Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Artigos

Conhecimento de fisioterapeutas sobre o processo de transexualização

Por Por Julia Cardoso, diplomada do curso de Fisioterapia

Postado em 21/07/2023 11:21:07


Compartilhe

Na Fisioterapia, existe uma disciplina em que acompanhamos a rotina de um fisioterapeuta no ambiente hospitalar. Nessa disciplina, em uma conversa, a fisioterapeuta que estávamos acompanhando comentou sobre um ambulatório de assistência a pessoas trans, que abriria em uma cidade do Rio Grande do Sul, e sobre a importância do fisioterapeuta no atendimento dessa população. 

Diante dessa fala, me questionei o que nós, fisioterapeutas, poderíamos ter de relevância na atuação com essa população, visto que, durante a formação acadêmica, pouco se aborda esse assunto. Também me questionei se outros fisioterapeutas reconhecem sua importância no atendimento. 

Acervo pessoal

Com isso em mente e com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) chegando, decidi que meu estudo se basearia em uma entrevista com fisioterapeutas, principalmente com atuação na área de fisioterapia pélvica, mediante um questionário sobre o conhecimento com relação ao atendimento de pessoas trans, que passaram ou ainda estão passando pelo processo transexualizador.
Júlia Cardoso

Foram entrevistadas sete fisioterapeutas do Rio Grande do Sul, todas do sexo feminino, com formação entre os anos de 1986 e 2021, e todas, exceto uma, trabalharam na área de fisioterapia pélvica em algum momento da sua atuação profissional. Uma delas teve atuação na área de saúde coletiva. Essa última coordenou a Política Municipal de Saúde Integral LGBTQIA+ da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, entre 2017 e 2020. Além disso, coordenou um ambulatório de assistência à pessoa transexual, inaugurado em 2019, também na capital do Estado.

Entre as perguntas, questionei as respondentes sobre o contato com pessoas transexuais e a experiência com o atendimento dessa população, sobre sentirem-se aptas ou não a realizar atendimento a transexuais e sobre o conhecimento das mudanças corporais ocorridas durante o processo transexualizador. 

A partir dessas entrevistas, foi possível perceber que ainda há uma carência de profissionais preparados para atender às demandas da diversidade sexual e que conheçam as alterações decorrentes do processo transexualizador e suas possíveis complicações. Além disso, constatou-se certa desinformação e discriminação quanto à transexualidade, alimentando o preconceito para com essa população. Esse fato se tornou perceptível devido à confusão das entrevistadas diante dos termos utilizados e do desconhecimento dos passos do processo transexualizador. 

Antônio Luiz Marini Marchi

Também, perceberam-se profissionais muito vinculados à heterossexualidade e homossexualidade e extremamente envolvidos com o binarismo dos termos “feminino” e “masculino”, esquecendo-se das particularidades de cada indivíduo. Dessa forma, há uma exclusão das pessoas transexuais, que não se enquadram nos padrões impostos por essas condições.

Com base nisso, há o questionamento do motivo de tantos profissionais da Fisioterapia apresentarem dificuldades quando se trata da diversidade sexual. É válido ressaltar que o fisioterapeuta recebe uma formação generalista, devendo ter a capacidade de atender às mais diversas demandas trazidas. Para tanto, a formação acadêmica deve contemplar mais as diversidades, para não haver insegurança, incompreensão e atendimentos incompletos.

É por meio da formação acadêmica que os estudantes têm o primeiro contato com as mais diversas áreas de atuação. É, portanto, dever do Estado e responsabilidade das instituições de ensino abranger a temática da diversidade sexual, nos âmbitos social e de saúde. Com relação à abordagem do processo transexualizador na formação acadêmica, ao serem questionadas, todas as participantes negaram ter discutido sobre o assunto na graduação.

É essencial recordar que as entrevistadas se formaram entre os anos de 1986 e 2021 e, nesse longo espaço de tempo, os componentes curriculares continuam defasados quando se trata da diversidade sexual. Além disso, os profissionais esquecem da importância e da necessidade da educação permanente em saúde, que traz o dever de os profissionais se manterem em constante aperfeiçoamento, com base nas necessidades atuais em saúde.

Mesmo não fazendo parte da equipe mínima do estabelecimento em atenção especializada no processo transexualizador, definido pela Portaria GM/MS no 2.803, de 2013, a Fisioterapia tem muito a oferecer às pessoas transexuais, desde o início do processo transexualizador, com a reposição hormonal, até o final, no pós-operatório de cirurgias de redesignação sexual. Porém, para isso, é necessário que os fisioterapeutas reconheçam sua importância. 

Fique por dentro de tudo o que acontece na Univates, clique nos links a seguir e receba semanalmente as notícias diretamente no seu WhatsApp ou no Telegram

Fique por dentro de tudo o que acontece na Univates. Escolha um dos canais para receber as novidades:

Compartilhe

voltar