Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari - Univates trouxe à tona dados sobre o perfil lipídico de crianças e adolescentes da região. A pesquisa, realizada entre maio de 2019 e dezembro de 2022, avaliou 433 indivíduos com idades entre 5 e 17 anos, buscando verificar a prevalência de alterações nos níveis de colesterol total (CT), triglicerídeos (TGs), lipoproteína de alta densidade (HDL) e lipoproteína de baixa densidade (LDL).
Os dados, coletados em um laboratório de análises clínicas de Lajeado, revelaram que, em sua maioria, os níveis lipídicos dos participantes estavam dentro dos valores de referência, com poucas exceções. No entanto, o estudo destaca diferenças significativas entre os sexos e as diferentes faixas etárias analisadas.
A pesquisa é assinada pela professora Adriane Pozzobon e pelos estudantes Henrique Pereira Sitja e Juliana Fagan Peyrot, do curso de Medicina. O estudo está publicado no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences.
A pesquisa foi feita como Trabalho de Iniciação Científica (TIC), que é um componente da formação dos estudantes do curso de Medicina. A ideia da pesquisa partiu justamente da questão do maior tempo que as crianças ficaram em casa na pandemia, do uso de telas e outros aspectos que podem influenciar no perfil lipídico.
Principais achados da pesquisa
A média de idade dos participantes foi de 12,55 anos, com um desvio padrão de 3,99 anos, sendo 53,3% do sexo feminino. Os resultados indicaram que, embora os níveis de CT, TGs, LDL e HDL estivessem dentro dos valores de referência, os níveis de CT, TGs e LDL foram maiores no sexo feminino, corroborando estudos anteriores que sugerem uma maior prevalência de dislipidemia ‒ colesterol anormalmente elevado ou gorduras (lipídeos) no sangue ‒ em mulheres.
Comparando diferentes grupos etários, foi observado que os níveis de triglicerídeos estavam significativamente maiores no grupo de crianças mais jovens, enquanto os níveis de CT e LDL estavam mais elevados no grupo de crianças de 6 a 11 anos, em comparação com adolescentes de 12 a 17 anos.
Metodologia e análise estatística
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Univates. A amostra incluiu apenas a primeira dosagem do perfil lipídico, excluindo dosagens incompletas. Os dados foram analisados com estatística descritiva, utilizando o software SPSS 20.0, e os resultados foram comparados entre sexo e faixas etárias usando o teste não paramétrico de Mann-Whitney.
Contexto e implicações dos resultados
Apesar de os resultados, em sua maioria, estarem dentro dos parâmetros normais, o estudo levantou preocupações sobre a alimentação e os hábitos de vida das crianças e adolescentes avaliados. Foi observado que crianças mais novas apresentaram níveis elevados de triglicerídeos, o que pode estar relacionado ao consumo elevado de carboidratos e à pouca prática de atividades físicas.
Estudos anteriores já sugerem que altos níveis de triglicerídeos estão associados a condições que aceleram a aterosclerose, como a redução dos níveis de HDL e o aumento das lipoproteínas remanescentes, o que pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares futuras.
Comparações com outros estudos
O estudo também comparou seus achados com outras pesquisas nacionais e internacionais. Por exemplo, um estudo realizado em Ancara, na Turquia, mostrou que 43% dos indivíduos obesos entre 2 e 18 anos apresentavam dislipidemia, o que contrasta com os achados da pesquisa no Vale do Taquari, onde a prevalência foi menor. Além disso, estudos brasileiros anteriores, como os realizados no Piauí e em Florianópolis, também indicaram que meninas tendem a ter níveis mais elevados de CT e LDL em comparação com meninos, o que foi novamente observado nesta pesquisa.
Conclusões e recomendações
Embora o estudo não tenha encontrado uma alta prevalência de dislipidemias entre os participantes, ele ressalta a importância de um acompanhamento nutricional e pediátrico adequado para evitar o desenvolvimento de comorbidades na idade adulta.
Os pesquisadores sugerem que estudos futuros considerem variáveis adicionais, como índice de massa corporal (IMC), histórico familiar e hábitos alimentares, para uma avaliação mais aprofundada da prevalência de dislipidemias em crianças e adolescentes.