Cantora brasileira e guitarrista dos Cranberries formam o projeto The Puro
Criador dos Cranberries em 1989, em Limerick, na Irlanda, Noel Hogan sofreu um baque quando Dolores O’Riordan, cantora de sua banda a partir do ano seguinte, morreu de repente, afogada na banheira de um quarto de hotel em Londres, em 2018. Chegava ao fim a banda a que ele tinha dedicado praticamente a vida inteira. As últimas gravações de Dolores com a banda seriam lançadas em 2019, no disco “In the end”, e, depois da promoção deste trabalho, Noel se viu sem um projeto.
– As pessoas me perguntam se eu tirei um tempo de folga, descansei, mas eu não gosto de folga, eu toco, componho o tempo todo – diz o músico de 50 anos, em conversa por Zoom de seu escritório/estúdio na Irlanda. – Perdi minha amiga e companheira de banda, foi um choque, depois finalizamos o disco e fomos promovê-lo. Ali pelo meio de 2019, eu não sabia exatamente o que fazer. Uma sugestão dos empresários de Noel foi que ele começasse a fazer música para outros artistas.
– Fui a Nashville, a Londres, encontrar pessoas para trabalhar, mas esse esquema de conhecer alguém e fazer uma música em uma tarde não é para mim – lamenta ele. – Voltei para casa e fiquei compondo e gravando as minhas coisas, além de trabalhar na trilha sonora de um documentário. Por sugestão de amigos, Noel ouviu, na internet, a versão da cantora brasileira Mell Peck para “Zombie”, um dos maiores sucessos dos Cranberries.
– Eu ouvi e pensei “uau!” – lembra ele. – Fui atrás de outras gravações dela (Mell tem um canal no YouTube com cerca de mais de 100 mil seguidores, em que grava principalmente covers de rock; sua versão de “Zombie” já foi vista mais de 36 milhões de vezes), gostei de tudo e pensei que poderíamos fazer algo juntos.
Naquela altura, a cantora, que desde os 14 anos se apresenta em bares e eventos, principalmente de Porto Alegre, onde vive, tinha decidido dar um tempo na carreira musical, para cuidar da filha recém-nascida.
– Eu tinha resolvido parar, guardar os equipamentos, não fazer mais aquilo – lembra ela. – Aí vi que Noel me seguia no Instagram, entramos em contato, e o trabalho começou. Depois de algumas trocas de mensagens, acordes e letras, os dois começaram a compor juntos, e Noel convidou Mell para ir à Irlanda passar alguns dias, para uma atividade que logo se tornaria rara: um trabalho presencial.
– Ela veio, nos conhecemos, começamos a adquirir a confiança que pessoas que fazem música juntas precisam ter… – lembra Noel. – E aí a pandemia chegou e interrompeu tudo. A saída foi uma parceria musical remota, com a ajuda da tecnologia. Por sorte, ele dominava os paranauês.
– Trabalho assim há muitos anos, pois Dolores foi morar no Canadá na década de 1990 – conta ele. – Sempre gravei minhas partes em casa e mandei para ela, que me enviava a voz de volta. Isso não foi o menor problema para mim. O mesmo não se pode dizer de Mell, pouco habituada às gravações remotas e ao idioma de Noel.
– Era estranho para mim gravar a minha voz crua e mandar para ele – admite ela. – No inglês, tive a ajuda de amigos e parentes que conhecem melhor a língua. ProTools pra cá, Google Translator pra lá, a dupla começou uma sequência de composições, que já começou a ser lançada para o público, com o nome The Puro. As músicas “Prison” (com versão também em português, “Prisão”) e “Com chaves” já estão disponíveis nas plataformas de streaming, e um disco inteiro está em vias de lançamento.
– Está uns 80% pronto – diz Noel. – Temos coisinhas para trabalhar em cada uma das músicas, mas eu sonho com um lançamento em setembro. Já estão programadas viagens de Mell para a Irlanda e de Noel para o Brasil, além das primeiras aparições na TV e nos palcos.
– Vamos nos apresentar em formato acústico, ou em trio, com um baterista amigo meu, Ben, e alguma ajuda de faixas pré-gravadas. Estamos ansiosos para que o público nos ouça.
