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Pesquisa

Artigo de opinião: outra possibilidade de divulgação científica

Por Nicole Morás

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Menos comuns na área científica, os artigos de opinião, assim como os artigos originais, são produzidos com base em evidências e resultados de pesquisa, porém permitem que o pesquisador contribua com o seu ponto de vista em relação a assuntos controversos, interpretação de descobertas recentes e validade de métodos normalmente empregados.

De acordo com o professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da Univates Raul Sperotto, os artigos de opinião são produzidos com base em dados já publicados, o que os diferencia dos artigos científicos originais. “Os dados inéditos de uma pesquisa devem ser publicados em artigos originais. Os artigos de opinião são baseados em dados já disponíveis na literatura, são textos mais curtos cuja intenção é encorajar a discussão construtiva por parte da comunidade científica. Os artigos de opinião também são submetidos à avaliação por revisores especialistas da área e são pontuados pelo sistema Qualis da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes”, explica Sperotto.

Desta forma, o pesquisador e uma discente do PPGBiotec, Giseli Buffon, com a colaboração de pesquisadores de outras instituições (Universidade de Caxias do Sul e Universidade Federal de Santa Maria), publicaram recentemente dois artigos de opinião no periódico Frontiers in Plant Science (seção Plant Microbe Interactions), uma das principais revistas científicas da área de plantas (Qualis A1 em Biotecnologia, com índice de impacto 4,289). Os artigos fazem parte de uma edição especial que está sendo editorada por Sperotto e mais sete pesquisadores da Holanda, China, Grécia, Espanha, Austrália e Canadá. A participação de aproximadamente 190 pesquisadores de 24 países já está confirmada nesta edição especial da revista.

O primeiro artigo, intitulado “Checkmite!? Is the Resistance to Phytophagous Mites on Short and Stocky Wild Oryza Species?, apresenta dados sobre a relação entre dois hormônios vegetais, um deles envolvido com o crescimento da planta (Ácido Giberélico) e o outro envolvido com a defesa da planta (Ácido Jasmônico). “Geralmente as espécies selvagens de arroz possuem resistência a fatores de stress. No entanto, testamos duas dessas espécies selvagens para verificar se eram resistentes à infestação de um ácaro, e, para nossa surpresa, verificamos que elas eram mais sensíveis do que as espécies cultivadas hoje. Verificamos também que elas são plantas de alta estatura, e talvez a sensibilidade observada possa ser explicada por elevados níveis de ácido giberélico e baixos níveis de ácido jasmônico, uma vez que já se sabe que esses hormônios são antagonistas. 

Dessa forma, plantas altas investem mais em crescimento do que em defesa”, explica ele. O artigo de opinião publicado é baseado nesses dados e questiona se a resistência aos ácaros fitófagos poderia ser encontrada em espécies selvagens de arroz cujas plantas são de baixa estatura, uma vez que nessas plantas o ácido giberélico é produzido em menor quantidade, permitindo maior ação do ácido jasmônico, priorizando a defesa em relação ao crescimento.

O outro artigo é intitulado “Crops responses to mite infestation: it’s time to look at plant tolerance to meet the farmers’ needs” e propõe que as pesquisas na área de interação planta-praga considerem também os mecanismos de tolerância à praga, e não somente os mecanismos de resistência  “Muita gente confunde os termos resistência e tolerância. Algumas plantas conseguem manter a produtividade mesmo sendo atacadas, apresentando tolerância à praga. Outras plantas evitam o ataque da praga, sendo caracterizadas como resistentes. No nosso laboratório verificamos um cultivar de arroz que não apresenta resistência ao ácaro, mas mantém a produtividade mesmo em condição de alta infestação, ou seja, essa cultivar é tolerante ao ácaro”, explica Sperotto. O artigo apresenta a opinião dos autores em relação à importância de serem realizados mais estudos sobre a tolerância, “uma vez que, para o agricultor, a principal questão é a produção de sementes, e não o fato de as plantas serem atacadas ou não pelos ácaros”, avalia o pesquisador. Outra vantagem da análise de tolerância em relação à resistência é que os mecanismos de resistência são baseados em características da praga (população do ácaro, área de dano causado pela infestação etc.). Não é raro que os ácaros sofram um processo de seleção para que consigam ser mais efetivos do que as defesas da planta. Como a tolerância é focada somente em características da planta, é impossível que os ácaros sejam selecionados quanto a sua eficiência de infestação. Assim, a tolerância é uma estratégia de defesa mais duradoura que a resistência.

Saiba mais: artigos de opinião científica

Artigos de opinião científica apresentam algumas características específicas:

- não devem conter dados originais ou não publicados;

- o ponto de vista precisa ser baseado em evidências científicas;

- deve ter referência a outros estudos.

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