Como lidar com as questões ambientais? Essa foi a pergunta que guiou a primeira noite do 9º Simpósio Internacional Diálogos na Contemporaneidade, promovido pela Universidade do Vale do Taquari - Univates. O Teatro Univates ficou lotado com a presença das comunidades acadêmica e externa, que compareceram para prestigiar a jornalista e escritora Eliane Brum, a primeira palestrante do evento. A programação se estende até quarta-feira, 16 de abril.
O objetivo desta edição do simpósio é provocar reflexões sobre as implicações de existências baseadas no consumismo, no descarte de objetos e de pessoas, na exploração de recursos naturais e no esvaziamento do pensamento crítico. O evento propõe um espaço de escuta e reflexão sobre como a humanidade se relaciona consigo mesma, com a vida e com o planeta.
Antes do início oficial do evento, o público que chegava ao Teatro era recebido por uma intervenção artística: uma “vitrine viva”. Na performance, estudantes do curso Técnico em Modelagem do Vestuário desfilaram criações autorais desenvolvidas ao longo do curso, refletindo sobre a relação entre a sociedade e o meio ambiente, os impactos da indústria da moda e os caminhos possíveis para um setor mais ético e sustentável. As peças seguem em exposição durante todo o evento, com o objetivo de instigar o público a observar, refletir e se engajar com o movimento global Fashion Revolution.
Em seu pronunciamento no início do evento, o pró-reitor de Ensino e Extensão, professor Tiago Weizenmann, defendeu que é papel da Universidade discutir temas que atravessam a vida em comum, como os modos de habitar o mundo. Inspirado por António Nóvoa, ele propôs que, mais do que buscar comunidade, a Universidade deve promover comunicação, abrindo espaço para o diálogo e a partilha entre diferentes saberes.
A abertura oficial do simpósio contou com a apresentação artística do grupo Água Redonda e Comprida, uma obra de dança contemporânea que mergulha no universo das águas a partir da cosmovisão do povo Kaingang.
Na sequência, o público acompanhou a palestra da jornalista Eliane Brum, conhecida por seu olhar sensível e profundo sobre questões socioambientais. Em sua fala, ela denunciou que o colapso ambiental atual, com o aumento das temperaturas, a extinção acelerada de espécies e eventos climáticos extremos, é consequência de uma linguagem hegemônica e destrutiva, que separa os humanos da natureza, transforma a vida em mercadoria e legitima séculos de exploração de corpos, terras e seres.
Segundo Brum, no Brasil, essa lógica se manifesta historicamente na mercantilização do território e nos ciclos econômicos baseados em exploração, como os do ouro, do café, da borracha e da soja, além do extermínio e apagamento dos povos originários. Como contraponto, ela destacou as linguagens dos povos indígenas e tradicionais, que reconhecem a interdependência entre todos os seres e vivem em relação com a natureza, e não contra ela.
Para enfrentar o colapso climático, Eliane defende que é necessário cobrar políticas públicas, pressionar governos e parlamentos e combater práticas destrutivas, como o desmatamento e o uso de agrotóxicos. No entanto, ressalta que isso não é suficiente.
“É necessário perder privilégios, quem os tem. É preciso mudar o modo de vida. O que eu defendo aqui é uma recentralização do mundo. No momento em que a gente vive a emergência climática e a extinção em massa de espécies, precisamos fazer um deslocamento de conceitos hegemônicos do que é centro e do que é periferia. Os centros do mundo são onde a natureza ainda resiste e não onde são tomadas decisões políticas e financeiras. Os centros do mundo são a Amazônia, os oceanos, todas as florestas tropicais e todos os biomas. Os centros são onde está a vida, e não onde estão os mercados”, ressaltou.
Frente à sensação de impotência diante da magnitude do problema, ela propõe uma saída coletiva e comunitária, lembrando que “fazer pouco é diferente de não fazer nada”, e que a imaginação é uma poderosa ferramenta de ação. Ao final da palestra, convidou o público a libertar a imaginação para lutar por um mundo onde humanos e mais que humanos possam coexistir e construir novos futuros possíveis.
A programação do simpósio segue até quarta-feira, com a participação de outros grandes nomes, como Bettina Martino, Márcio Tascheto da Silva, José Falero e a professora e historiadora Preta Rara.
Ainda é possível se inscrever gratuitamente nas atividades do evento clicando aqui.
Confira a programação completa:
15/04, terça-feira
Diálogos sobre a vida, a terra e o nosso jeito de estar no mundo: como concretizar a vida em comum?
13h30min às 17h30min: Apresentação das comunicações orais em salas virtuais
19h10min às 22h: Palestra de Bettina Martino e Márcio Tascheto da Silva
16/04, quarta-feira
Diálogos sobre a vida, a terra e o nosso jeito de estar no mundo: por que é preciso considerar as diversidades?
19h10min às 19h45min: Apresentação artística da banda Os Alquimistas
19h45min às 22h: Palestra da professora e historiadora Preta Rara e do escritor gaúcho José Falero
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