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Do outro lado da classe e do mundo

Postado as 2018-03-22 09:34:11

Por Artur Dullius

Sempre tive vontade de conhecer outros países, vivenciar outras culturas, outras maneiras de ver e viver a vida. Mas confesso que nunca pensei na China como uma possibilidade. Quando surgiu o convite, eu fiquei muito ansiosa e, ao mesmo tempo, feliz. Esse é um aprendizado que não se aprende em nenhuma sala de aula

As palavras de Aline Diesel, diplomada do curso de Letras da Univates, refletem a surpresa de quem, há um ano, recebia um convite até então inesperado. A proposta da coordenação do curso para atuar por três meses como professora visitante de duas disciplinas na Faculdades de Estudos Internacionais da Macau University for Science and Technology, em Macau, na China, sequer tinha passado pelos planos de Aline. Na época, recém havia concluído o mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates e garante: “o que me tranquilizou foi o fato de alguns estudantes da Univates já morarem aqui (China), ainda que a universidade deles seja outra.”

Desde então iniciou um período de preparação, que envolveu a intensificação dos estudos da Língua Inglesa e também a leitura de artigos relacionados à cultura e história de Macau. Hoje, um ano depois, ela vive as primeiras experiências em solo oriental. Desde o final do  mês de fevereiro em Macau, Aline encara diariamente as dificuldades de uma rotina diferente para tornar possível a realização de dois sonhos: ser professora e morar fora do país.

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Na China ela ministra as disciplinas História e Cultura dos Países Lusófonos, e Escrita do Relatório de Estágio. “Na disciplina de História e Cultura, a proposta é levar aos alunos aspectos históricos, políticos, econômicos e sociais dos países que possuem a Língua Portuguesa como língua oficial. Sendo assim, na primeira aula, apresentei o chimarrão, mencionando que se trata de uma bebida típica do sul do Brasil. Eles provaram a bebida e estranharam bastante o gosto, mas, mesmo assim, a experiência foi proveitosa”, relembra.

No ambiente acadêmico Aline também encontra a oportunidade de falar sobre a rotina diária dos brasileiros, bem como as tradições e a cultura. Em troca se aproxima ainda mais dos costumes chineses. “Nós acabamos debatendo as diferenças entre os países. Na última aula, por exemplo, chegamos ao assunto aborto. Eu falei que, no Brasil, o aborto não é permitido pela lei. Eles ficaram muito surpresos com isso e questionaram: o que acontece se uma moça engravida sem desejar ter aquela criança? Eu respondi que a moça precisa ter a criança, e isso os impressionou bastante”, conta.

Por mais que sejam estudantes de Língua Portuguesa, ela afirma que os jovens estão habituados ao português europeu e apresentam dificuldades em compreender os brasileiros. Para superar as dificuldades de comunicação, a professora explica que busca falar mais devagar, além de repetir mais de uma vez as palavras usadas.

Quando eu vim para cá, tinha a ideia de que os alunos tivessem poucas ou nenhuma hora de lazer, pois acreditava que sofressem uma pressão muito grande em relação aos estudos. A China tem essa "fama" no Brasil. Contudo, percebi que não é bem assim. Eles têm dificuldades, eles interagem na aula, às vezes chegam atrasados, assim como em qualquer país
Aline Diesel, diplomada da Univates

Ela explica ainda que outro ponto que diferencia o ensino nos dois países é o horário das aulas. Diferente do Brasil, são realizados dois encontros semanais de cada disciplina, com duração de duas horas cada encontro, tornando a aula menos cansativa tanto para o professor quanto para os alunos.

Além de ministrar as disciplinas, a professora conta que também encontra tempo para conhecer as possibilidades que Macau oferece. No entanto, garante que tem enfrentado algumas dificuldades na adaptação, principalmente com a alimentação. “Ela é bastante diferente da que estamos habituados no Brasil. Além disso, a comunicação também é um desafio. Os macauenses falam o cantonês e poucos falam inglês. Como eu só falo Inglês e Português, tenho tido certa dificuldade nesse sentido. Mas nada que a boa vontade e a simpatia desse povo não compense”, conclui.

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