econômicos diferenciados. Essa é também uma oportunidade para recarregar as energias.
Por um período de dois meses estou em Málaga, uma cidade de quase 600 mil habitantes (tamanho de Caxias do Sul) na região da Andaluzia, Costa do Sol, no Sul da Espanha, bem próximo do Estreito de Gibraltar. Málaga, cidade onde nasceu o pintor Picasso em 1881, tem grande apelo turístico pela sua configuração histórica com ruínas fenícias, romanas e castelos mouros, pelos inúmeros museus, pelas suas praias e pelo porto que recebe o ano todo inúmeros navios que fazem cruzeiros pelo Mediterrâneo.
É também em Málaga que se encontra o maior Parque Tecnológico da Espanha, o Parque Tecnológico da Andaluzia - PTA. Na Espanha são 51 parques tecnológicos com mais de 8 mil empresas, gerando quase 200 mil empregos em áreas de altíssimo nível tecnológico.
O PTA está numa área de 400 ha totalmente urbanizados (equivalente a seis vezes o campus da Univates). Foi fundado em 1992 e tem mais de 600 empresas, gerando em torno de 20 mil empregos. Está localizado a 13 km do centro da cidade, a 12 do aeroporto internacional e a 7 da Universidade de Málaga, tudo interligado por um moderno e confortável sistema de transporte público que inclui inclusive metrô.
A Universidade de Málaga (UMA), pública, mantida pelo governo da região da Andaluzia, com 40 mil alunos, inúmeros cursos de mestrado e doutorado e mais de 300 grupos de pesquisa, tem uma política institucional voltada para o empreendedorismo, o que viabiliza e prioriza alianças e parcerias estratégicas com mais de 150 empresas, das quais a Universidade participa efetivamente no desenvolvimento de novos produtos ou na melhoria de processos produtivos.
Com essa localização, infraestrutura e história de quase 30 anos no seu Parque Tecnológico, a região de Málaga criou um ambiente altamente propício ao empreendedorismo e à inovação, o que está atraindo empresas de porte mundial nas áreas de tecnologia da informação, comunicações, engenharia, biotecnologia, nanomedicina, consultoria e outras. São mais de 60 empresas internacionais instaladas, tais como: Oracle, Hauwei, Accentur, Ericsson, IMB, TDK e outras que desenvolvem produtos e pesquisas de caráter mundial.
As unidades dessas empresas internacionais, quando localizadas num parque tecnológico, funcionam como elos das cadeias mundiais de suprimentos e de produção do conhecimento, necessárias para a inovação e a oferta de novos produtos. Etapas do trabalho, mesmo o intelectual, são distribuídas em diferentes espaços geográficos no mundo onde existem recursos humanos qualificados e ambiente propício, incluindo bons cafés e bons vinhos, ou seja, um bom lugar para se viver e para trabalhar.
Essas unidades sublocam parte do trabalho e contratam diferentes serviços locais, gerando assim possibilidades para o surgimento e a consolidação de novas empresas e novos negócios, novas startups, sempre conectados e respondendo ao competitivo mercado internacional.
A experiência vivenciada em Málaga, que se repete em várias cidades espanholas, comprova mais uma vez que essas questões ligadas ao desenvolvimento de uma região não brotam de forma autônoma ou são fruto do acaso. Elas são decisões tomadas conscientemente pelos agentes envolvidos e alinhadas de forma constante e coerente. O setor público, a universidade, os empreendedores e a sociedade têm que, em determinado momento, decidir suas prioridades, alinhar seus interesses e focar na construção de um ambiente propício ao tipo de desenvolvimento que se quer.
Temos que aprender que estamos falando de processos e que, por sua natureza, processos são construídos lentamente e envolvem inúmeros atores que devem saber ouvir, propor, negociar e compor. Esses movimentos também requerem instituições e pessoas com liderança, conhecimento e determinação.
Elise Bozzetto
Em licença sabática, o Reitor Ney José Lazzari conta sobre sua imersão na Europa.
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