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Estudo revela impacto das enchentes do Rio Taquari na cidade de Lajeado a partir de fotos e da cobertura da imprensa

Postado as 18/06/2024 13:55:12

Por Redação Univates

Uma dissertação desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates destaca os desafios e impactos das enchentes do Rio Taquari na cidade de Lajeado a partir da cobertura do jornal O Informativo do Vale. Com aproximadamente 95 mil habitantes, Lajeado tem enfrentado inundações recorrentes ao longo de sua história, que interferem nas dimensões sociais e ambientais da comunidade.

A pesquisa, conduzida com foco histórico, analisa como as cheias do Rio Taquari moldaram a vida em Lajeado entre 1970 e 2000, especialmente, mas também apresentando imagens de momentos anteriores. As fotografias pesquisadas no Arquivo Histórico de Lajeado permitiram ao pesquisador retroceder ao ano de 1912. Mesmo que as reportagens sejam a principal fonte de pesquisa da dissertação, optou-se por manter as imagens como forma de contextualizar o leitor com o ambiente e cenário.

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

 

Utilizando um método qualitativo, o pesquisador examinou reportagens, fotografias e documentos históricos para entender a influência das enchentes no processo de urbanização e nas políticas locais. O estudo foi desenvolvido por Willian Henrique Hoppe e orientado pela professora doutora Neli Teresinha Galarce Machado. O estudo completo pode ser conferido aqui.

A dissertação investigou a cobertura jornalística dos eventos de enchentes. Foram analisadas 50 reportagens publicadas no jornal O Informativo do Vale e recuperadas no Arquivo Histórico Municipal de Lajeado, com 16 delas sendo estudadas em profundidade. Os resultados mostram que a imprensa frequentemente relata as enchentes sob uma perspectiva econômica e social, destacando tanto as perdas financeiras quanto os dramas humanos.

A partir da interpretação, a pesquisa ressalta os desafios de aumentar a previsibilidade e melhorar a resposta às enchentes, especialmente nas áreas mais vulneráveis. Além disso, a dissertação contribui para a história ambiental da região, um campo ainda pouco explorado.

O trabalho dialoga com outras pesquisas nas áreas de engenharia ambiental e geografia, que também abordam as inundações do Rio Taquari. Destacam-se estudos sobre mapeamento de áreas urbanas suscetíveis a inundações e a análise de previsões de enchentes. Contudo, a dissertação enfatiza a importância de uma abordagem histórica para compreender plenamente o impacto das cheias na sociedade lajeadense.

Divulgação/Acervo Pessoal

Willian Henrique Hoppe

O estudo destaca a necessidade de historicizar as enchentes mais impactantes, classificadas como desastres ambientais. Além disso, analisa a legislação municipal e sua relação com o desenvolvimento urbano, revelando que muitas áreas alagáveis são ocupadas por famílias de baixa renda e vulnerabilizadas.

“Os principais desafios metodológicos ao analisar as reportagens, fotografias e documentos históricos sobre as enchentes do Rio Taquari foram, primeiramente, as inconsistências nas datas, especialmente das imagens. Muitas fotografias tinham datas aproximadas, o que exigiu uma verificação detalhada a partir de elementos do entorno, como construções e outros marcos visíveis, para determinar a época. Em relação às matérias jornalísticas, o acervo é muito bem organizado, com todas as edições catalogadas por ano. Isso facilitou significativamente a pesquisa, tornando o processo mais acessível e eficiente”, destaca Hoppe.

Descobertas da pesquisa 

A cobertura jornalística de O Informativo do Vale sobre as enchentes mudou ao longo do tempo. “Nas reportagens mais antigas, havia um foco maior em números e estatísticas, muitas vezes apresentados de uma forma menos acessível ao público em geral. O Poder Público, como a prefeitura e o Estado, era o foco da análise. Essa abordagem limitava o alcance da mensagem”. Com o passar dos anos, o jornal adotou uma linguagem de mais fácil interpretação, o que permitiu que as reportagens se tornassem mais acessíveis e compreensíveis para um público mais amplo. “Além disso, houve uma mudança na pauta das reportagens, que passaram a enfatizar mais os aspectos sociais das enchentes. Em vez de focar na economia, as matérias começaram a contar as histórias das pessoas afetadas, adotando uma perspectiva mais horizontal e humanizada. Essa mudança ampliou o impacto das reportagens, destacando as experiências e os desafios enfrentados pelas comunidades atingidas. A cobertura fotográfica também passou a ter muito mais espaço com o passar dos anos”, diz Hoppe.

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

Reportagem sobre enchente em Lajeado em 1983

Reportagem sobre enchente em Lajeado em 1983

Perspectivas para o futuro
“É muito importante considerar a história ao analisar eventos recorrentes como as enchentes, especialmente quando esses eventos são tão recorrentes e significativos em uma cidade”, explica o pesquisador. “A imprensa desempenha um papel importante ao apresentar e documentar esses eventos, fornecendo não apenas informações sobre as enchentes em si, mas também sobre as respostas da comunidade e das autoridades ao longo do tempo”. 

E segue fazendo isso. “Em 2024, a imprensa mais uma vez desempenhou a função de registrar e relatar as enchentes. Ao entendermos a história e as lições aprendidas com eventos passados, podemos desenvolver abordagens mais significativas e resilientes para lidar com as enchentes no futuro”, destaca Hoppe.

Ao analisar o passado, o pesquisador também olha para o futuro e para o papel que as políticas públicas têm para mitigação do efeito de novos episódios de inundação na cidade. “A principal política pública de enfrentamento das enchentes em Lajeado deve ser a criação de um plano diretor que reveja as cotas de inundação e seja eficaz em impedir novas edificações em áreas alagáveis. Essas áreas poderiam ser transformadas em espaços públicos, como parques, que, além de não estarem sujeitas a ocupação, poderiam oferecer benefícios recreativos e ambientais à comunidade”.

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1941

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1941

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1941
Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1941

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1926
Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1926

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1928
Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1928

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1912
Enchente do Rio Taquari em Lajeado em 1912

Arquivo Histórico Municipal de Lajeado

“Outra questão é o remanejamento das famílias de baixa renda para áreas seguras de forma digna e confortável. Esse processo não é simples, pois enfrenta desafios legais e a própria noção de pertencimento das pessoas a esses locais. Muitas vezes, as famílias têm um vínculo emocional e histórico com suas residências, o que torna a realocação uma tarefa sensível e complexa”, destaca ele. 

Talvez a medida mais urgente seja a criação de um plano de contingenciamento para crises futuras. “É essencial parar de apenas reparar danos e focar na prevenção. Para isso, a revisão das políticas ambientais é fundamental, especialmente aquelas que regulamentam a ocupação de áreas ribeirinhas, matas ciliares, encostas e outras zonas vulneráveis. Implementar políticas preventivas robustas pode reduzir significativamente os impactos das enchentes e proporcionar uma maior segurança para a população de Lajeado”, recomenda Hoppe. 

A história das enchentes em Lajeado entre 1970 e 2000 revela que esses eventos são uma constante na região, e muitos dos problemas enfrentados no passado ainda persistem. “Isso destaca a importância de encarar a enchente de 2024 como uma oportunidade para uma entrega mais eficaz na gestão de desastres ambientais. Além disso, é importante entender os padrões históricos e as lições do passado para melhorar a gestão atual e futura de desastres ambientais na região. Com o cenário de mudanças climáticas, que pode resultar em eventos extremos e cada vez mais frequentes, é fundamental adotar abordagens econômicas mais sustentáveis não só em Lajeado, mas no mundo”, complementa o pesquisador.

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