Um novo estudo realizado na região do Vale do Taquari trouxe à tona questões sobre a invisibilidade da violência praticada por parceiro íntimo (VPI) e suas consequências na saúde mental das vítimas. A comunicação preliminar foi publicada na The Lancet Psychiatry, uma das mais conceituadas revistas científicas da área da Saúde.
O estudo é parte da dissertação de mestrado de Denise Bisolo Scheibe no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Univates e orientada pela professora doutora Joana Bücker. O texto tem também a autoria da professora doutora Letícia Sanguinetti Czepielewski, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, vinculado ao Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Ufrgs.
A pesquisa completa, ainda não publicada, revela uma faceta oculta da violência doméstica, muitas vezes não reconhecida pelas próprias vítimas e pelos profissionais de saúde, especialmente quando a agressão não é física. A violência por parceiro íntimo é um problema global que afeta desproporcionalmente as mulheres, e suas taxas têm crescido nos últimos dois anos em países de baixa e média renda, como o Brasil.
O estudo realizado em um centro de referência para assistência a mulheres que sofreram violência na região do Vale do Taquari investigou as experiências de mulheres vítimas de VPI em busca de ajuda, comparando-as com um grupo de controle de mulheres que não relataram ter sofrido violência.
Um dos achados da pesquisa foi que 15% das mulheres do grupo de controle, inicialmente identificadas como não vítimas, foram posteriormente reveladas como vítimas de VPI ao responderem a questionários específicos e entrevistas conduzidas pelas pesquisadoras. Essas mulheres não reconheciam seus relacionamentos passados como abusivos e não percebiam os efeitos nocivos de situações repetitivas, como a crítica constante de seus parceiros, controle sobre suas roupas ou pressão para manter relações sexuais indesejadas.
Invisibilidade
O texto ressalta que a invisibilidade da violência por parceiro íntimo é um desafio para a condução de estudos sobre o tema, especialmente quando as vítimas não percebem ou reconhecem os sinais de abuso. A normalização de certos comportamentos abusivos em relacionamentos íntimos está enraizada em normas e crenças sociais relacionadas ao gênero, que muitas vezes impedem que a violência seja reconhecida como tal.
Essa falta de reconhecimento torna ainda mais difícil para as vítimas buscarem ajuda e para os profissionais de saúde identificarem e abordarem adequadamente esses casos. Normas sociais enraizadas e crenças culturais perpetuam a violência por parceiro íntimo, fazendo com que comportamentos abusivos sejam erroneamente percebidos como parte natural dos relacionamentos.
Conscientização e educação
O estudo destaca a importância de maximizar a compreensão sobre a VPI para provocar mudanças nas normas sociais e promover a saúde pública. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de treinar profissionais de saúde para identificar diferentes tipos de violência e suas consequências negativas, além de implementar programas globais de prevenção e engajamento comunitário. Campanhas de conscientização devem ser direcionadas à população em geral, para educar as pessoas sobre comportamento violento e como combater relacionamentos abusivos.