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Notícias

09 Novembro de 2020

Isabela Morais – Do Absurdo

Por Ariana de Oliveira 
 
 
O amor é um grande precipício, a queda é logo ali, seja nos braços de alguém, seja no rio que nos afoga. Ninguém sai o mesmo depois do amor.
 
“Do Absurdo” é sobre o amor e suas mais absurdas formas. O primeiro trabalho solo de Isabela Morais foi gravado entre 2016 e 2018 em Três Pontas (MG), terra natal da moça, e em Pelotas (RS). Envolvida com música desde a infância, Isabela  que é envolvida com a música desde a infância. A mineira fez parte do Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd, grupo criado por Bruno Morais, seu irmão. Isabela também participou do disco “…E a gente sonhando”, de Milton Nascimento; e do tributo “De coisas que aprendi com Elis”.
 
 
 
 
 
Em uma mistura de MPB, Rock Progressivo e Choro e uma camada Pop, Do Absurdo é composto de 11 faixas muito bem produzidas e pensadas em cada detalhe. Azulejos dá início com uma sofisticada musicalidade que envolve em uma história sobre os detalhes do clichê de morrer de amor. Mas a vida é um grande clichê e o amor está em cada detalhe simples desta existência. E as coisas simples importam.
 
Não dançamos aquele blues
 
Nem naquele amor
 
De morrer tambores
 
Arrebentando peito
 
Morremos
 
Ontem reparei nos azulejos
 
Nos respingos de tinta verde
 
 
 
“Pela Redenção” traz gaita e um baixo marcado, é uma canção com climas diferentes que se comunicam como um engano que deu certo. É envolvente e linda. É o  enlace amoroso que vai e volta, o “eu quero mas saia daqui”.
 
Se no céu estava escrito
 
Que um dia eu ia vir
 
Para ver o seu sorriso
 
Para levar você daí
 
Segue adiante sem parar
 
Pelo menos uma vez
 
Segue o caminho sem olhar
 
Pro que um dia você fez
 
 
 
 
 
Delicada e saudosa Mi é a terceira faixa e canta a saudade do que foi vivido em pensamento, em memória criada a partir do desejo. Saudade dos beijos que eu não recebi. Em Mi, Isabela mostra toda doçura de sua voz, é pra se encantar como os olhos que abrem pra receber as gotas de Sol.  Esse verso traduz a faixa:
 
Milonga saudade de ti
 
 
 
“Limiar” tem um piano envolvente e uma bateria que dá estrutura à canção juntamente com Isabela explorando todo alcance vocal. É uma delícia ouvir ela cantar tais versos com um tom que lembra Elis. Limiar é sobre a pressa de ser feliz, urgência que nos cega para o efêmero agora. É uma canção que nos faz pensar o quanto projetamos nossos sentimentos aos outros e esquecemos de nós. E quem aí nunca achou mais fácil amar o outro do que a si mesmo? Os próprios demônios são mais difíceis de enfrentar. A quarta faixa encerra com esse derradeiro verso.
 
Você me disse que eu não tinha feito uma canção pra nós
 
Mas é que a nossa historia não tem jeito de cantar numa só voz.
 
 
 
Floydiana, “Para Sandra e Icauã” é faixa declamada por Isabela o canto vem com força daquele que não vai deixar sucumbir. Com elementos da música africana, a sexta música vem com a garra daquela que não se dá por vencida, vira bicho se preciso for, gastando suas sete vidas.
 
Meu amor eu não vou
 
Eu não vou não
 
Morrer
 
Embriagada
 
Desfalecida
 
Esfaqueada
 
Por essa tua palavra
 
Poesia que seja
 
Pedra fosforescente
 
Ou seja faca
 
Eu não vou morrer agora
 
 
 
Pra que acordar quando não há solução? “Valsinha” vem com isso, com esse canto de esperança e reconhecimento de que desde o parto do mundo, estamos sozinhos. Talvez essa seja a faixa que traz a atualidade do nosso isolamento e a necessidade de enfrentar os fantasmas mais traiçoeiros que alimentamos. Reflexiva e minimalista, Valsinha carrega em si um mantra daquilo que é primordial: o autocuidado.
 
“Over and Over” é uma balada tão gostosa que Isabela explora toda doçura de sua voz, letra que pega pelo pé e convida pra andar de bicicleta, é pra cantar e cantar várias e várias vezes. Uma coisa meio Rita Lee cantando Beatles, uma das joia deste álbum  e “Over and Over” e  “Ne Pas” são duas faixas sofisticadas tanto em letra quanto em musicalidade. Ne Pas traz esse verso cortante
 
Só o que é desejo pode ser e não estar
 
Quase que se perde o que se foi
 
No firmamento
 
Quase não se sabe quanto tempo vai durar
 
Quase se desmonta essa máquina do tempo
 
Sempre no meu
 
Sempre nunca mais
 
Ne pas
 
 
 
“Pra Marte” encaminha o fim deste trabalho detalhado, coeso e delicado. Penúltima canção é sobre a escalada que é o amor, é o choque dos amores, dos olhares, encantamentos e desencantamentos. Só poderia ser um choro.
 
Isabela Morais se apresenta com um sólido álbum de estreia que encerra com a faixa que dá nome ao disco. Com o tom etéreo e com guitarra  floydiana, Do Absurdo nos faz caminhar por um labirinto sentimental, onde cruzamos com os absurdos concretos. É a faixa mais reflexiva
 
Vertical
 
O dia nasce do absurdo
 
Um suspiro
 
E tarefa ja começa
 
Pra quê
 
Pergunta o passo no vazio
 
Pra nada
 
Responde a pedra
 
E isso é tudo
 
 
 
“Do Absurdo” traz o com muitos elementos musicais e poética o absurdo que é a grandiosidade dos amores, não apenas os românticos, mas as amarguras de amar, de se amar e de se deixar amar. É um velho dilema que perpassa inúmeros cabarés sentimentais. Amar é para fortes, se deixar amar também é.
 
 
 
Ouça primeiro: Pela Redenção e Do Absurdo.
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