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Professora relata primeira aula em Timor-Leste

Postado em 27/02/2012 16h59min

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A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates Shirlei Mendes da Silva foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades que serão desenvolvidas nesse país.

Confira o último relato abaixo:

A primeira aula

A primeira aula do ano, independente do país, é sempre um enigma - para os alunos e para os professores. É sempre um primeiro encontro, independente do lugar em que estamos. Na segunda-feira, sigo para minha primeira aula de Introdução à Sociologia. No caminho, descubro que não haverá aula, pois está prevista uma atividade para os alunos calouros.

Minha primeira aula foi então adiada para terça-feira: Introdução à Ciência Política. Chego à UNTL, em Díli, capital de Timor-Leste, às 8h da manhã. Sigo para a sala de aula. E descubro que a sala tem mesas e cadeiras... para os alunos. E para o professor? Nada! Bem, puxei uma cadeira, discretamente, para deixar meus pertences, e fui para o quadro. Escrevi, misturando tétum (a outra língua oficial) e português:

Diakalai! Introdusaun a Ciência Política (aqui não existe "ç" e nem o "til"). Escrevo em tétum em sinal de respeito à cultura local. E escuto dos meus alunos: Diak!!! Pronto, o bom dia já estava dado, pensei eu. Mas as complicações apareceram em seguida.

Com o auxílio do professor titular da disciplina, me apresento aos alunos. E descubro que a maioria não fala português, pois tiveram apenas os três últimos anos do ensino secundário em português. Todo o ensino básico foi em tétum! Os que falam (um pouco) de português não escrevem em português. Primeira lição: a língua falada é diferente da língua escrita. Ainda bem que meu colega timorense fala português...

Como já estávamos mais ou menos preparados para estas ocorrências, seguimos a aula, quase que normalmente. Na verdade, iniciamos um processo de leitura, tradução e interpretação do texto escolhido. Os alunos, assustados, nos acompanharam toda a aula. Ainda bem que temos apenas 2 horas-aula por turno, pois o calor é demasiado e na sala de aula ainda não há ar condicionado, apenas ventiladores. Mas pela manhã ainda sopra uma leve brisa do mar, que fica à 2 quadras da Universidade. Coisa boa!

Terminada a aula, eu e o professor timorense nos olhamos, e comentamos: não vai ser fácil ensinar português e ciência política ao mesmo tempo. Mas como a sala de aula é um espaço para os desafios, vamos lá!

Shirlei Mendes da Silva
de Díli, Timor-Leste

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