Marlon Dalmoro

Natália Bottoni

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

A compreensão dos processos de formação de mercados tem sido almejada por diferentes áreas de estudo, inclusive dentro do campo de conhecimento em marketing. Estudos recentes apontam que não só as empresas são responsáveis pela (trans)formação de mercados. Esse processo envolve múltiplos atores, que por meio de esforços coletivos são capazes de transformar os mercados. Contudo, enquanto estudos prévios bem destacam o esforço individual e coletivo de múltiplos atores na transformação dos mercados, pouco se sabe sobre a efetividades deste esforço coletivo em construir novos arranjos de mercados, capazes de incorporar lógicas institucionais distintas daqueles predominantes nos mercados hegemônicos. A construção de mercados alternativos se torna ainda mais relevantes na busca por arranjos agroalimentares mais sustentáveis. A multiplicidade de significados e práticas que constituem esse mercado dificulta a constituição de arranjos de mercados reconhecidos como mais sustentáveis, especialmente por envolver uma reconfiguração e legitimação de uma forma alternativa de compreender, produzir, comercializar e consumir alimentos e o própria organização dos arranjos de troca de alimentos. Assim, a compreensão das dinâmicas de construção de mercados agroalimentares mais sustentáveis envolvem reconhecer a formação de quadros institucionais acerca dos alimentos e o desempenho dos atores na configuração desses quadros na forma de arranjo de mercado. Tomando a perspectiva da agroecologia como um modelo agroalimentar mais sustentável, o presente projeto almeja: analisar como esforços institucionais de múltiplos atores resultam na construção efetiva dos arranjos do mercado de alimentos agroecológicos. Em particular busca-se: a) descrever os atores que atuam na formação dos quadros institucionais da agroecologia; b) identificar como esses atores se organizam de forma coletiva e institucionalizada na configuração de práticas de mercado, e; c) analisar as práticas desempenhadas pelos atores na construção dos arranjos socio-materiais de mercado e a capacidade destas práticas em reproduzirem os quadros institucionais da agroecologia na constituição de um mercado de alimentos alternativo e mais sustentável. Para a sua operacionalização empírica, o estudo pretende abordar de forma interpretativa e qualitativa o contexto de produção e comercialização de alimentos agroecológicos no Rio Grande do Sul. Seguindo os indicativos de um estudo etnográfico, o trabalho de campo envolverá imersão multilocalizada, buscando acompanhar diferentes espaços nos quais atores distintos desempenham práticas com intuito de transferir os quadros institucionais da agroecologia para os mercados. A coleta de dados fará uso de observação participante e entrevistas com produtores, entidades governamentais e não-governamentais e consumidores que possuem algum envolvimento com produção, suporte a produção e comercialização e consumo de alimentos de base agroecológica. Com isso, o projeto almeja gerar contribuições teóricas em frentes distintas: (1) contribuir com um debate teórico-conceitual acerca das dinâmicas de construção de mercados e (2) construir com uma compreensão teórico-prática acerca da construção de mercado de alimentos mais sustentáveis. As implicações do projeto reverberam tanto no campo de estudos dos mercados quanto no desenvolvimento de políticas públicas e na ação institucional capazes de fomentar mercados agroalimentares mais justos e sustentáveis, conferindo uma alternativa aos mercados agroalimentares hegemônicos e restritamente orientadas para a geração de valor econômico.

Marlon Dalmoro

Natália Bottoni

A partir do reconhecimento que as bases culturais dos atores orientam as suas práticas e a construção de arranjos materiais e institucionais, este projeto tem como objetivo analisar como as práticas culturais de diferentes atores impactam nas dinâmicas de construção de mercado alternativos. Especificamente, o projeto será desenvolvido a partir de três questões norteadoras: a) Como a procura por alimentos orgânicos vem reconfigurando as práticas ligadas à produção e consumo, como estas interagem entre si, formando novos arranjos materiais e institucionais, novos conjuntos de práticas? b) De que forma a construção de novos arranjos materiais e institucionais entre produção e consumo de alimentos contribui nas dinâmicas de construção de mercados alternativos? e c) Quem são os atores sociais importantes, qual o papel deles, e como se articulam entre si na construção de mercados para alimentos orgânicos? Para a sua operacionalização empírica, o estudo pretende abordar de forma interpretativa e qualitativa circuitos curtos de produção, comercialização e consumo de alimentos orgânicos. A coleta de dados se dará junto a produtores rurais, entidades responsáveis pelo apoio técnico e consumidores. Para isso será feito uso de entrevistas e registros videográficos, visando assim capturar com densidade todas as nuances do fenômeno numa perspectiva cultural. Com isto, o projeto almeja gerar contribuições teóricas em frentes distintas: (1) contribuir com um debate contemporâneo que aproxima estudos de marketing com a descrição de modelos agroalimentares alternativos, capazes de promover formas de produção e comércio de alimentos mais justos e sustentáveis; (2) construir uma compreensão teórica acerca da construção de mercados alternativos, dos atores e dos arranjos que lhe dão forma. Em termos de contribuição prática e aplicada, os resultados servem de suporte para o desenvolvimento de políticas públicas de fomento aos mercados agroalimentares mais justos e sustentáveis, conferindo uma alternativa as cadeias longas e restritamente orientadas para a geração de valor econômico que predominam nos mercados agroalimentares.