Formada em Los Angeles no ano de 1983, a hoje veterana banda Red Hot Chili Peppers ficou famosa pelo ritmo único que produzia: um rock apoiado no frenético contrabaixo de Flea e nos enérgicos vocais de Anthony Kiedis, que muitas vezes se aproximam do hip-hop. Ainda que busque traços renovadores, a fórmula consagrada não sofre grandes modificações em The Getaway, novo disco dos americanos. A faixa que abre e nomeia o disco é a prova disso: uma linha de baixo marcante e uma guitarra conduzem a canção de maneira harmoniosa, o mesmo que acontece em tantos outros clássicos do quarteto, como Snow (Hey Oh).
No single Dark Necessities, o grupo flerta com o funk, uma de suas maiores influências, com Flea levando a canção com suas competentes quatro cordas enquanto Josh Klinghoffer o acompanha com um riff suave. O guitarrista inclusive vai bem e mostra segurança em solos como nos da melódica The Longest Wave, da agitada Goodbye Angels e de Sick Love, faixa recheada de sintetizadores. O funk volta em Go Robot, canção na qual Flea prova mais uma vez que a maneira ímpar com que toca seu instrumento é o grande trunfo do Red Hot. A faixa, como sugere o nome, tem uma ótima pegada robótica-eletrônica. O hip-hop, como em toda a carreira da banda, também dá as caras no disco, em músicas como We Turn Red, que alterna versos suaves, cantados por Kiedis como se levasse um bom rap rock mesmo caso de Detroit, que ainda conta com uma pegada mais roqueira, pendendo para o blues. No geral, o Red Hot deixa claro que quer se renovar, mas em muitas canções acaba repetindo fórmulas do passado.
As maiores surpresas estão guardadas para o fim do disco. Encore mostra criatividade com a banda se arriscando em uma faixa nostálgica e melódica, que dá muito certo um dos destaques do álbum. A música inclusive entrega a fonte de inspiração do quarteto: “Listen to the Beatles” (Ouça os Beatles), canta Kiedis. Já Dreams of a Samurai é vibrante do começo ao fim, misturando características essenciais do grupo, como a forte influência do rap, com uma deliciosa levada psicodélica. O Red Hot ainda não conseguiu se renovar completamente, mas está no caminho certo, e The Getaway mostra que podemos esperar bons resultados dos americanos. (Henrique Castro Barbosa)
Fonte: Veja