Você conhece a planta jaracatiá ou mamãozinho-do-mato? Sabia que ela é nativa do Brasil e possui potencial para uso na área alimentícia e da saúde?
Carla Bagnara
A Química Industrial Lilian de Fátima Ferreira da Silva aproveitou tais características da espécie Vasconcellea quercifolia, da mesma família do mamão, e investigou, como atividade paralela à sua pesquisa de mestrado em Biotecnologia na Univates, a potencialidade antitumoral da planta.
A pesquisa desenvolvida por Lilian, sob orientação da doutora Elisete Maria de Freitas, é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da Universidade do Vale do Taquari - Univates. Conforme Lilian, trata-se de uma pesquisa preliminar, que identifica a possível potencialidade da espécie, conhecida como mamãozinho-do-mato, para tratamento de câncer.
Os resultados e o próximo passo
Divulgação
Para chegar a essas conclusões, a equipe do Laboratório de Botânica da Univates trabalhou em parceria com outros professores da Univates, doutor Eduardo Miranda Ethur e doutora Lucélia Hoehne, e com a professora doutora Alessandra Nejar Bruno do Instituto Federal de Porto Alegre (IFSul). Assim, Lilian realizou parte das práticas na Univates e outra parte, a análise antitumoral, no IFSul. Após coletar o látex da planta - substância branca e leitosa que escorre quando a planta sofre algum corte - e separar a fração de interesse, o material foi colocado em contato com células de câncer uterino e células de câncer de mama, que ficaram incubadas por 24 horas, período avaliado no estudo.
Lilian afirma que sua pesquisa foi apenas o primeiro passo da investigação da potencialidade antitumoral do látex de mamãozinho-do-mato. Agora é necessário que outros pesquisadores, por meio de parcerias, deem sequência ao estudo. A professora orientadora da pesquisa e coordenadora do Laboratório de Botânica da Univates, doutora Elisete Maria de Freitas, reafirma o caráter preliminar do estudo e destaca que essas pesquisas são como um pontapé inicial e salienta que não se deve passar a utilizar partes da planta ou o seu látex para o tratamento do câncer.
Por outro lado, precisamos passar a dar mais importância para as plantas que temos em nosso meio, em nossas florestas, pois elas podem ter várias utilidades. É preciso conhecer as espécies que compõem a biodiversidade regional e valorizá-las, para então explorá-las de forma sustentável, comenta Elisete.
Estudos com plantas nativas
Lucas George Wendt
Conforme a coordenadora Elisete, o Laboratório de Botânica da Univates, em paralelo com outros estudos, trabalha, em parceria com outros pesquisadores da Univates e de outras Instituições, com pesquisas que investigam as potencialidades de plantas nativas para usos no controle biológico de plantas invasoras, na indústria de alimentos e na área da saúde. Atualmente, na área da saúde, são três focos principais de investigação em andamento, utilizando plantas nativas: atividades antioxidante, antimicrobiana e antitumoral. As três principais espécies nativas estudadas são a bananinha-do-mato (Bromelia antiacantha), a amora-preta (Rubus sellowii) e o mamãozinho-do-mato (Vasconcellea quercifolia).
Trabalhamos com bioprospecção de espécies vegetais nativas. Ou seja, investigamos possibilidades para a exploração econômica, e sustentável, de diferentes plantas nativas, tanto para a produção de alimentos como para aplicação na área da saúde, ou ainda para o futuro desenvolvimento, a partir de extratos e óleos de plantas, de bioherbicidas para o controle de plantas invasoras, explica Elisete.
Os estudos realizados no Laboratório ocorrem em parceria com outras instituições e laboratórios e em conjunto com pesquisadores e alunos vinculados aos cursos de Ciências Biológicas e aos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) e em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS). O Laboratório de Botânica também integra os laboratórios do Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari, o Tecnovates.
Saiba mais: características de Vasconcellea quercifolia
Pertencente à família Caricaceae e popularmente conhecida como mamãozinho-do-mato ou jacaratiá, a espécie é nativa do Brasil e ocorre desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, podendo ser encontrada também em regiões tropicais e subtropicais da América Central, América do Sul e África. Sua ocorrência é em bordas de matas e capoeiras. É considerada uma Planta Alimentícia Não Convencional (Panc), ou seja, plantas nativas com potencial para uso na alimentação.
Conforme uso popular, a medula caulinar (centro do caule) ralada é utilizada em substituição ao coco no preparo de um doce, denominado doce-do-pau-ralado. Os frutos verdes, quando cozidos, podem substituir a batata-inglesa (Solanum tuberosum) em purês e saladas, enquanto os maduros podem substituir a abóbora (Cucurbita maxima) e as sementes maduras e secas podem ser utilizadas como pimenta-do-reino. A composição de seus frutos é rica em: amido, proteínas, lipídios, fibra alimentar, potássio e nitrogênio, explica Lilian. Dentre as proteínas, destaca-se a papaína que o Brasil importa para uso na indústria farmacêutica e de alimentos.