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Notícias

24 Setembro de 2015

Crítica: Documentário sobre amy expõe as mazelas da cantora

Leia a crítica do documentário! 

“Eu não quero ser famosa. Tenho certeza de que não aguentaria a pressão”, prevê a jovem Amy Jade Winehouse, no auge de seus 20 anos, enquanto faz uma jogada digna de um profissional em uma mesa de bilhar. O autor das imagens é Nick Shymansky, à época empresário e amigo de Amy. Ele registrou de forma bem humorada a primeira turnê da jovem artista, que em pouco tempo se tornaria um dos nomes mais importantes da música mundial.

 
Os vídeos caseiros de Shymansky permeiam de ponta a ponta o documentário Amy, que tem direção de Asif Kapadia – o mesmo que comandou Senna -, e chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 24, com duas exibições gratuitas no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Entre materiais (realmente) inéditos e depoimentos de amigos e familiares, o que mais salta aos olhos durante o longa são as declarações da própria artista a respeito de seus medos e demônios.
 
O filme não se prende aos detalhes sobre a infância de Amy. A obra começa com imagens da estrela aos 14 anos de idade se divertindo em uma festa de aniversário com as amigas Juliette Ashby e Lauren Gilbert. Ao lado de Shymansky, a dupla é figura central na narrativa que propõe desvendar como Amy Winehouse foi do posto de nova sensação da música ao fundo do poço em pouquíssimo tempo. As opiniões dos amigos mais íntimos dão ao filme uma nova visão a respeito da família Winehouse, do casamento com Blake Fielder-Civil e decretam uma triste verdade: Amy Winehouse teve pouquíssimas pessoas em quem confiar.
 
O documentário Amy elucida – algumas vezes de maneira chocante – as questões que insistem em visitar a cabeça de todos nós: por qual motivo não houve uma intervenção? Amy recusava qualquer tipo de tratamento? Partindo do pressuposto de que ela estava fora de controle e correndo risco de morte, Amy não poderia ter sido internada contra a própria vontade? Quem eram os responsáveis por colocá-la embriagada no palco diante de uma multidão? A quem interessava tamanha exposição das mazelas de uma dependente química? 
 
As respostas estão nas entrelinhas amarradas com maestria por Kapadia. Em um dos momentos mais emocionantes do longa, Juliette Ashby conta aos prantos um episódio no qual roubou o passaporte da amiga para que ela não saísse em turnê. “Era o auge de Back To Black e Amy estava afundada nas drogas e no álcool. Ela teve uma overdose e foi se recuperar em um hotel. Em uma de nossas muitas conversas ela me disse que estava perdida e que não poderia sair em turnê pela América do Norte. Amy não queria fazer aquilo. Eu conversei com Mitch, mas ele aceitou e me disse que ela iria de qualquer forma. Eu tentei roubar o passaporte dela para que não a obrigassem a fazer aquilo, mas não deu certo. Amy não queria mais fazer shows”, explica.
 
Durante uma viagem de Mitch à ilha de Santa Lúcia, no Caribe, para visitar a filha, que tentava se livrar do vício em cocaína, heroína e crack, ele aparece com uma enorme equipe de vídeo que registra cada passo ao lado de Amy: do momento em que ele chegar ao hotel até uma discussão causada pela falta de privacidade. "Você quer dinheiro, pai? Eu te dou", afirma Amy, antes de acrescentar: "Todas as vezes em que nós nos encontramos você aparece com essa equipe. Qual o intuito disso? Eu estava com saudades e queria apenas a sua presença. Você quer me transformar em um produto". Naquele momento fica evidente que Mitch tentava tirar vantagens da fama da filha a qualquer custo.
 
As cenas que mostram a cantora ao lado seu então marido, Blake Fielder-Civil, também reforçam a ideia de que Amy estava apaixonada por alguém que não correspondia ao amor de forma tão sincera. Enquanto ela dá uma entrevista à uma jornalista da Rolling Stone EUA, horas após o casamento deles, Fielder-Civil é filmado por um amigo fazendo piadas nada elogiosas sobre a sua mulher, pede uma garrafa de Dom Pérignon e afirma de forma sarcástica: “É ela quem vai pagar a conta”.
 
“É óbvio que ele estava se aproveitando do estado de saúde dela para não perder a mamata”, conta uma das muitas médicas que tentaram levar Amy à reabilitação. Em outro momento, também em uma gravação caseira feita em uma clínica, Fielder-Civil diz: “Amy, como é mesmo a letra do seu maior hit? Diz-me o que é que nós estamos fazendo aqui?”. A passagem do casal pela reabilitação durou menos de 24 horas.
 
Enquanto o espectador acompanha inconformado tais registros, surgem outras questões: Amy Winehouse sofria de bulimia desde a adolescência. “Um belo dia ela me disse o seguinte: ‘Mãe, estou fazendo uma dieta. Eu como o que quero e depois boto tudo para fora’. Eu achei que isso passaria um dia, mas não foi bem assim”, conta Janis, em um dos poucos momentos em que aparece no documentário.
 
m dois momentos: antes e depois do vício. A primeira parte, mais leve, contém inúmeros vídeos de uma estrela em ascensão, jovem e talentosa, que não quer ser conhecida por sua aparência, mas lembrada por sua voz e composições. Em um segundo plano há uma personalidade igualmente talentosa, mas completamente autodestrutiva. Uma pessoa sozinha, desorientada e perdida. Sem saber lidar com a fama, com os vícios, com o dinheiro e, principalmente, com o principal combustível de sua obra: o amor.
 
Entre os traumas psicológicos herdados após a separação dos pais na infância e a pressão dos fotógrafos que registravam cada passo da vida da artista, Amy reforça a ideia de que o descaso da família e os abusos do marido são alguns dos motivos pelos quais perdemos de forma previsível um dos maiores talentos da nossa geração. Outro fator determinante é o público, que consumiu de forma voraz cada vídeo de Amy drogada brigando com os paparazzi ou vagando praticamente inconsciente pelas ruas de Camden, em Londres. Os culpados de Kapadia somos todos nós. Que pressionamos por um novo disco e por apresentações ao vivo. Todos queríamos um pedaço de Amy Winehouse, mas ela nunca esteve preparada para isso.
 
Assista o trailer aqui 
 
Fonte: Revista Rolling Stone Brasil
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