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Pesquisa

Pesquisa revela método eficaz para germinação de sarandi-amarelo e sua importância na restauração ambiental de margens de rios

Por Lucas George Wendt

Postado em 25/02/2025 12:23:21


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Um estudo publicado no Journal of Environmental Analysis and Progress revelou um avanço na compreensão da germinação da espécie arbórea Terminalia australis Cambess., conhecida como “sarandi-amarelo” ou amarilho. 

A pesquisa conduzida pelos cientistas Marcos Vinicius Vizioli Klaus, Mara Cíntia Winhelmann, Julia Gastmann, Amanda Pastório Borges, Rodrigo Gastmann, Leonardo de Oliveira Neves, Ana Paula Jaeger Bittencourt e Elisete Maria de Freitas investigou os efeitos de diferentes tratamentos sobre a germinação da espécie. 

Os estudos foram desenvolvidos no Laboratório de Botânica da Universidade do Vale do Taquari - Univates. 

De ramos flexíveis e resistentes à força da água, o sarandi-amarelo é uma espécie reófita que ocupa as margens de rios e arroios. Diante disso, a espécie pode ser utilizada nos projetos de restauração ecológica das florestas ribeirinhas. No entanto, não foram encontrados estudos sobre a germinação e produção de mudas da espécie. Além disso, a disponibilidade de mudas em viveiros é praticamente inexistente. Isso remete à necessidade de estudos que definam formas adequadas para a produção de mudas. 

A produção de mudas dessa espécie é dificultada pela formação de frutos que não se abrem espontaneamente para liberar as sementes (frutos indeiscentes). Além disso, seus frutos são lenhosos, o que dificulta a germinação. Assim, eles precisam ser usados diretamente na semeadura. Diante dessas características, o objetivo do estudo era encontrar um método que facilitasse a germinação. Os autores acreditavam que a realização de dois cortes nas laterais do fruto e a imersão deste em água poderiam aumentar a possibilidade de germinação das sementes.

Os resultados do estudo destacaram que cortes laterais nos frutos, sem imersão em água, aumentam as taxas de germinação e formação de plântulas, além de reduzir o tempo de germinação, tornando-se uma abordagem promissora para a produção de mudas.

A importância da Terminalia australis para o meio ambiente

A Terminalia australis é uma espécie nativa do Brasil que ocorre principalmente nas margens de rios, desempenhando papel fundamental na manutenção de ecossistemas ribeirinhos. As florestas ciliares, onde essa árvore está presente, ajudam a evitar a erosão do solo e a evaporação da água, a proteger os corpos d’água e a garantir a qualidade da água subterrânea. Além disso, também atuam como corredores ecológicos, conectando fragmentos florestais e permitindo a dispersão de sementes e a migração de espécies animais.

A destruição desses habitats tem sido agravada pela urbanização, expansão agrícola e construção de barragens, fatores que ameaçam a biodiversidade e comprometem a segurança hídrica. Para mitigar esses impactos, o Brasil se comprometeu na Conferência das Partes (COP26) a restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Estudos como este são fundamentais para o cumprimento dessa meta, fornecendo diretrizes para a reprodução de espécies-chave na recuperação de áreas degradadas.

Metodologia da pesquisa e principais descobertas

Os pesquisadores testaram 12 tratamentos para estimular a germinação dos frutos da Terminalia australis, também chamados de diásporos. Entre os procedimentos, foram analisados:

- imersão em água por diferentes períodos;

- corte nas laterais dos frutos;

- escarificação mecânica (lixamento da superfície externa);

- combinações dessas técnicas.

Os frutos foram cultivados em um ambiente controlado, utilizando substrato comercial misturado com areia, e a germinação foi monitorada ao longo de 126 dias.

O método mais eficaz foi o corte nas laterais dos frutos sem imersão em água. Esse tratamento apresentou taxa de germinação de 90%, enquanto o controle (frutos sem intervenção) alcançou 75%. Além disso, a formação de plântulas foi maior nesse tratamento, indicando que o procedimento aumenta a germinação e também o sucesso no desenvolvimento inicial da planta.

Por outro lado, a escarificação mecânica, especialmente quando combinada com imersão em água, teve os piores desempenhos. Apesar de acelerar o início da germinação, resultou em baixas taxas de formação de plântulas, sugerindo que esse procedimento pode danificar as sementes e comprometer sua viabilidade.

Implicações para a restauração ambiental

A descoberta de um método eficiente para germinação da Terminalia australis tem um impacto direto na restauração de florestas ribeirinhas, algo que pesquisadores e grupos de voluntários têm trabalhado no Vale do Taquari. Aumentar a disponibilidade de mudas dessa espécie é importante para projetos de recuperação ambiental, pois permite a recomposição de matas ciliares com vegetação nativa adaptada às condições locais.

Além disso, a alta taxa de germinação do tratamento com corte nas laterais dos frutos contribui para reduzir os custos e a dependência de sementes raras. Como essa espécie possui frutos indeiscentes (que não se abrem naturalmente para liberar as sementes), o método descoberto facilita sua propagação e amplia sua utilização em iniciativas ecológicas.

Próximos passos e desafios

Embora o estudo tenha obtido resultados promissores, os pesquisadores ressaltam a necessidade de mais investigações sobre a dormência das sementes da Terminalia australis. A dormência é um fenômeno comum em espécies do gênero Terminalia e pode influenciar os métodos de propagação.

Outra questão em aberto é o impacto das condições ambientais na germinação. Estudos futuros podem avaliar como variáveis como temperatura, umidade e qualidade do solo afetam o desempenho das mudas em condições de campo.

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