Poucas vezes a empatia ou a importância do respeito às diferenças foi abordada de forma tão inteligente e delicada como no ótimo A Forma da Água (The Shape Of Water) - o grande campeão em indicações (são 13) e um dos favoritos para a estatueta principal na noite do Oscar. A obra é uma verdadeira ode aos desajustados, capaz de transformar uma criatura "meio anfíbio meio homem" (Doug Jones) na metáfora perfeita para as minorias ou mesmo para aquele sujeito que vive a margem da sociedade e que deve conviver em um mundo cheio de ódio, de preconceito e de intolerância. Sim, por trás da tocante história da faxineira muda Elisa (Sally Hawkins), que conhece e se apaixona pela criatura já citada, há a comprovação do cinema como força motriz para diálogos muito mais profundos do que aqueles que estão na superfície - com o perdão do trocadilho.
A trama retorna aos anos 60, época em que, em meio à Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética medem forças a partir de qualquer evento. Nesse contexto, Elisa atua como uma espécie de zeladora em um laboratório experimental secreto do Governo americano, local que recebe o fantástico ser que é capturado, como não poderia deixar de ser, em meio aos rios da Floresta Amazônica. Com acesso a sala em que a criatura é mantida presa - ela limpa o ambiente diariamente, em companhia da colega de turno Zelda (a sempre ótima Octavia Spencer) - Elisa estabelece uma espécie de amizade com o ser, em meio a olhares silenciosos, gestos contidos (e muita dieta a base de ovo). Só que o acesso ao local também tem o ônus, quando Elisa percebe que o prisioneiro é maltratado pelo agente Strickland (Michael Shannon em modo "sou fascista votante do Bolsomito"), que quer a morte deste para que seu corpo possa ser dissecado e estudado.