O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio crônico que afeta os desempenhos cognitivo, emocional e comportamental. É geralmente diagnosticado na infância, sendo as interações sociais e a comunicação os principais aspectos prejudicados. Com ampla prevalência entre as desordens neurológicas, atualmente não existem marcadores genéticos ou bioquímicos para o autismo e, até o momento, nenhum tipo de tratamento que reverta os sintomas em sua totalidade.
Josemar Marchezan, professor do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Univates, decidiu trabalhar com o tema em sua pós-graduação. Ele conta que iniciou os estudos sobre o Transtorno do Espectro Autista no mestrado, quando conduziu um ensaio clínico que apontou que o uso do peptídeo liberador de gastrina (peptídeo que estimula a secreção ácida no estômago) causa efeitos no sistema nervoso central que poderiam atenuar os sintomas do TEA em crianças com o transtorno.
Quando rumou para o doutorado, também realizado no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (PPGSCA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marchezan continuou as pesquisas sobre o autismo.
Os problemas imunológicos são uma característica presente em pacientes com TEA. Conforme observa o professor, é possível que a disfunção imune no autismo seja um caminho para ação farmacológica.
Na realização do estudo piloto conduzido pelo pesquisador para o desenvolvimento de sua tese, de forma inédita, foram ministradas doses de resveratrol (um polifenol presente, por exemplo, na casca da uva) a indivíduos com autismo. Trata-se de um estudo com relevância clínica, pois sugeriu que o resveratrol possa melhorar os sintomas do TEA em alguns pacientes, destaca. De acordo com Marchezan, a ingestão do polifenol foi segura e bem tolerada na faixa etária infantil com a qual conduziu o estudo, já que não havia outros estudos clínicos com seu uso na infância. Além disso, houve mudança na expressão de três marcadores moleculares relacionados a processos inflamatórios no plasma dos pacientes, o miR-124-3p, o miR-125a-5p e o miR-195-5p, o que reforça a necessidade da investigação desses microRNAs, tanto como biomarcadores no TEA como de sua ação na etiopatogenia da doença, explica o doutor.
Os resultados aos quais o professor chegou sugerem que é possível o uso de resveratrol (RSV) em crianças e, também, o efeito benéfico em relação aos sintomas do espectro autista. Novos ensaios clínicos serão conduzidos para confirmar o potencial terapêutico e a segurança do RSV em casos de TEA.
Conforme Marchezan, além desse primeiro projeto, um segundo está sendo encaminhado em paralelo, a partir de sua tese. É uma pesquisa que busca novos microRNAs relacionados ao TEA em humanos e em um modelo animal.
O trabalho foi orientado pelo professor doutor Rudimar dos Santos Riesgo e coorientado pela professora doutora Carmem Gottfried. A banca foi composta pelos professores doutores Lauro José Gregianini (Ufrgs), Josiane Ranzan (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) e Clarissa Aires Roza (Universidade de Santa Cruz e Universidade do Vale do Taquari).