O Vale do Taquari, situado na região centro-oriental do Estado do Rio Grande do Sul, desde 2010, tem se tornado destino de fluxos migratórios para colombianos, cubanos e, principalmente, haitianos.
Em razão dessa intensificação migratória, nas últimas décadas, a professora Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, juntamente com a professora doutora Rosmari Cazarotto, desenvolveu o estudo publicado pela Revista Eletrônica de Pós-Graduação em Geografia - UFPR intitulado Dinâmicas que movem os fluxos migratórios do Haiti, da Colômbia e de Cuba para o Vale do Taquari/RS, de 2010 a 2019, para compreender o impacto e as motivações dessas migrações.
Metodologia do estudo
O artigo é parte dos resultados do projeto de pesquisa Cidades médias e os fluxos imigratórios internacionais recentes: o exemplo da cidade de Lajeado na região do Vale do Taquari-RS, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil no triênio 2019-2022, com apoio institucional da Univates.
Os pesquisadores realizaram um estudo exploratório de abordagem quanti-qualitativa, com o objetivo de reunir elementos que contribuíssem para a identificação e a explicação de particularidades dos projetos migratórios de cada nacionalidade.
Os dados do artigo foram coletados entre os anos de 2018 e início de 2020 e inicialmente realizou-se a sistematização de dados secundários, obtidos no Departamento de Polícia Federal, no Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra) e no Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra). Os dados foram organizados em mapas e gráficos, com o objetivo de melhor caracterizar os migrantes quanto à origem e ao destino na região do Vale do Taquari.
Para investigar a realidade empírica, foram coletados dados primários por meio de questionários, entrevistas formais e informais, em trabalho de campo. Além de uma amostra com imigrantes haitianos, colombianos e cubanos, foram procurados dados com a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). Também foram realizadas abordagens com a área de Relações Internacionais da Univates e empresas locais, por serem as instituições que contribuíram na articulação dos fluxos dessas nacionalidades.
O que mostram os resultados
Os haitianos estão entre os principais imigrantes, com 66,9%. A razão de virem para o Brasil é, principalmente, devido ao forte terremoto que devastou o país em 2010, provocando uma crise econômica e humanitária. As motivações predominantes para se mudarem para o Vale do Taquari são uma melhor qualidade de vida e oportunidades de emprego, caracterizada como migração laboral.
Em segundo lugar estão os colombianos, com 8,4%, tendo como a principal motivação para a imigração na região a mobilidade acadêmica internacional, fortalecida pelas parcerias entre universidades e as conexões sociais. No total foram 252 colombianos que chegaram durante o período em análise (2018 a 2020), a maior parte deles caracterizada como migração de curto prazo. Quanto aos imigrantes cubanos, eles chegaram à região para atuação médica na rede pública de saúde, no atendimento básico, por meio do Programa Mais Médicos (PMM), criado pelo Governo Federal em 2013, mas a maioria permaneceu aqui apenas durante a vigência do Programa.
As pesquisadoras identificaram diferenças nas condições de mobilidade de haitianos, colombianos e cubanos: trabalho, programas universitários e programa de governo, respectivamente. Para a autora Fernanda Sindelar, é importante debater a mobilidade contemporânea porque as migrações internacionais influenciam as dinâmicas regionais, sendo fundamental reconhecer a existência desses movimentos e compreender os diferentes efeitos causados, entre eles os econômicos, sociais e culturais.