A linguagem neutra, também conhecida como linguagem não binária (LNB), tem sido cada vez mais discutida na sociedade. Ela é uma alternativa para incluir na linguaguem não só pessoas que se identificam com o sexo masculino ou feminino, mas também pessoas não binárias. A formanda Letícia Leidens Kunzler, em seu Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Letras da Universidade do Vale do Taquari - Univates, realizou análise da linguagem não binária na série Sex Education. O trabalho foi orientado pela professora Dra. Kári Lúcia Forneck.
No artigo Elu, ile, ilu e el: uma análise da linguagem não binária na série Sex Education, a formanda apresenta sua investigação de como a linguagem não binária é utilizada na terceira temporada da série da Netflix, em três formatos: no idioma original (inglês), em contraste com a versão legendada e a dublada em português.
Letícia conta que sempre gostou de estudar as relações entre língua e sociedade, analisando como uma influencia a outra, como a língua é moldada por quem a fala e como ela reflete a cultura de um lugar. A temática da linguagem não binária chamou sua atenção por ser um tema polêmico e bastante discutido atualmente, principalmente nas redes sociais.
A formanda revela que a série foi escolhida por ser uma produção com grande visibilidade e aceitação da crítica e também por tratar de temáticas LGBTQIAP+, como o gênero não binário, a partir da terceira temporada. Em seu trabalho, Letícia analisou as teorias que descrevem a linguagem não binária e a relação entre língua e sociedade.
Na segunda etapa do estudo, a exploração do material se deu levando em conta a terceira temporada da série, observando mais atentamente as cenas em que as personagens não binárias aparecem ou são mencionadas. A partir dessa verificação, foram analisados os momentos em que a LNB é usada no idioma original (inglês), nas legendas e na dublagem em português.
Veja os resultados
Letícia verificou que, apesar de ser uma série que se propõe a pôr em cena a temática do gênero não binário, não ocorreram muitas expressões desse gênero por meio da língua.
A partir da metodologia utilizada, foram encontradas ocorrências da LNB em quatro dos oito episódios, e nem sempre os três formatos apresentaram a LNB ao mesmo tempo, mesmo quando possível e sem restrições pelo sistema da língua.
Também observou que apenas um dos casos em que a LNB aparece somente nas legendas, e não aparece no áudio original, se deu por diferenças na estrutura gramatical das duas línguas, uma vez que na fala constava um adjetivo, o qual não possui gênero gramatical no inglês, mas no português sim. Nessa mesma fala, a dublagem optou por utilizar uma construção diferente que não necessitou usar a LNB.
A intenção de Letícia foi lançar mais elementos para essa discussão. A LNB é mais do que um fenômeno linguístico, é um movimento político e sociocultural, é uma forma de inclusão de grupos que buscam ter suas identidades reconhecidas por meio da língua. Portanto, acredito que discutir esse tema é um dos passos para melhor compreendê-lo em uma tentativa de inclusão de todas as identidades por meio de uma de suas formas mais significativas de expressão: a língua, conclui Letícia.