Os documentos que produzimos dizem muito sobre nós, mas não apenas isso. Dizem também do contexto em que foram produzidos, já que exprimem - a depender, mais direta ou indiretamente - indícios sobre condições dessa produção. E o que os documentos nos dizem sobre a escola? Buscando responder a essa pergunta existe um projeto em desenvolvimento na Universidade do Vale do Taquari - Univates.
É o Brocantes: palavras e coisas da escola que, neste momento, já tem resultados preliminares para serem compartilhados. O projeto iniciou em 2022, segue e tem objetivos amplos, já que a iniciativa visa criar um arquivo público de documentos escolares produzidos a partir do início do século XX em diferentes épocas e lugares.
A comunidade global é convidada a contribuir doando materiais escolares de qualquer local do mundo. As doações podem ser feitas fisicamente durante as brocantes feiras de coleta e venda de papéis antigos que são organizadas em várias cidades, ou digitalmente por meio de um formulário on-line. Interessados em contribuir também podem obter mais informações pelo e-mail brocante@univates.br.
São aceitos provas, boletins, pareceres, cartas, desenhos, bilhetes, recados, agendas, cartazes, entre outros tipos de papéis/documentos que marcaram a vida na escola e subjetivaram cada estudante.
Os pesquisadores do CEM convidam a comunidade a participar doando documentos escolares que serão registrados, arquivados e disponibilizados publicamente por meio de um repositório. Os dados são tratados com o objetivo de ocultar informações sensíveis.
Destaques do material já coletado
A planilha com os resultados, constantemente atualizados, e uma análise preliminar em forma de gráficos pode ser conferida aqui. Esses dados são atualizados conforme chegam novas doações coletadas virtualmente ou nas feiras Brocantes. Até o momento foram recolhidos 1.217 documentos.
A maior parte das doações, representando 27,9%, está categorizada como "0", ou seja, são doações que não tiveram o ano especificado. Entre os anos especificados, 2001 destaca-se com 15,8% das doações. Outros anos com contribuições expressivas incluem 2021, com 5,1%, e 2022, com 4,2%, indicando uma atividade recente significativa dentre os objetos coletados. O ano de 2020 também representa uma parcela relevante, com 9,9%, possivelmente refletindo a documentação acumulada durante a pandemia de Covid-19, quando muitas atividades escolares foram digitalizadas.
Anos mais antigos, como 1989 e 1999, representam 2,1% cada um, enquanto o ano 2000 contribui com 1,5%. Esses documentos mais antigos podem oferecer informações históricas sobre práticas e materiais escolares de épocas passadas.Há também uma pequena quantidade de documentos dos anos mais recentes, como 2023, com 1,3%, e 2019, com 1,5%. A predominância de documentos dos anos 2000 e a continuidade de doações recentes, no geral, demonstram a abrangência temporal do acervo do projeto Brocantes, ainda em expansão, refletindo tanto a história escolar recente quanto a mais antiga.
O gráfico das doações por cidade mostra que Lajeado é a cidade com o maior número de doações, representando 41,7% do total, com 319 doações. Outras cidades com contribuições significativas incluem Estrela, com 19,7% (151 doações), e Canoas, com 4,2% (32 doações). Cidades como Viamão e Porto Alegre contribuem com menores quantidades, 1,4% (11 doações) e 2,1% (17 doações), respectivamente.
Na categoria das doações por nível de ensino, observa-se que a maior parte das doações, 37,8% (452 doações), não especificou o nível de ensino. Graduação e Ensino Médio são níveis com contribuições significativas, representando 18,3% (219 doações) e 17,8% (213 doações), respectivamente. A Educação Infantil contribui com uma pequena parte, 4,5% (65 doações), até o momento.
Finalmente, o gráfico que detalha a classificação das doações revela que a maior parte das doações é de Material de Estudo, representando 25,8% (302 doações), e doações não categorizadas, com 23,7% (302 doações). Trabalho Acadêmico (10,9%, 128 doações) e Prova (10%, 117 doações) também são categorias significativas. Menores contribuições vêm de categorias como Artigo (1,4%, 17 doações) e Boletim (6,7%, 79 doações).
Quem pode usar os dados compilados?
Toda a comunidade interessada, em especial pesquisadores que trabalham com temas conectados à Escola ou nas área da História, Educação, Arquivologia, Museologia e Memória.
Instituições e equipe
O grupo de pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEnsino) da Univates, lidera a iniciativa, que também tem colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Coordenação
Profa. Dra. Angélica Vier Munhoz (Univates) - Bolsa Produtividade PQ1 - CNPq
Pesquisadores
Profa. Dra. Fabiane Olegário (Univates)
Dra. Inauã Weirich Ribeiro (Univates)
Profa. Dra. Sônia Regina da Luz Matos (UCS)
Profa. Dra. Betina Schuler (Unisinos)
Prof. Dr. Cristiano Bedin da Costa (Ufrgs)
Profa. Dra. Karen Elisabete Rosa Nodari (Ufrgs)
Profa. Dra. Cláudia Madruga Cunha (UFPR)
Bolsistas
As bolsas do projeto são oriundas do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias de Educação Superior (Prosuc) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do CNPq; e da Univates, por meio de Bolsa de Iniciação Científica - BIC.
Doutorado
Me. Rafael Padilha Ferreira (Bolsista Prosuc/Capes - Univates)
Mestrado:
Gilmara Aparecida Esteves Scapini (CNPq-Univates)
Natália Hoppe Schultz (CNPq-Univates)
Iniciação Científica:
Lara Dillmann Alves - Pibic/CNPq
Juan Sebastián Romero Ramirez - BIC/Univates
Kauana Beatriz Wenneker - BIC/Univates
Mayara Ribeiro da Silva - BIC/Univates
Iniciação Científica - Ensino Médio:
Júlia Ermila Gonzatti - CNPq-EM
Equipe técnica
Lucas George Wendt - Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Ufrgs
Me. Ivan Prá - Doutorando PPGEnsino/Univates; Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul - IFRS/Campus Bento Gonçalves
O que são as Feiras Brocantes?
As brocantes são feiras tradicionais de venda de papéis velhos que ocorrem em cidades e vilarejos franceses, de onde vem a inspiração para a realização do projeto. Popularizadas na última década, especialmente devido a dificuldades econômicas, essas feiras agora fundamentam o projeto da Univates. "Acreditamos que este repositório dará visibilidade ao que foi produzido documentalmente pelas escolas nas últimas décadas, servindo também como material para pesquisas", destaca a coordenadora do CEM, professora doutora Angélica Vier Munhoz.