Entre os dias 10 e 25 de outubro, uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia do Museu de Ciências da Universidade do Vale do Taquari - Univates, coordenada pelas arqueólogas Fernanda Schneider e Neli Galarce, e com a parceria da Dra. Mirian Carbonera (Unochapecó) e do Dr. Daniel Loponte (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas - CONICET/Argentina), realiza intervenções em deposições funerárias de sítios arqueológicos escavados após as enchentes de 2024.
A iniciativa integra os esforços de preservação e estudo do patrimônio arqueológico impactado por desastres ambientais, com o objetivo de documentar, analisar e conservar contextos funerários fragilizados pela ação das águas. De acordo com as pesquisadoras, o trabalho busca avaliar os impactos das inundações sobre os vestígios arqueológicos e produzir novas interpretações sobre os assentamentos humanos e as práticas funerárias na região do Vale do Taquari.
Com este estudo, lacunas importantes sobre a história indígena e regional poderão ser abordadas de forma inédita. As análises permitem observar relações entre práticas funerárias e a produção cerâmica, evidenciadas, por exemplo, pela sobreposição de vasilhas nas deposições. Além disso, os vestígios revelam aspectos de gênero, nutrição e saúde das populações antigas.
As deposições funerárias representam um nível singular de leitura arqueológica, permitindo reconstruções mais detalhadas, e frequentemente mais precisas, dos contextos arqueológicos.
Entre os principais objetivos das intervenções estão: analisar as relações entre a estrutura funerária e a estratigrafia fina associada aos vestígios, investigando indícios de construção ou desconstrução intencional dos sepultamentos; estabelecer cronologias mais precisas por meio de datações que possibilitem compreender o uso e a arquitetura dos sítios; identificar indivíduos, fundamentais para estimativas de natalidade e crescimento populacional, ou, em sua ausência, reconhecer possíveis padrões culturais; registrar detalhadamente os componentes bioarqueológicos, como medições, alterações patológicas, ausências anatômicas, evidências avulsas e evidências tafonômicas, antes da remoção do solo; reconhecer elementos culturais associados aos remanescentes, incluindo artefatos, padrões espaciais, relações verticais e horizontais e indícios de movimentação de material; e realizar coletas oportunísticas e controladas, garantindo a integridade e o contexto das amostras antes do desmonte das estruturas.
O estudo propõe uma ressignificação dos testemunhos bioarqueológicos. As evidências passam a ser compreendidas como elementos-chave, capazes de orientar a leitura dos espaços e revelar tanto os gestos humanos envolvidos nos rituais funerários quanto os processos de transformação ao longo do tempo.
As ações contam com o apoio da Univates, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - FAPERGS, e reforçam o compromisso institucional com a pesquisa científica, a salvaguarda do patrimônio cultural e a resposta aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
