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Notícias

03 Junho de 2022

Zélia Duncan interliga os fios das memórias musicais em livro encantador

Resenha de livro
 
Título: Benditas coisas que eu não sei – Músicas, memórias, nostalgias felizes
 
Autoria: Zélia Duncan
 
Edição: Agir
 
Cotação: * * * * *
 
Na adolescência, Zélia Duncan gostava de sofrer ouvindo música. Apagava a luz e se deixava levar pelo sentimento triste das canções. “E toda tristeza musical do mundo era só minha”, relembra Zélia, na página 30 do primeiro livro da artista ativista, Benditas coisas que eu não sei – Músicas, memórias, nostalgias felizes, lançado neste mês de junho pela Editora Agir.
 
A confissão é feita com alegria no segundo dos 23 capítulos do livro, A musa música, e dá a pista do tom deste inventário de sentimentos expostos pela cantora, compositora – geralmente letrista – e instrumentista fluminense. E também escritora, ofício que já exercera oficialmente de 2015 a 2017, período em que escreveu crônica semanal no caderno de cultura do jornal O Globo.
 
Quem já leu um texto de Zélia sabe que a artista escreve muito bem, inclusive por escrever como se estivesse fazendo confidências a amigos na mesa de um bar ou na sala da própria casa.
 
Dentro do limite da intimidade consentida, Benditas coisas que eu não sei é livro revelador. Tudo que está confidenciado nas 240 páginas do livro quer revelar Zélia, como sentencia Fernanda Takai, sagaz, já na abertura do texto escrito para a contracapa.
 
Sem pisar no terreno lamacento da fofoca, Zélia expõe sensações, lembranças, impressões e reflexões sobre o mundo a partir da música. Sim, o livro é sobretudo sobre a musa música. Todos os fios da memória são puxados e interligados no livro a partir da experiência da autora com a música, seja como cantora – e quanta sensibilidade e revelação há no capítulo inicial, Primeira vez, sobre a estreia profissional de Zélia em 21 de maio de 1981 na Sala Funarte de Brasília! – seja como ouvinte ardorosa de Joni Mitchell e Elis Regina (1945 – 1982), entre diversas outras vozes.
 
Ao discorrer sobre a arte do canto, Zélia expõe tanto conhecimentos mais técnicos sobre as cordas vocais (pregas vocais, a rigor) – sem nunca cair no didatismo que afastaria leitores sem dom para o canto – como a noção certeira de que, mais vale um fio de voz que captura sentimentos e atenções, do que o malabarismo vocal de cantoras de vozes tão potentes quanto estéreis.
 
Cabe enfatizar que Benditas coisas que eu não sei é livro sobre música, não sobre Zélia, embora uma e outra estejam entrelaças ao longo da narrativa – como na vida. Vai se encantar com a narrativa somente quem cotidianamente professa a fé na deusa música e/ou quem faz dela a própria profissão, seja como criador, como cantor, como engenheiro de som, como DJ ou mesmo como crítico.
 
No mundo de Zélia Duncan, e de quem é devoto da deusa música, os sons deixam rastros, cheiros, impressões. Enfim, memórias que carregam vivências alegres ou tristes.
 
“Acredito que a música, em nosso cotidiano, seja oxigênio, não da forma como precisamos dele em 2020 e 2021, mas o oxigênio que nos mantém vivos quando nem pensamos no quanto precisamos disso em nossa constituição física”, resume a autora no capítulo derradeiro, Seria o fim?, deste livro que se abre como um relicário.
 
E, por isso mesmo, toda a arte de Flávia Pedras Soares contribui para que a edição física do livro tenha resultado aconchegante, como se o livro fosse o pequeno diário de uma vida humana marcada pela música, mas nunca uma autobiografia, ainda que salpique informações objetivas sobre a vida e obra da autora.
 
Ao repisar a trilha de 57 anos de vida a partir da música, Zélia Duncan recolhe do caminho emoções e lembranças afetivas que, expostas com incessante fluência nas páginas confessionais do livro-relicário, revelam como a artista percebe intimamente o mundo através dos sons que oxigenam a epiderme da alma.
 
E o fato é que, ao puxar e interligar os fios das memórias musicais, Zélia Duncan te pega pela palavra encantada.
 
 
Fonte: g1

 

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