Um estudo realizado por Matheus Gerhardt Braun, diplomado do curso de Farmácia da Universidade do Vale do Taquari - Univates, investigou como as enchentes de novembro de 2023 influenciaram o aumento de casos de dengue no Rio Grande do Sul em 2024. A pesquisa, desenvolvida como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no formato de artigo científico, foi orientada pela professora Daniéli Gerhardt e revelou uma correlação entre os dois eventos.
Braun utilizou dados oficiais da vigilância epidemiológica e projeções baseadas na variação nacional de casos para estimar o comportamento esperado de dengue no Estado. Analisando as informações, o diplomado verificou que, nas semanas subsequentes às enchentes, o cenário manteve-se estável, apresentando baixa incidência de casos da doença. Isso pode ser explicado pelo impacto destrutivo das chuvas sobre o desenvolvimento de criadouros, ovos e larvas do Aedes aegypti - mosquito transmissor da dengue.
Ocorrida entre a terceira e a sexta semanas de 2024, a fase de reorganização ambiental pós-enchentes favoreceu o acúmulo de entulhos e depósitos de água parada. Isso estimulou a reconstrução gradativa dos habitats de proliferação do mosquito. Na sexta semana do ano, foram registrados até 21,65 casos de dengue por cem mil habitantes no Rio Grande do Sul - número superior aos 5,95 casos esperados para o período.
A explosão epidêmica de dengue no Estado ocorreu entre a nona e a décima sexta semanas após o evento climático extremo. No pico da epidemia, a taxa de incidência atingiu 182,29 casos por cem mil habitantes, superando os 113,09 casos esperados para aquele momento. A partir da décima sexta semana, os índices de casos começaram a diminuir gradativamente, embora tenham permanecido acima da curva projetada.
O estudo de Braun concluiu que as mudanças climáticas, a urbanização desordenada e a vulnerabilidade das populações expostas contribuem para moldar novos padrões epidemiológicos no Brasil. Diante disso, o diplomado sugere a criação de um planejamento intersetorial para a prevenção e resposta rápida em situações como a que afetou o Rio Grande do Sul em novembro de 2023.
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Enchentes de novembro de 2023
Em novembro de 2023, o Rio Grande do Sul vivenciou, pela segunda vez naquele ano, um evento climático extremo. O Estado foi atingido por enchentes que afetaram quase 700 mil pessoas. Duzentos e vinte e um municípios reportaram danos e prejuízos à infraestrutura, habitações e atividades econômicas.
As chuvas fortes de novembro de 2023 vieram acompanhadas de vendavais, enxurradas, inundações, soterramentos e uma microexplosão (intensa corrente de vento com poder destrutivo). Tudo isso se repetiu em maio de 2024, quando o Rio Grande do Sul enfrentou a maior catástrofe climática de sua história.
Os bastidores da pesquisa
No depoimento abaixo, Matheus detalha o processo de desenvolvimento da pesquisa, explicando por que decidiu focar seu estudo nas enchentes de novembro de 2023. Confira.
“Inicialmente, a proposta era abranger as duas enchentes. Contudo, em razão do período do ano em que ocorreu a segunda, caracterizado por uma redução significativa da temperatura, que atua como uma barreira biológica, observou-se uma diminuição expressiva no número de casos de dengue, aproximando-os dos valores registrados em anos anteriores.
O resultado da pesquisa evidencia a necessidade de intensificar as intervenções nos períodos mais quentes do ano, quando as condições ambientais favorecem a proliferação do vetor.” - Matheus Gerhardt Braun, diplomado do curso de Farmácia da Univates
