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Ciência

Diário de bordo, viagem à Antártica, parte III

Por Lucas George Wendt

Postado em 17/01/2025 13:00:45


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A estudante de mestrado Ândrea Pozzebon-Silva, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates e o professor André Jasper embarcaram, no 27 de dezembro de 2024, para participar da XLIII OPERANTAR, a expedição científica brasileira à Antártica. Os dois retornam ao Brasil em meados de fevereiro de 2025. 

Essa é a primeira vez que Ândrea, que é licenciada em Ciências Biológicas pela Univates irá ao continente gelado, enquanto Jasper já participou em duas oportunidades anteriores - a OPERANTAR XII - no verão 1993/1994; e a OPERANTAR XLII - no verão 2023/2024. A participação da jovem pesquisadora marca, também, a primeira vez em que um estudante da Universidade acompanha uma expedição ao continente. 

Ao longo da viagem, e na medida em que possível, devido às condições extremas do continente em relação à comunicação, publicaremos relatos enviados por Ândrea. 

Travessia do mar de Weddell

(Confira as imagens referentes a esta parte do relato na galeria na sequência deste texto)

O Drake foi gentil. Foi um Lake Drake. Atrelado a isso, medicamentos para enjoo. Durante dois dias dormi a maior parte do tempo. Aparecia para comer alguma coisa ou outra e voltava pro claustrofóbico cubículo de 40cm de altura que era meu beliche. Não posso reclamar, tenho dormido bem. Conforme descíamos, o calor do navio começou a sumir, e os aparelhos de ar condicionado não eram mais necessários. Já começava a utilizar todas as cobertas do jogo de cama fornecido pela Marinha. Ocorreu tudo bem. O Ary Rongel, um velho norueguês, passando com classe, e algum remelexo, pelo estreito de Drake, rumo às ilhas King George - onde fica o primeiro ponto de nossa jornada: Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF).

A casa do Brasil na Antártica, como a Marinha gosta de chamar, e como de fato o é, uma vez que o território da base é quase como um consulado. A EACF é uma base de pesquisa científica brasileira localizada na Ilha Rei George, no arquipélago das Shetland do Sul. Ela primeiramente foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984, como parte do esforço do Brasil em consolidar sua presença na Antártica e contribuir para o Tratado da Antártica, que garante o uso pacífico da região e incentiva pesquisas científicas. A presença brasileira na Antártica é estratégica. O Brasil é um dos países que possuem o status de membro consultivo do Tratado da Antártica, o que lhe dá poder de decisão sobre assuntos relacionados à administração do continente branco. 

Em 2012, a antiga estação infelizmente foi destruída por um incêndio que causou a morte de dois militares e danos severos à sua infraestrutura. A reconstrução da estação começou em 2015, sendo inaugurada em 15 de janeiro de 2020.

Atualmente enquanto escrevo (09/01/2025 - 19:54 pm) estamos nos direcionando para o mar de Weddell. Esse trajeto se tornou famoso entre as diversas histórias sobre expedições antárticas devido a uma figura chamada Ernest Shackleton, que comandou uma viagem conhecida como a Expedição Transantártica Imperial (1914-1917) que tinha como “simples” objetivo atravessar o continente antártico a pé. No entanto, o seu navio chamado Endurance ficou preso e foi esmagado pelo gelo no Mar de Weddell, deixando a tripulação isolada em uma das regiões mais inóspitas do planeta (para onde estamos indo). 

Após meses à deriva sobre o gelo e em pequenos barcos salva-vidas, os homens chegaram à Ilha Elefante, onde enfrentaram o frio extremo, a fome e o isolamento total.

Para tentarem sobreviver, Shackleton e alguns companheiros navegaram cerca de 1.300 km até a Geórgia do Sul em um pequeno barco, o James Caird enfrentando uma das travessias marítimas mais perigosas do mundo. Após diversas tentativas de resgate fracassadas, o piloto chileno Luis Pardo, a bordo do navio Yelcho, conseguiu resgatar toda a tripulação da Ilha Elefante em 30 de agosto de 1916, sem perder nenhum homem. 

O feito de Shackleton e Pardo é considerado uma das maiores histórias de sobrevivência e liderança da era das grandes explorações e a cidade de Punta Arenas é permeada de referências e estatuas a esse feito. A travessia por Weddell têm feito o nosso navio balançar, mas de forma gentil. Por ser um lugar de complicado acesso, estaremos lançando os acampamentos em etapas, e provavelmente (espero) a próxima parte desse diário será escrita no solo rochoso de Snow Hill Island. 

Câmbio, desligo.

9 de janeiro de 2025 

Ândrea Pozzebon-Silva

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