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Chimarrão: um hábito tradicional no câmpus da Univates

Postado em 03/10/2012 10h41min

Por Ana Paula Vieira Labres

Não é apenas para matar a sede da tradição, assim como diz na letra da música “Chimarrão”, do grupo Os Monarcas, que a bebida tradicional do Rio Grande do Sul é consumida. Além de saboroso, o chimarrão transporta traços culturais e é símbolo da hospitalidade e da amizade do gaúcho. Sua origem está ligada ao hábito dos índios guaranis, que sorviam uma bebida feita com folhas fragmentadas, tomadas em um porongo, por meio de um canudo de taquara. Segundo a tradição, a herança veio do deus Tupã. Após, esse hábito foi fortalecido e expandido pelos espanhóis e jesuítas.

Além de ser a bebida tradicional do estado, também traz benefícios à saúde. Sua matéria-prima, a erva-mate, ajuda no combate dos triglicerídeos e do colesterol, evitando, assim, doenças do coração.

 

Estudos comprovam benefícios da erva-mate

Saborear um bom chimarrão é um hábito saudável que já foi comprovado em diversas pesquisas no estado. Uma delas, feita em 2009, por uma universidade, comprovou o benefício da erva-mate no combate ao colesterol e aos triglicerídeos (uma forma de gordura que circula na corrente sanguínea e é armazenada no tecido adiposo do corpo).

Durante 30 dias, pesquisadores alimentaram ratos de laboratório com uma dieta vitaminada, composta por chocolate, amendoim e bolacha. O objetivo foi simular uma dieta de cafeteria, ou seja, uma pessoa que não fazia as alimentações adequadamente e ingeria grande quantidade de frituras e calorias. Para completar a pesquisa, os ratos não praticavam nenhum exercício e, como resultado, houve aumento dos níveis de triglicerídeos e colesterol.

Então, apareceu a novidade. Os ratinhos da pesquisa continuaram comendo ração reforçada, mas durante 15 dias também receberam um extrato superconcentrado de erva-mate (200 gramas com dois litros de água – o equivalente ao consumo diário dos mateadores). A surpresa foi que os triglicerídeos dos animais baixaram em 60% e o colesterol também diminuiu uma média de 20 a 30%. Isso aconteceu por causa dos flavonoides – compostos químicos que existem na erva-mate. Conforme pesquisadores, essas porcentagens são significativas quando se leva em consideração que os altos índices de triglicerídeos estão fortemente associados com doenças cardiovasculares.

 

Influência do manejo na qualidade da erva-mate é tema de pesquisa da Univates

O projeto “Análise da influência do manejo na qualidade da erva-mate e na fauna acarina”, realizado desde março de 2012, tem o objetivo de avaliar a relação do manejo e o tipo de folhas da erva-mate na sua qualidade, tanto na população de ácaros como na composição química. Conforme a coordenadora da pesquisa, Graziela Heberlé, é verificada a influência dos sistemas de cultivo e as condições de adubação no teor de compostos secundários e são elucidados os mecanismos moleculares envolvidos na infestação de ácaros fitófagos em folhas de erva-mate de diferentes fenologias no Vale do Taquari. “Além disso, serão realizados na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul experimentos de simulação germinação em hipergravidade verificando se é possível acelerar o processo de germinação das sementes”, destaca.

A pesquisa está em andamento e as análises são realizadas conforme um programa de tratamentos no manejo, ou seja, adubações periódicas. “As últimas análises estão previstas para fevereiro de 2013, então poderemos concluir se existem diferenças entre os tipos de folhas da erva-mate (jovens e maduras) e tipos de manejo (cultivadas, nativas, adubadas ou não). Essas diferenças serão consideradas nas populações de ácaros, genes expressos nas folhas e teores dos compostos responsáveis pelos benefícios da erva-mate ao consumo humano. Assim poderemos sugerir melhorias ao produtor no cultivo da erva-mate”, conclui Graziela.

 

Na sala de aula, ele também divide as atenções

Passar a cuia de mão em mão é um hábito tradicional no câmpus da Univates. Nas áreas de lazer ou mesmo na sala de aula, alunos e professores compartilham o bom e velho chimarrão.

Um dos mateadores de plantão é o aluno do curso de Psicologia Roberto Bohn, de Estrela. Ele carrega uma mateira – bolsa de couro – com os avios do chima: erva-mate, térmica, cuia e bomba e prepara o mate antes da aula. “Sempre trago chimarrão e divido com os colegas e professores. No início do semestre, já se evidencia quem gosta de chimarrão, porque eles sentam perto de onde o mate está”, conta ele.

A disputa pelo chimarrão de Bohn desencadeia uma curiosidade: há algum segredo na preparação? Ele responde sorrindo: “Minhas colegas sempre brincavam que meu chimarrão era muito saboroso e que eu tinha um segredo. Então, tive que revelar. Coloco um composto de chás, com erva-doce, camomila, anis estrelado e cidreira, que compro em casas especializadas. Esse é o único segredo”, revela.

O aluno destaca que aprendeu a tomar chimarrão com o avô. “Depois que meu avô chegava do serviço, reuníamos a família para conversar e trocar ideias em uma roda de mate. Esse momento não era apenas passar a cuia de mão em mão. Trocávamos carinho e afeto. E é isso que perpetua na cultura do chimarrão”, ressalta.

O chimarrão também está presente na roda de amigos do curso de Engenharia Ambiental. A acadêmica Verônica Machado, de Lajeado, confessa que sempre leva chimarrão e que ele é muito disputado entre os colegas. “Normalmente participam da roda umas dez pessoas, e demora até completar a volta”, observa.

Já na lista dos “fileiros” do chimarrão está a aluna de Jornalismo Vanessa Ahne, de Travesseiro. Ela está sempre aguardando a vez do mate que a colega Daiana Gomes Denardi leva para a aula.

Como se percebe, o chimarrão é um hábito muito frequente entre as pessoas que circulam pelo câmpus da Univates, principalmente entre os alunos. E para incentivá-los ainda mais na continuidade dessa tradição, o Diretório Central de Estudantes (DCE) disponibiliza o kit chimarrão, composto por cuia, bomba, térmica e erva-mate. Para retirá-lo, basta dirigir-se à sala 404 do Prédio 9, e deixar um documento pessoal com foto. Depois de usado, o aluno devolve os apetrechos e recebe seu documento. Quem precisar apenas de erva-mate, também pode retirar gratuitamente um pacote de 250g, mediante a apresentação da carteirinha estudantil.

 

Três maneiras de matear

Mate Solito: quando não precisa de estímulo maior para matear, a não ser a sua própria vontade. É o verdadeiro mateador.

Mate de Parceria: quando se espera por um ou mais companheiros para matear a fim de motivar o mate, pois não gosta de matear sozinho.

Roda de Mate: é na roda de mate que esta tradição assume seu apogeu, agrupando pessoas sem distinção de raça, credo, cor ou posse material. Irmanados num clima de respeito, o mate integra gerações numa trança de usos e costumes, que floresce na intimidade gaúcha.

 

O mate e seus simbolismos

Antigamente, quando os namoros ocorriam com maior distância física, os apaixonados utilizavam o mate como meio de comunicação e, de acordo com o que era posto na cuia, enviavam sua mensagem. Ao longo da história, o chimarrão é utilizado como veículo sutil de comunicação com objetivos sentimentais.

Confira aí alguns desses significados:

* Mate com açúcar: quero a tua amizade

* Mate com açúcar queimado: és simpático

* Mate com canela: só penso em ti

* Mate com casca de laranja: vem buscar-me

* Mate com mel: quero casar contigo

* Mate frio: desprezo-te

* Mate lavado: vai tomar mate em outra casa

* Mate enchido pelo bico da bomba: vás embora

* Mate muito amargo (redomão): chegaste tarde, já tenho outro amor

* Mate com sal: não apareças mais aqui

* Mate muito longo: a erva está acabando

* Mate curto: pode prosear a vontade

* Mate servido com a mão esquerda: você não é bem-vindo

* Mate doce: simpatia

 

Ilex paraguarienses

De grande importância econômica e cultural, a erva-mate tem ocorrência natural no Paraguai, Argentina e Brasil (do Mato Grosso do Sul ao Rio Grande do Sul).

A classificação botânica foi realizada pelo naturalista francês Auguste de Saint Hilaire, em 1822, depois de ter realizado viagem de estudos ao Brasil e ter coletado material botânico da espécie nos arredores de Curitiba, no Paraná.

A espécie apresenta grande variação na forma e no tamanho das folhas. As causas são, provavelmente, fatores como idade da planta, influência do ambiente, fatores genéticos. Como afeta na qualidade dos produtos gerados pela erva, esta variação precisa ser intensamente estudada.

 

10 Mandamentos do Chimarrão

1 - Não peças açúcar no mate

2 - Não digas que o chimarrão é anti-higiênico

3 - Não digas que o mate está quente demais

4 - Não deixes um mate pela metade

5 - Não te envergonhes do “ronco” no fim do mate

6 - Não mexas na bomba

7 - Não alteres a ordem em que o mate é servido

8 - Não condenes o dono da casa por tomar o primeiro mate

9 - Não durmas com a cuia na mão

10 - Não digas que o chimarrão dá câncer na garganta

 

Texto: Ana Paula Vieira Labres

Aluno de Psicologia Roberto Bohn, de Estrela, divide seu chimarrão com os demais colegas

Ana Paula Vieira Labres

Avios do mate

Ana Paula Vieira Labres

O chimarrão, símbolo da amizade do povo gaúcho, é uma das bebidas preferidas pelos alunos da Univates

Ana Paula Vieira Labres

Vanessa Ahne, de Travesseiro, toma o mate nas aulas do curso de Jornalismo

Ana Paula Vieira Labres

O chimarrão também está presente na roda de amigos do curso de Engenharia Ambiental

Ana Paula Vieira Labres

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