Na área da educação, propor aos estudantes trabalhos de pesquisa, problematização e experimentação faz parte de uma proposta pedagógica proativa e interativa, estimulando-os a estudar e a ter respostas para problemas nunca vivenciados, na perspectiva de uma aprendizagem significativa e responsável.
Nesse contexto, na formação acadêmica, não é diferente. Muitos trabalhos propostos são em grupo, e o que vem nos chamando a atenção é o pedido de alguns estudantes em fazer os trabalhos individualmente.
O trabalho individual oferece aos estudantes a oportunidade de desenvolver habilidades de autogestão e responsabilidade, além de permitir que cada um trabalhe no seu próprio ritmo. Esse formato pode ser particularmente benéfico para estudantes que desejam um ambiente de estudo mais tranquilo e um maior controle sobre o próprio processo de aprendizagem. A independência adquirida por meio do trabalho individual também prepara os estudantes para situações futuras em que precisarão resolver problemas de forma autônoma.
Por outro lado, na condição de trabalho em grupo, somos confrontados com a necessidade de relacionamento interpessoal. No âmbito das competências necessárias, que envolvem um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, o trabalho em grupo exige colaboração, liderança, definição de papeis, negociação, administração do tempo, organização, confiança e responsabilidade.
No mercado de trabalho, a capacidade de trabalhar bem com outras pessoas é frequentemente necessária. Logo, a falta de interesse em trabalhar em grupo pode ser um terreno fértil para a evitação de interações sociais. A pandemia de Covid-19, que acelerou e intensificou processos de digitalização, também impactou as relações, expandindo, por exemplo, as modalidades de trabalho totalmente ou parcialmente remotas. As recentes enchentes, ainda que de origem e impactos distintos, voltaram a nos fazer reviver maior distanciamento social em diversos casos.
No campo teórico, há diversas análises sobre esse comportamento mais evitativo, as dificuldades e a falta de interesse em trabalhar em grupo. Entre elas está a chamada crise do pertencimento. Em síntese, a crise do pertencimento refere-se à sensação de que não somos importantes para o grupo, ou que não somos aceitos no grupo, ou ainda que não somos valorizados no grupo, levando-nos a sentir-nos desconectados. Esse sentimento pode ter diversas causas e se manifestar em diferentes ambientes (na universidade, no trabalho, na família, na sociedade).
Como educadoras, acreditamos que tanto o trabalho individual quanto o trabalho em grupo são importantes no processo de formação, logo é preciso equilíbrio entre esses dois métodos, para proporcionar uma variedade de vivências e experiências que gerem aprimoramento de saberes e fazeres, fundamentais para elevar o nível de autoconhecimento, intelectualidade e empregabilidade dos estudantes.
Comece assumindo o seu papel e as suas responsabilidades no trabalho em grupo. Valorize o grupo com a sua participação ativa e seja parte da criação de um ambiente de desenvolvimento de resultados coletivos e, assim, aproveite a sinergia que só o trabalho colaborativo pode alcançar.
Bernardete B. Cerutti é doutora em Desenvolvimento Regional (Unisc). É professora da Univates nos cursos presenciais e a distância da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Luciane Franke é doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Professora no Curso de Administração de Empresas da Univates.