A capacidade de criticar é uma habilidade essencial no desenvolvimento do pensamento crítico e na construção de diálogos produtivos. Ao afirmarmos isso, cabe, inicialmente, revisitar o significado do termo habilidade. A literatura define habilidade como a qualidade de uma pessoa hábil, que revela capacidade para fazer algo. Está intimamente relacionada à aptidão para cumprir uma tarefa específica com um determinado nível de destreza.
Essa compreensão constitui uma ideia consideravelmente antiga, porém (re)valorizada na contemporaneidade em decorrência das mudanças no mercado de trabalho, que requerem, especialmente dos ambientes organizacionais, a adoção de estratégias de negócios alinhadas a profissionais aptos e ágeis, a fim de garantir que objetivos e metas individuais e corporativos sejam alcançados.
Assim, acredita-se que a habilidade de criticar não é - ou não deveria ser - apontar falhas ou defeitos, mas analisar de forma profunda e racional uma ideia, uma ação ou um trabalho, buscando compreendê-los em suas nuances e contextos.
Para que uma crítica seja válida, é fundamental que ela esteja embasada em argumentos sólidos, ou seja, em dados e evidências que sustentem seu ponto de vista, demonstrando conhecimento sobre o assunto em pauta. Além disso, a crítica deve ser feita de forma respeitosa, clara e objetiva, focada em aspectos que realmente podem ser considerados e melhorados, sem qualquer tipo de ataque pessoal.
Também é importante considerar diferentes perspectivas e estar aberto ao diálogo, reconhecendo que ideias divergentes podem enriquecer o debate, promover o aprendizado e levar a soluções mais criativas e eficazes. A criatividade refere-se à capacidade de pensar de maneira diferente, inovadora e original, e é complementar à capacidade de criticar.
A crítica apenas com a intenção de criticar revela um esvaziamento de saberes e de valor humano, além de reduzir significativamente a oportunidade de interação e contribuição social, enquanto a crítica respaldada e respeitosa estimula a criatividade, o crescimento e novos comportamentos, tanto individuais quanto coletivos.
Em tempos de necessidade de reconstrução como o que estamos vivenciando, especialmente no Vale do Taquari, que possamos dialogar na perspectiva de fazermos críticas que impulsionem ideias e ações criativas, integradoras, duradouras e benéficas para todos, mesmo que possa parecer ambicioso. Afinal, a sustentabilidade das relações autoriza a ousadia de se pensar em outro modo de convívio humano.
Antes de criticar, pergunte a si mesmo:
1) Minha crítica tem o objetivo de contribuir?
2) Estou fundamentado em fatos e evidências sólidas?
3) Este é o momento certo para fazer essa crítica?
4) Estou abordando o assunto com respeito e empatia?
Críticas eficientes e que preservam as relações interpessoais se sustentam nessa base. Você pode ser parte das soluções!
Bernardete B. Cerutti é doutora em Desenvolvimento Regional (Unisc). É professora da Univates nos cursos presenciais e a distância da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Luciane Franke é doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Professora no Curso de Administração de Empresas da Univates.