“Amo o Brasil” foi a primeira coisa que Albert Hammond, Jr. disse ao Monkeybuzz por telefone, ainda na fase do “oi”. Já tendo passado pelo país algumas vezes, tanto com a carreira solo quanto com The Strokes, o guitarrista afirma, antes da ligação acabar, que planeja mais shows por aqui para mostrar seu mais recente lançamento, Francis Trouble.
Nesta sua nova fase, trabalhando as músicas desse que é seu quarto álbum, o músico foi inspirado por uma triste história da sua família - um irmão que já nasceu morto (o tal Francis do título) - para criar um alter ego que canta suas novas composições. Ele conta na entrevista um pouco mais sobre a produção do disco, assim como o momento em que está da carreira.
Uma das características que mais chamam atenção em Francis Trouble é como sua temática é complexa, mas as músicas são divertidas, é um disco leve. Como foram as escolhas para esse clima na obra?
Albert Hammond, Jr.: Acho que o mais complexo para mim era entender como fazer esse alter ego nascer, que ele não fosse dark, mas um personagem mesmo. Uma coisa meio David Bowie vindo do espaço, ou um super herói dos quadrinhos, não sei, mas alguém que estava no ventre todo esse tempo e ganhou vida agora. Sempre gostei de camadas assim. Todas as minhas bandas favoritas sabem divertir, mas ainda têm uma profundidade na música. Gosto dessa dualidade, acho que ela existe na vida.
Não é difícil imaginar que citar “aborto espontâneo” ou mesmo “morte” traga tensão ao ouvinte. Você pensa que lidar com isso seja mais fácil para você hoje, com sua experiência de estúdio e de palco, do que seria há dez, ou quinze anos?
Albert: Eu não diria “mais fácil”, porque há muitos desafios constantemente, mas rola você ter um ponto de referência para chegar aonde você sabe que consegue chegar. Faz parte da criação tanto o acreditar que você consegue quanto uma imensa descrença (risos), são altos e baixos do mesmo processo. Mas precisei fazer três álbuns e um EP para sentir que agora posso ser quem eu quero no palco, quem eu quero representar quando toco a música que eu faço. É interessante notar como isso acontece.
É perceptível como você evoluiu também enquanto vocalista neste álbum, como sua interpretação varia de faixa para faixa. Isso foi algo que você também se propôs a fazer como desafio?
Albert: Hmm acho que a gente sempre faz as coisas no limite da nossa capacidade (risos), se algo parecer muito realizável, a gente dá um empurrãozinho a mais. Acho que eu sabia que estava me desafiando vocalmente, tentando ir a novos lugares. Era algo que eu queria fazer, porque não rolou no disco anterior. Às vezes, eu lanço um trabalho e depois penso “ah, eu deveria ter feito mais isso ou aquilo”. Dessa vez, eu quis me certificar que, à medida que as músicas se desenvolviam, eu exigia mais de mim também. A questão é que você nunca sabe como essas coisas vão ser até terminar a gravação. Mas sim, eu me forcei a explorar novas dinâmicas no palco, tentando desenvolver naturalmente essa persona, daí as coisas saíram de formas diferentes também no estúdio, sabe?
Você consegue perceber se, ou como, seu trabalho solo impacta o que faz com The Strokes?
Albert: Eu imagino que tudo o que você faz que te alimenta enquanto pessoa, todos os seus hobbies, ou o seu tempo sozinho, tudo te ajuda a crescer. Você não pensa nisso enquanto está criando, mas eu imagino que tenha impacto sim. Você tem que separar categorias diferentes: Você precisa de tempo sozinho, tempo com seus amigos, tempo com as pessoas que você ama, tempo com cônjuge, tempo com hobbies, tempo com o trabalho. Acho que, quando você é novo, você tende a se dedicar a apenas uma coisa e ela logo te limita criativamente.
Em que momento na sua carreira com The Strokes você percebeu que também trabalharia uma carreira solo?
Albert: Então, não foi bem assim. Acho que eu sempre compus e toquei guitarra, aí acabei entrando em uma banda com pessoas que eu gosto. Eu só tocava, mais nada, e percebi com o tempo que não ia crescer como compositor se só gravasse demos em casa. Decidi que eu precisava terminar essas músicas para poder seguir em frente. Meu primeiro disco foi isso, eu tentando sair da minha zona de conforto, mesmo gravando em casa. Pro segundo, eu quis me distanciar da imagem que as pessoas estavam tendo de mim, de singer songwriter, aquele cara com o violão. O EP foi o começo de uma nova fase, em que eu me apaixonei por música novamente. Eu estava no começo dos meus 30 anos, aí veio também o terceiro álbum. Este novo é uma combinação de tudo isso, de entender quem eu sou. Só agora eu tenho certeza do que quero fazer. Começou com uma ideia de “o que o guitarrista pode fazer sem sua banda?” e eu quis quebrar essa percepção.
Você mencionou se apaixonar por música novamente. Eu imagino que sua relação com a música mudou muito desde que você começou a trabalhar com isso.
Albert: Nossa, muito. É muito louco. E tem mesmo que mudar, porque começa como sua maior crença no mundo, mesmo sem você ter a menor habilidade (risos). Você precisa voltar ao começo e reaprender as coisas se você quer seguir melhorando. Mas é muito louco no começo, porque você mergulha no desconhecido, é preciso acreditar cegamente no que está fazendo, porque tem muita gente te falando “não, não vai dar certo”. Eu ouvi isso desde que era moleque, “que que você vai fazer tocando guitarra?” (risos). Mas nossas noções de sucesso… A gente só está aqui uma vez, sabe? A gente não está vivendo um ensaio par poder fazer melhor depois. Música era o que eu gostava de fazer, e faria ganhando dinheiro ou não. Era com isso que eu me conectava, não com outras coisas. Era o sentido da minha vida (risos), o que era bom e ruim ao mesmo tempo, porque me quebrou anos depois. Se o sentido da sua vida for seu trabalho… você vai acabar se sentindo vazio às vezes.
Sei que é uma pergunta clichê, mas, já que estamos nesse assunto, que conselho você daria para você mesmo se pudesse voltar no tempo?
Albert: Não sei, é sempre difícil fazer um jovem ouvir o que você tem a dizer (risos). Mas acho que, se eu pudesse voltar no tempo, eu treinaria mais. Eu sou meio lerdo pra aprender, levo muito tempo pra entender as coisas, seja na hora de compor ou de tocar. Se eu pudesse, explicaria isso para meu “eu” mais novo, para que, assim, eu não me cobrasse tanto. Porque passei muito tempo me sentindo mal por não sacar tão rápido como os outros. Mas a vida é assim, a gente não consegue estabelecer pontos de referência até você ter essas experiências. Se eu dissesse isso para alguém, a pessoa não conheceria seus limites, então poderia não entender. Por isso, mesmo hipoteticamente, é difícil afirmar alguma coisa… mas sim, eu diria isso (risos).
E conta mais da sua relação com o Brasil. Você já esteve aqui algumas vezes, tanto solo quanto com The Strokes. Como é sua experiência com o país?
Albert: Ah, sempre me divirto muito no Brasil, nunca teve uma vez que eu chegasse em São Paulo e não curtisse muito. Você ouve a língua, assim que chega, e sabe que vai ser bom (risos), o ritmo da língua é muito bonito, é tudo muito especial.