Nicole Morás
Por meio do Programa Professor Visitante do Exterior (PVE) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), desde 2015 o professor sueco Göran Sahlén, da Högskolan i Halmstad, colabora com a pesquisa Efeitos da fragmentação de habitats sobre a biodiversidade da taxocenose de Odonata (Insecta: Odonata) na porção do bioma pampa do Rio Grande do Sul, coordenada pelo professor Eduardo Périco no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates.
A pesquisa é desenvolvida no Laboratório de Ecologia e Evolução e, após as coletas realizadas nas visitas anteriores, Sahlén e Périco agora se dedicam à análise dos materiais e à produção de três artigos que apresentarão os dados obtidos.
O último trabalho publicado em novembro pelo grupo foi Effect of tree plantations on the functional composition of Odonata species in the highlands of southern Brazil, no qual eles abordam a presença de Odonata (ordem de insetos a que pertencem as libélulas) e a plantação de árvores.
O estudo relaciona a presença de libélulas em áreas com vegetação nativa e com florestas mistas que tenham vegetação nativa e plantas exóticas. Nossos resultados sugerem que a conversão de áreas nativas para plantações de árvores, especialmente exóticas, resulta em uma mudança nas comunidades de Odonata menos especializadas e com alterações nas características biológicas das espécies, refletindo nos grupos funcionais. Esse resultado destaca o impacto negativo associado à conversão de florestas nativas em plantações exóticas, ou seja, os odonatas com traços especializados são limitados ao locais com florestas nativas, o que torna crucial a conservação dessas áreas, aponta Périco.
Conforme o professor da Univates, as espécies e os ambientes estudados são diferentes no Brasil e na Suécia, mas é possível fazer relação entre as pesquisas realizadas.
Nicole Morás
O projeto de pesquisa conta com a participação de cinco bolsistas de iniciação científica, um mestrando, três doutorandos e dois pesquisadores em estágio de pós-doutorado.
Nicole Morás
Professor Goran Sahlén, ao centro, com o grupo de pesquisa no Laboratório de Ecologia e Evolução
Discentes realizaram pesquisa na Suécia
O PVE da Capes também prevê o intercâmbio de estudantes no exterior, por isso o bolsista de iniciação científica Norton Dametto e a doutora Marina Dalzochio, que realiza estágio de pós-doutorado no PPGAD, passaram cerca de cinco semanas na Suécia, recebidos pelo professor Sahlén. No período, eles conheceram o sistema de pesquisa sueco. Dametto e Marina também coletaram e tabularam informações atualizadas e identificaram materiais para o banco de dados sobre mudanças climáticas mantido na Högskolan i Halmstad. Segundo Marina, a partir dos dados deste banco, foi possível perceber que há um certo padrão no aumento da temperatura média registrada na Suécia e foram registradas mudanças em relação às comunidades de libélulas estudadas desde 1997.
Nicole Morás
Em 20 anos houve aumento de 1ºC na temperatura média da Suécia, o que é bastante, visto que a projeção era de 0,6ºC até 2025. Ou seja, o aumento registrado foi maior e em um período menor, revela Marina, acrescentando que a partir desses dados é possível fazer modelagem de cenários sobre mudanças climáticas futuras. Sobre o bioma pampa, por exemplo, estão sendo montadas projeções até 2070.
Segundo Périco, 3ºC o aumento de 3°C na temperatura média do planeta seria o suficiente para derreter grande parte das geleiras do mundo, o que causaria um aumento do nível dos oceanos e afetaria as cidades costeiras.
Se chegássemos a um aumento de 3ºC, seria uma catástrofe, analisa o professor. Ele explica que não é possível medir o impacto das mudanças climáticas diretamente no homem, por isso são utilizados outros indicadores e realizadas pesquisas em plantas e animais, de forma que seja possível estimar o que pode ocorrer com o ser humano. As mudanças climáticas afetam diretamente toda a cadeia de produção de alimentos e a saúde, além de possibilitarem o surgimento de novos vírus, principalmente em áreas de clima tropical, exemplifica ele.
Ainda em relação às mudanças ambientais, Marina afirma que as libélulas são aquáticas, de modo que elas refletem a qualidade da água, ou seja, alterações no ambiente afetam a água e, por consequência, a população de libélulas. Assim, se há libélulas, é provável que a água das proximidades seja de melhor qualidade.
Saiba mais
A colaboração entre os professores Sahlén e Périco iniciou há cerca de seis anos, quando realizaram intercâmbio de docentes entre as instituições, nos anos de 2011 e 2013, por meio do programa Linnaeus-Palme. Desde 2015, esta é a sexta visita do professor sueco à Instituição, pois ele vem para o Vale do Taquari duas vezes por ano, geralmente nos meses de abril e novembro, quando as libélulas estão em atividade na fase adulta. Saiba mais sobre esta pesquisa aqui.