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Notícias

12 Setembro de 2018

O mundo nunca terá um outro artista como Johnny Cash

 
John R. Cash nasceu em 26 de Fevereiro de 1932 na cidade de Kingsland, Arkansas, que em 2010 contava oficialmente com impactantes 447 habitantes.
 
Pouco sabiam as pessoas ao redor da casa da família Cash que dali surgiria um dos músicos mais importantes e influentes da história da música, o lendário Johnny Cash.
 
Hoje, dia 12 de Setembro de 2018, completam-se 15 anos desde que perdemos o cantor e compositor aos 71 anos de idade por conta de complicações relacionadas à diabetes.
 
Do início da carreira até a sua morte, Cash foi um músico verdadeiro e singular, que não tinha medo de expressar as suas convicções na arte que fazia, não se preocupou em agradar os anseios da indústria e chegou a sofrer com o ostracismo por causa disso, mas se reergueu de forma improvável.
 
Início da Carreira
 
A carreira de Johnny Cash começou em 1954 quando ele se mudou para Memphis e começou a tocar ao lado do guitarrista Luther Perkins e do baixista Marshall Grant, conhecidos como Tennessee Two.
 
O músico foi até o lendário estúdio da Sun Records onde apresentou canções gospel para o produtor Sam Phillips, que ouviu tudo apenas para dizer que não trabalhava mais com música gospel.
 
Quando Cash soube da “notícia”, apresentou seus próprios sons e ganhou o cara, gravando “Hey Porter” e “Cry! Cry! Cry!” como as suas duas primeiras canções na gravadora.
 
A partir daí as coisas começaram a andar rapidamente para o cara, que em 1956 lançou o clássico “I Walk The Line” e já começou a mostrar um lado que caracterizaria toda sua carreira: a facilidade com que suas músicas penetravam e se encaixavam em diferentes gêneros musicais.
 
Essa canção, assim como “Ring Of Fire”, chegou ao topo das paradas de Música Country e também no Top 20 das paradas de Música Pop, fazendo com que Johnny Cash se tornasse mestre do crossover, ao emplacar suas canções em diferentes áreas e, assim, multiplicar seu público de forma bastante interessante.

"Fora da Lei"

Durante boa parte de sua carreira Johnny Cash foi visto como a representação do “fora da lei”, o músico que vivia como queria e fazia as suas próprias regras.
 
Ao usar só roupas pretas por achar que elas eram mais fáceis de se manterem limpas, chegou a ganhar o apelido de “coveiro”, e seus hábitos com álcool e drogas só popularizavam a fama de que seu comportamento era imprevisível e, muitas vezes, explosivo.
 
Além disso, Cash nunca escondeu que se identificava com as minorias, com aqueles que sofreram na vida e com os que desviaram do caminho acabando nas prisões dos Estados Unidos, tanto que fez questão de gravar um disco [Live At San Quentin] na penitenciária de San Quentin, já que queria entoar seus hinos aos que ali estavam e raramente tinham acesso a qualquer tipo de entretenimento.
 
Outro lugar marcante na sua carreira foi a prisão de Folsom, que ele descobriu enquanto servia o exército em um filme. Os relatos em vídeo lhe inspiraram a escrever o hit “Folsom Prison Blues” e também o levaram a fazer um show e lançar um disco gravado lá.
 
Em 1967 ele chegou a ser preso no estado da Geórgia por estar com uma enorme quantidade de medicamentos controlados e se envolver em um acidente de carro. Cash chegou a tentar subornar o policial, que não aceitou o dinheiro, e passou a noite na cadeia em um episódio que depois disse ter mudado a sua vida: “eu comecei a tomar as pílulas e depois eram as pílulas que estavam me tomando.”

The Highwaymen

Outro ponto interessante da carreira de Johnny Cash foi quando ele se uniu a amigos talentosos para formar o supergrupo The Highwaymen.
 
Estavam ao seu lado ninguém mais, ninguém menos do que Waylon Jennings, Willie Nelson e Kris Kristofferson, e juntos eles lançaram três discos de estúdio de sucesso em 1985, 1990 e 1995.
 
A ligação de Cash com seus colegas foi tão próxima que, além da clara sintonia musical apresentada em discos e shows, quando foi visitar Waylon Jennings no hospital após o amigo ter passado por uma cirurgia no coração, Jennings recomendou que Johnny fizesse o mesmo para ver como estava.
 
O resultado foi uma cirurgia preventiva de ponte de safena onde Johnny teve lidar com duas questões que marcaram a sua vida: a primeira, dizendo que teve uma experiência de “quase morte” e a segunda de recusar os analgésicos, já que tinha medo de voltar a ficar dependente das drogas.

Mensagens e mais mensagens

Uma constante durante toda carreira de Johnny Cash foi o fato de que ele expressava o que pensava em suas canções e transmitia esse pensamento nas performances ao vivo.
 
Desde as letras sobre as minorias até as canções religiosas para falar da fé, passando pelo período em que defendeu a causa dos índios nativos dos Estados Unidos, Cash sempre colocou a alma e o coração na ponta da caneta ao escrever as suas canções e as lançou aos montes, sempre como verdadeiras cartas a respeito do que acreditava em diversas questões.
 
Entre outras coisas, isso acabou o levando ao ostracismo, já que durante boa parte dos anos 80 até o início dos anos 90 ele não conseguiu emplacar nenhum hit e foi dispensado pela Columbia Records, com quem tinha contrato desde 1960.

Quebra de Barreiras e a série American Recordings

Foi aí, porém, que o renascimento de Johnny Cash aconteceu de forma impecável.
 
Se o mundo do country já não dava mais bola pra ele e as gravadoras queriam um disco de sucesso que não vinha, a música alternativa passou a deixar claro que era fã de Johnny Cash e o próprio encontrou amigos e parceiros com quem poderia trabalhar nesse sentido para recuperar seu fôlego.
 
Em 1988, por exemplo, Marc Riley (The Fall) e Jon Langford (the Mekons), conhecidos pelo post-punk britânico, reuniram uma coletânea chamada ‘Til Things Are Brighter, com bandas britânicas de rock alternativo gravando canções do cara.

As bandas de punk começaram a citar Johnny Cash como influência em suas entrevistas e o rock mainstream também estava de olho no talento do músico, tanto que em 1993 o U2 o convidou para cantar em “The Wanderer”, do álbum Zooropa.
 
Quem viu uma baita oportunidade de realizar grandes trabalhos foi o mega produtor Rick Rubin, que havia acabado de renomear sua lendária gravadora Def American (antes Def Jam), voltada ao rock e ao hip hop, para American Recordings.

Johnny Cash aceitou o contrato e gravou a primeira edição da série American Recordings, que se tornaria um marco na sua carreira e também seus últimos trabalhos.
 
No primeiro disco, lançado em 1994, ele gravou tudo sozinho em um quarto, sob a supervisão de Rick Rubin, e aceitou a sugestão de que passasse a interpretar canções de outros estilos, já que tinha abertura em tantos deles.
 
Vieram então covers de Tom Waits, Leonard Cohen, Nick Lowe e até mesmo Glenn Danzig, conhecido pelos Misfits, com uma versão de “Thirteen”.
 
A abordagem vocal única e a colisão de dois mundos cheios de talento foi muitíssimo bem recebida por público e crítica e dali vieram os outros discos da série American, com Unchained (1996), Solitary Man (2000), The Man Comes Around (2002) e os póstumos A Hundred Highways, (2006) e Ain’t No Grave (2010).
 
Em todos esses discos aparecem covers das mais variadas de artistas como Soundgarden, Beck, Tom Petty, Depeche Mode, U2, Paul Simon, Sting e, talvez a mais marcante delas, de Nine Inch Nails.
 
Foi com “Hurt”, escrita por Trent Reznor e lançada no disco The Downward Spiral (1995), que Johnny Cash se despediu de todos nós com uma confissão que de forma surreal parecia ter sido escrita por ele, sendo que o clipe lançado para acompanhar a faixa e a proximidade de sua morte deixou tudo ainda mais impactante.
 
 
Morte
 
Em 12 de Setembro de 2003 Johnny Cash nos deixou menos de quatro meses após a morte de sua esposa, June Carter Cash, e as pessoas próximas ao cara garantem que a passagem da sua companheira teve muito a ver com a deterioração da sua saúde.
 
Em seu último show, ele falou bastante a respeito dela e era visível como Johnny estava em um estado onde parecia muito mais querer deixar esse mundo para encontrar a amada do que continuar por aqui sentindo a falta dela.
 
Hoje os dois estão enterrados lado a lado na cidade de Hendersonville, subúrbio de Nashville, onde passarão o resto da eternidade.
 
Johnny Cash
 
É difícil pensar que nos dias de hoje nós teremos um artista com uma carreira tão duradoura, 56 discos de estúdio, 9 álbuns ao vivo e mais de 100 compilações, sempre transmitindo a mensagem que acredita sem se importar com a indústria.
 
Ao mesmo tempo que seu comportamento era imprevisível, Johnny Cash também era adorável e honesto, transmitindo coisas boas às pessoas que estavam ao seu redor e transmitindo mensagens que influenciaram punks, rappers, fãs de música popular e, é claro, quem viveu o meio do country.
 
Um artista tão talentoso, tão completo e que agrade tantas vertentes diferentes da música é impossível de se imaginar no dia de hoje, e talvez nós tenhamos testemunhado um verdadeiro fenômeno da natureza enquanto tivemos a oportunidade de ver Johnny Cash compondo, gravando e se apresentando por aí.

 

Fonte: TMDQA!

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