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Ciência, Pesquisa

Pesquisa realizada na Univates, com a colaboração de pesquisadores da Ufrgs e da USP, investiga vitamina D e TDAH

Por Lucas George Wendt

Postado em 17/09/2024 11:39:44


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Uma pesquisa brasileira inédita, publicada na revista Nutritional Neuroscience, trouxe uma nova perspectiva sobre como a vitamina D pode influenciar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Em resumo, os resultados do estudo não apoiam a ideia de que a deficiência de vitamina D esteja na via causal do TDAH, abrindo caminho para novas pesquisas e discussões sobre a influência de diferentes aspectos biológicos nos variados sintomas do transtorno.  

O estudo contou com a colaboração de pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular, ligados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs); dos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) e em Ciências Médicas (PPGCM) da Universidade do Vale do Taquari - Univates; e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). 

A pesquisa é assinada por Cibele Edom Bandeira, Fernando Godoy Pereira das Neves, Diego Luiz Rovaris, Eugenio Horacio Grevet, Monique Dias-Soares, Caroline da Silva, Fabiane Dresch, Bruna Santos da Silva, Claiton Henrique Dotto Bau, Flávio Milman Shansis, Júlia Pasqualini Genro e Verônica Contini, docente da Univates que liderou o estudo. 

Verônica explica que “esse estudo teve início durante o mestrado, no PPGBiotec, do psiquiatra Fernando, que investigava o impacto de genes relacionados à rota de metabolização da vitamina D em sintomas comportamentais de indivíduos adultos, recrutados na comunidade acadêmica da Univates. A partir de alguns resultados que apontavam um efeito dos genes investigados em sintomas de impulsividade e hiperatividade, nasceu a ideia de investigar se esses mesmos efeitos seriam observados em uma amostra clínica de pacientes com TDAH”.      

Ana Amélia Ritt

O que a pesquisa busca responder?

O estudo investigou como os genes envolvidos na metabolização da vitamina D, um hormônio importante para a saúde dos ossos e do sistema imunológico, poderiam influenciar os sintomas do TDAH, com foco nos subtipos mais comuns: o TDAH predominantemente desatento, o TDAH hiperativo-impulsivo e o tipo combinado.

Os pesquisadores calcularam um “escore poligênico” para os níveis de vitamina D, que leva em consideração a soma das variações genéticas que afetam a quantidade desse hormônio no sangue. Essa abordagem permite identificar uma predisposição genética para níveis mais altos ou mais baixos de vitamina D.

A partir dessa análise, foi observado que pessoas com menores escores poligênicos, ou seja, com tendência genética a ter menos vitamina D, apresentavam mais sintomas de desatenção. Isso indica que, embora a vitamina D não seja a causa direta do TDAH, a influência genética nos seus níveis pode estar relacionada à gravidade dos sintomas, particularmente no caso do TDAH com predomínio de desatenção.

“Os níveis de vitamina D podem estar associados aos sintomas do transtorno por meio de fatores genéticos comuns”, afirma Cibele Edom Bandeira, uma das autoras do estudo.

Os resultados variam conforme o subtipo de TDAH. Para indivíduos com TDAH predominantemente desatento, níveis mais elevados de vitamina D estão ligados à redução dos sintomas de desatenção. No entanto, para aqueles com TDAH hiperativo-impulsivo, os níveis elevados de vitamina D não mostraram a mesma correlação positiva com a diminuição da hiperatividade e impulsividade.

“Para as pessoas com o tipo hiperativo-impulsivo, maiores escores de vitamina D estavam associados a uma piora dos sintomas”, explica Cibele. “Quando analisávamos os indivíduos com TDAH em conjunto, sem considerar o subtipo, não encontrávamos correlação significativa com a vitamina D. Esses dados são bastante interessantes e podem ajudar a compreender melhor os detalhes desse transtorno”, conclui.

Além disso, o estudo também avaliou os níveis plasmáticos de vitamina D e os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade de 319 voluntários da Univates, confirmando um efeito de genes envolvidos na rota da vitamina D nos sintomas de hiperatividade e impulsividade desses indivíduos. Em conjunto, os achados do estudo sugerem que genes relacionados à vitamina D podem ter um papel na gestão dos sintomas do TDAH, tanto em indivíduos com o transtorno quanto em indivíduos sem um diagnóstico clínico. No entanto, os autores reforçam que a vitamina D não deve ser vista como um tratamento isolado. A pesquisa aponta que ela pode complementar tratamentos convencionais, como medicamentos e terapia psicológica. 

Os estudos que culminaram na publicação da pesquisa recentemente na revista Nutritional Neuroscience foram financiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social (Fuvates), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

Glossário

Termos citados neste texto 

Escore = palavra em português para o termo em inglês “score”, que significa pontuação. 

Poligênico = algo que é determinado por vários diferentes genes. 

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