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Pesquisa revela visão de alunos concluintes sobre a escola através de fotografias

Postado as 2018-10-05 13:38:15

Por Amanda Cantú

O olhar de alunos concluintes do Ensino Médio e do Ensino Fundamental sobre a escola foi o objeto de estudo de um grupo de pesquisadores ligados ao Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates nos últimos três anos. Com o título “A escola e as novas configurações da contemporaneidade: a voz dos estudantes concluintes de Ensino Médio e Fundamental”, a pesquisa, que encerrou em janeiro de 2018, teve seus primeiros resultados apresentados em julho, durante evento no Canadá.

Conforme a coordenadora do projeto, professora Doutora Suzana Feldens Schwertner, o objetivo da pesquisa foi entender como os estudantes concluintes percebem as funções da escola atualmente e o que a instituição representa para eles. Ela acrescenta que a equipe iniciou o trabalho ainda em 2014, quando foi enviado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq) um projeto para solicitação de financiamento da pesquisa. Com a aprovação do edital em novembro do mesmo ano, o grupo pôde iniciar o estudo em 2015.

Com cerca de 15 profissionais, entre professores, bolsistas de mestrado, de graduação, iniciação científica e duas alunas de Ensino Médio, a equipe trabalhou por meio de discussões teóricas e metodológicas, além de realizar encontros de grupos focais com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio em duas escolas de Lajeado, uma pública e uma privada.

Ao todo, 115 estudantes participaram da atividade. Os pesquisadores foram divididos em duplas e trabalharam em grupos com 15 estudantes cada, ao longo de três meses, de forma anual. Cada grupo realizava quatro encontros, sendo nos dois primeiros momentos feita uma conversa com os estudantes sobre as funções da escola e como eles entendem a forma do educandário organizar os saberes. No terceiro momento, os estudantes produziram uma fotografia com legenda sobre a sua visão da escola e das funções da instituição. No quarto e último encontro, o grupo trabalhou a fotoelicitação, uma técnica que promove uma conversação a partir das imagens produzidas.

O estudo foi bem aceito pelos alunos, que demonstraram interesse em participar desde o início do projeto.

É comum fazermos esse processo com os professores, gestores ou pesquisadores da educação, mas dificilmente escutamos os estudantes. Nunca ninguém havia dado voz a eles. Eles querem falar e têm muito a nos ensinar sobre a sua escola, porque a vivenciam todos os dias
Suzana Schwertner

Suzana relata que a empolgação e a dedicação dos estudantes com a pesquisa surpreenderam não só os pesquisadores, mas também os professores e gestores das escolas. Conforme a pesquisadora, os alunos descreveram suas críticas e aspectos que gostariam de mudar nos educandários e também enfatizaram o poder da instituição em suas vidas, como espaço de aprendizado e de construção do coletivo por meio das amizades.

“Os jovens acreditam que a escola é um espaço para aprender com os outros e compartilhar conhecimento”, destaca Suzana. “Ver a escola a partir das lentes deles, dos atores da pesquisa, é muito mais interessante pois reforça o protagonismo deles, a sua sensibilidade visual e caminhos e situações dos quais nós professores muitas vezes não nos damos conta”.

Conforme Suzana, os resultados do estudo continuam sendo avaliados, mas já destacam aspectos como a diversificação em relação aos espaços de aprendizagem, o destaque da biblioteca e da leitura na vida dos alunos, o disciplinamento, a amizade e o senso de coletividade, o valor atribuído à figura do professor e a importância de es ste profissional se abrir para novas perspectivas de ensino, que permitam ao estudante uma atuação mais ativa na rotina de aula.

Após o encerramento da pesquisa, as fotografias produzidas pelos alunos foram organizadas em pequenas exposições nas escolas que participaram do estudo. Em breve, o material poderá ser visitado no Espaço Arte dos prédios da Univates.

Reconhecimento internacional

Durante os dias 15 e 22 de julho, a pesquisa da equipe do PPG Ensino foi apresentada no XIX ISA World Congress of Sociology, evento promovido pela Sociedade Internacional de Sociologia, no Canadá.

Conforme Suzana, responsável por apresentar o estudo no congresso, o evento é interdisciplinar e reuniu mais de cinco mil pesquisadores de diversas áreas e nacionalidades. A pesquisa foi apresentada em uma mesa redonda denominada "The Politics of Visual Pedagogy", formada por Suzana, pelas pesquisadoras Carolina Cambre (Concordia University, Canadá), Vered Heruti (Beit-Berl College, Israel), Ana Inés Heras (Instituto para la Inclusión Social, Argentina) e coordenada pela professora Edna Barromi Perlman (Kibbutz College of Education, Techonology and Arts, de Israel).

Para Suzana, a experiência em participar de um evento internacional desse porte é gratificante por destacar o trabalho realizado pela equipe da Univates no exterior, promover a troca de conhecimentos e experiências com profissionais de diversas partes do mundo, além  de possibilitar parcerias entre pesquisadores.

Em novembro, a pesquisa será apresentada no Congresso de Psicologia, Ciência e Profissão, em São Paulo. O evento, que ocorre a cada quatro anos, é coordenado pelo Conselho Federal de Psicologia e é considerado o maior da área no país.

Conforme Suzana, a partir dos resultados da pesquisa, um novo projeto deve surgir. “O objetivo agora será reunir a primeira turma que participou da pesquisa em 2015 e relatar sua trajetória após o Ensino Médio, questionando o que eles diriam para si mesmos quando estudantes há três anos”, explica.

Para Suzana, o estudo realizado pelo PPG Ensino tem importância não só para a educação, mas também para toda a sociedade, ao contribuir para uma articulação maior entre escolas e Universidade em busca de aprimorar a educação.

“Queremos trazer a escola para perto da Univates, possibilitar uma aproximação com os professores, para que eles venham participar, escrever e criar com a gente”, reforça. “Esta é a maior contribuição do pensar a escola hoje. Precisamos melhorar muita coisa, mas a escola continua sendo um espaço incrível de potência e é preciso dar voz aos alunos para que continuemos produzindo coisas ainda mais interessantes.”