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Agricultores não associam uso inadequado de agrotóxicos ao seu estado de saúde

Postado em 10/01/2018 11h22min e atualizado em 10/01/2018 11h30min

Por Nicole Morás

Apesar de conhecerem os problemas que os agrotóxicos podem gerar ao meio ambiente e à sua saúde, os agricultores não relacionam o uso inadequado dos agrotóxicos ao seu estado de saúde. Esse foi o resultado de uma pesquisa desenvolvida pela diplomada em Ciências Biológicas Mônia Wahlbrink, sob orientação da doutora Claudete Rempel, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e ao PPG em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) da Univates, realizada com 130 agricultores do município de Imigrante, no Rio Grande do Sul.

Propriedade rural em Imigrante

Divulgação

Assessoria de Imprensa

Os dados foram obtidos a partir da resposta dos participantes a um questionário que abordava temáticas como o perfil do trabalhador, a utilização de agrotóxicos, a saúde, a segurança e a higiene do trabalhador. Os dados coletados apontaram que 93,8% dos respondentes eram homens e a maioria dos entrevistados possui Ensino Fundamental incompleto.

A maioria declarou que começou a trabalhar ainda na infância na propriedade, em média aos 12 anos de idade. Grande parte dos agricultores de Imigrante (89,2%) disse ter conhecimento sobre os riscos que o uso de agrotóxicos pode ocasionar e nenhum afirmou comer ou fumar durante a aplicação dos agrotóxicos.

Entre os entrevistados, 73,3% relataram ter sentido ao menos um sintoma de intoxicação por pesticida nos últimos seis meses, sendo o mais citado a dor de cabeça (70,2%), seguido por cansaço (52,1%) e dor no corpo (46,0%). Dos 73,3% que mencionaram ter sentido ao menos um dos sintomas, 17 agricultores (18,1%) acreditam que esses podem ter alguma relação com o uso de agrotóxicos.

Quando questionados se ao longo da vida já haviam sentido algum mal-estar por ter usado agrotóxicos, 54 agricultores (41,5%) responderam que sim, sendo a dor de cabeça novamente o sintoma de intoxicação mais citado (55,6%), seguido por enjoo (48,1%) e fraqueza (11,1%).

Dentre todos os agricultores participantes da pesquisa em Imigrante, 118 (90,8%) utilizam algum tipo de equipamento de proteção individual (EPI) no momento da aplicação do agrotóxico, enquanto 12 (9,2%) não utilizam nenhum tipo de EPI. Destes que utilizam EPIs, 95,0% usam botas, 93,3% usam roupa longa (calça e camisa de manga longa) e apenas 1,7% utiliza viseira.

De acordo com Mônia, de maneira geral, os resultados obtidos mostram que existe um quadro de exposição humana e ambiental aos agrotóxicos. “Grande parte dos agricultores afirma conhecer os riscos que essa exposição pode ocasionar, porém é notável o uso parcial dos EPIs, bem como a não leitura e a falta de compreensão do rótulo e da bula dos agrotóxicos pela maioria dos agricultores”, analisa ela, acrescentando que foi observado que quase metade dos entrevistados já sentiu algum sintoma de intoxicação.

O descarte inadequado das embalagens também é uma preocupação constante em relação à atividade agrícola, pois contribui para a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, podendo expor parte da população aos efeitos desses compostos.

A orientadora da pesquisa, professora Claudete, destaca que os dados mostram que os estudos de percepção de riscos são importantes instrumentos para a gestão ambiental e o controle dos riscos associados ao uso de agrotóxicos no trabalho rural.

Percebe-se a importância da implementação de políticas públicas que incentivem a prática agrícola mais sustentável e que reduzam a vulnerabilidade a que os agricultores e o meio ambiente estão expostos
Claudete Rempel

Claudete afirma ainda que é necessário também incentivar o enfoque agroecológico e o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis, “o que contribui para a manutenção da capacidade produtiva e a diminuição dos efeitos negativos que os agrotóxicos causam à saúde humana e ao meio ambiente”, finaliza ela.

O estudo foi publicado na Revista Brasileira de Ciências Ambientais (RBCIAMB), disponível aqui.