
Estudantes da Univates fundam Liga Acadêmica de Psicanálise e ampliam espaços de formação e debate
Por Lucas George Wendt
|Postado em: 02/12/2025, 09:00:31
|Atualizado em: 04/12/2025, 14:08:15
A Universidade do Vale do Taquari — Univates tem agora um novo território para o pensamento crítico com a criação da Liga Acadêmica de Psicanálise, fundada por estudantes de Psicologia que decidiram dar forma às suas inquietações e criar um espaço coletivo permanente de estudo e debate.
Instituída em novembro de 2025, a liga nasce da mobilização de Dieli Soldi, Érica Weiand Fick, Gabriel Ziem Cardoso de Siqueira, Júlia Pretto Troian, Isadora Oestreich Debona, Manoela Gentil Schneider, Miriam Magedanz e Taísa Reginatto Defendi, que identificaram a necessidade de um espaço extracurricular dedicado ao estudo da Psicanálise e à articulação dessa teoria com a prática profissional e a realidade contemporânea. Por meio deste link os interessados podem conferir o estatuto da entidade, o edital de chamada de novos integrantes e o formulário para inscrição de novos ligantes.
A partir da iniciativa estudantil, a liga se estruturou como uma organização autônoma, apartidária e sem fins lucrativos, aberta a alunos interessados em ampliar a formação além do currículo obrigatório do curso de Psicologia. Os estudantes fundadores conduziram todo o processo de construção do grupo: desde a elaboração dos objetivos, justificativas e estatuto até o planejamento das primeiras ações. O movimento partiu da constatação de que, embora a psicanálise seja uma das bases históricas e conceituais da Psicologia, a amplitude da formação do curso nem sempre permite o aprofundamento desejado de tópicos em particular.
Cientes da importância de ampliar os espaços de estudo, os estudantes organizaram um projeto que dialoga diretamente com as Diretrizes Curriculares Nacionais, ao propor atividades de ensino, pesquisa e extensão que fortaleçam a formação crítica, ética e comprometida com a realidade social. A liga se propõe a promover debates, grupos de leitura, oficinas, eventos abertos à comunidade, produção de conteúdos acadêmicos e aproximação com práticas clínicas e culturais que envolvem a psicanálise. A iniciativa também abre portas para a integração entre estudantes, egressos, docentes e comunidade em geral, estimulando a circulação de saberes e o protagonismo estudantil na construção de conhecimento.
A ação tem orientação de duas docentes, doutora Cibele Carvalho e mestra Denise Fabiane Polonio, que atuam como coordenadoras. Além disso, a presença da psicóloga e psicanalista em formação Carla Heloísa Schwarzer como conselheira externa foi uma escolha dos próprios estudantes, que buscaram trazer ao grupo uma perspectiva profissional de fora da universidade, assegurando trocas qualificadas e alinhadas à realidade da clínica. A iniciativa também tem apoio da professora Fernanda Storck Pinheiro.
Os encontros já promovidos pelos estudantes evidenciam o compromisso com a construção coletiva do conhecimento, com a leitura de textos clássicos e contemporâneos, com a troca de experiências e com a reflexão ética sobre os desafios da atuação nos diferentes campos da Psicologia. A expectativa do grupo é ampliar as atividades ao longo dos próximos anos, estabelecer parcerias com outras instituições e consolidar um espaço formativo que una teoria, prática e sensibilidade social.
"A criação da Liga surgiu a partir da necessidade de consolidar os estudos em um campo do conhecimento específico e denso como é a Psicanálise. Os encontros da liga atendem também a necessidade de constantes atualizações sobre o tema, assim como a importância das trocas e debates indispensáveis para a consolidação das aprendizados. Estamos muito felizes com o retorno positivo que estamos recebendo de estudantes, professoras e comunidade, que têm demonstrado muito interesse nas atividades que vamos desenvolver. Temos previsto a realização de atividades como grupos de estudos, participação e submissão de trabalhos em eventos acadêmicos, envolvimento com a comunidade, promoção de palestras e eventos abertos ao público", destacam os membros da diretoria.
Estratégia de formação
“Iniciativas como essa evidenciam que nossa proposta, enquanto Colegiado do Curso, de promover uma formação crítica, autoral e voltada para uma atuação ética e humanizada vem se consolidando. A Psicanálise tem um papel preponderante na nossa sociedade, pois ajuda a compreender a constituição da subjetividade a partir das relações de poder, normas coletivas e contextos históricos”, destaca a coordenadora do curso, a professora Liciane Diehl.
“Assim, pensar o sujeito simultaneamente como singular e social, articulando a dimensão psíquica às condições políticas e simbólicas que organizam a vida em sociedade nos permite compreender que o sofrimento psíquico é indissociável das desigualdades e violências sociais, ampliando a prática para além do consultório e favorecendo intervenções éticas e críticas em políticas públicas, comunidades e instituições”, complementa Liciane.
“Dessa forma, a psicanálise oferece uma visão mais complexa do sujeito e das relações humanas, integrando desejo, cultura, história e poder em um horizonte teórico-clínico, o que torna a criação desta Liga Acadêmica tão necessária e feliz. A nossa comunidade discente, aqui representada pela Dieli, Érica, Gabriel, Júlia, Isadora, Manoela, Miriam Magedanz e Taísa, está de parabéns!”.
O que é a Psicanálise
A psicanálise é um campo teórico e clínico criado por Sigmund Freud que busca compreender o funcionamento da mente humana a partir da ideia de que grande parte dos nossos pensamentos, desejos e conflitos atua no inconsciente. Para essa abordagem, a infância é importante na formação da personalidade, e muitos dos conflitos vividos ao longo da vida adulta têm origem em vivências e marcas emocionais precoces.
A psicanálise também descreve mecanismos de defesa, como repressão e negação, que o psiquismo humano utiliza para lidar com conteúdos que geram angústia, além de ressaltar a transferência, processo no qual sentimentos e expectativas dirigidos a figuras importantes da vida são deslocados para o analista durante o tratamento.
No campo clínico, a psicanálise se baseia no método da fala, em que o paciente é convidado a expressar livremente seus pensamentos, memórias e emoções, permitindo que significados ocultos e conflitos internos venham à tona. O objetivo é possibilitar que a pessoa compreenda seus próprios padrões, escolhas e demandas e aspectos que implicam em sofrimento, desenvolvendo maior autonomia psíquica. O fazer da psicanálise se direciona a promover espaços de escuta para que o sujeito olhe para seus desejos inconscientes, traduzindo-os para se tornarem outros.





