Além dos equipamentos de última geração, professores qualificados e uma infraestrutura ímpar, o curso de Medicina da Universidade do Vale do Taquari - Univates tem investido na abordagem que privilegia o cuidado com a saúde mental dos estudantes de Medicina. Nesta perspectiva, no componente curricular Saúde e Sociedade, que perpassa o curso fortalecendo a visão humanista, foram inseridas atividades para os estudantes terem contato com a natureza.
Desde 2022, mais de 500 estudantes do primeiro e do quarto semestre de Medicina vivenciaram os benefícios dos banhos de floresta, também conhecidos como silvoterapia ou shinrin-yoku (no Japão, de onde o conceito é oriundo). A prática consiste em imergir na atmosfera natural das florestas, interagindo com a natureza por meio dos sentidos para obter benefícios para a saúde mental e física.
Essa técnica iniciou no Japão na década de 1980, como forma de medicina preventiva, após a observação de que pacientes internados em hospitais que tinham algum contato com ambientes verdes se recuperavam mais rapidamente. Hoje faz parte da política pública de saúde do país.
Uma diversidade de estudos disponíveis nas plataformas de periódicos científicos, como a PubMed, aponta benefícios dessa prática em quadros de depressão, ansiedade e estresse, além de melhorar a concentração, inclusive de estudantes universitários. Não havia estudos específicos sobre essa prática entre alunos de Medicina.
Tendo identificado essa lacuna, a professora doutora Jane Márcia Mazzarino, que investiga a conexão entre comunicação, saúde e educação ambiental, com apoio do curso de Medicina da Univates, incluiu a prática nas suas aulas do componente Saúde e Sociedade primeiro como uma experiência, depois de forma permanente.
Os resultados têm sido promissores, conforme aponta a pesquisadora, com benefícios para a saúde mental, conforme o relato dos estudantes e, também, por meio dos resultados da aplicação de escala consagrada.
A prática não se limita apenas aos alunos de Medicina, pois está inserida nas investigações do grupo de pesquisa Ecosofias, Paisagens Inventivas, coordenado pela professora Jane Mazzarino no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD). Na Univates, professores e gestores administrativos também têm tido acesso à prática mediada pela pesquisadora, sendo o processo muito bem recebido pela comunidade acadêmica.
Com a crescente demanda por abordagens holísticas e integrativas de saúde embasadas em conhecimento científico sólido, o banho de floresta é um recurso a mais para a promoção do bem-estar e da saúde de indivíduos cada vez mais conectados em ambientes que estimulam a geração de fatores estressores.
No Brasil
É de conhecimento da ciência que o contato com a natureza oferece uma série de benefícios comprovados para a saúde mental e física, promovendo tranquilidade e bem-estar. Nesta direção, no Brasil, no momento, o banho de floresta está sendo considerado para ser integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS), em uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um acordo de pesquisa e desenvolvimento entre essas instituições, estendendo-se por cinco anos, visa a validar cientificamente essa prática e apresentar sua viabilidade como política pública de saúde.
A prática do banho de floresta oferece benefícios para os estudantes, destaca o coordenador do curso de Medicina, professor Luciano Nunes Duro.
Segundo ele, os benefícios estendem-se também à saúde física, com melhorias na qualidade do sono e aumento da energia. Essa prática, quando integrada ao currículo acadêmico, enriquece a formação médica e também prepara os futuros médicos para adotarem abordagens criativas no cuidado às pessoas. A coordenação do curso de Medicina aprova e estimula que essa prática seja realizada de forma curricular, inclusive.
Na opinião de quem participa
A estudante Gabriela Kohler Mainardi diz que a experiência com os banhos de floresta foi uma tentativa para que os alunos de Medicina desacelerassem um pouco da sua rotina, por meio de um momento de silêncio e contato com a natureza, diminuindo as distrações relacionadas com a faculdade para manter o foco no presente por alguns instantes. A jovem revela que o contato com a natureza sempre me trouxe conforto e, por esse motivo, estar mais próxima desses ambientes me proporciona tranquilidade, principalmente quando faço alguma atividade física relacionada.
A acadêmica acredita que o ensino envolvendo atividades que tratam da saúde mental dos estudantes leva a um maior autoconhecimento dos futuros profissionais, assim como os ensina a valorizar e enxergar a complexidade do paciente, olhando aspectos não apenas físicos, mas priorizando questões psíquicas e emocionais, podendo, por fim, trazer atendimento diferenciado para a população quando comparado aos estudantes que tiveram seu ensino mais conservador.
Ela lembra de um momento durante as práticas. Durante o banho de floresta, em um dia específico, a professora Jane Mazzarino guiou a turma em uma aula de yoga ao ar livre. Essa experiência foi ótima, pois, além de entrarmos em contato com a natureza, conseguimos nos alongar e relaxar um pouco fisicamente, diminuindo a tensão de horas de estudo sentados durante a semana.
Além disso, a estudante diz que a prática, integrada a outras técnicas, gera mais interação entre os colegas, além de propiciar que conheçamos mais o outro e suas individualidades quando nos encontramos em um ambiente diferente do usual, tendo em vista as inúmeras atividades e dinâmicas coletivas possíveis durante o banho de floresta.
Outra estudante que participa das práticas é Leandra Rigo, para quem as práticas funcionaram como um abraço em meio à adaptação ao primeiro semestre do curso. Para ela, o principal benefício foi relacionado à ansiedade. Sempre fui muito ansiosa, e ter momentos que me fazem parar e aprender a controlar isso é essencial.
A integração entre uma abordagem que trata das pessoas que, no futuro, cuidarão de outras pessoas é um ponto importante para a estudante em relação aos banhos de floresta. É sobre isto que aprendemos ao longo da graduação, cuidar dos nossos futuros pacientes, e para que futuramente possamos fazer isso, cuidar de nós mesmos e da nossa saúde mental também deve ser uma prioridade.
A jovem relata a dificuldade que sentiu no começo das práticas. Acredito que a primeira aula que tive com a inserção do método foi a mais marcante pela dificuldade de conseguir me conectar com a natureza e simplesmente parar, ter um momento sem cobrança. É um processo que fomos aprendendo ao longo das aulas, e eu diria que isso mudou totalmente a forma como hoje consigo interagir com a natureza.
O curso realmente tem uma carga horária extensa e muitas vezes era nesse período que podíamos ter trocas extraclasse. Acredito que eu e meus colegas ficamos mais próximos após isso, uma vez que também compartilhávamos experiências e, muitas vezes, nos identificávamos no discurso e no sentimento do outro, detalha Leandra.