Com informações de Miriam Helena Kronhardt, bióloga e mestre em Sistemas Ambientais Sustentáveis
Normalmente a produção agrícola é baseada na monocultura, mecanização e uso de agroquímicos, porém estes sistemas convencionais causam danos para o ecossistema e a sociedade, além de representar um risco para a segurança na alimentação e problemas de saúde. Em razão da utilização desses sistemas convencionais, também ocorre a perda de grandes áreas com cobertura vegetal natural, que danificam os biomas brasileiros. No entanto, outras alternativas aos sistemas tradicionais surgem, como os Sistemas Agroflorestais (SAF), em que se foca na produção de alimentos de forma mais sustentável, visando à conservação ambiental.
Então, o que são SAF?
Os Sistemas Agroflorestais (também conhecidos pela sigla SAF) podem ser definidos como um sistema no qual o produtor planta e cultiva árvores nativas ou exóticas e produtos agrícolas em uma mesma área. Esta plantação é consorciada com culturas agrícolas, de trepadeiras, de forrageiras, e arbustivas, de acordo com um arranjo espacial e temporal preestabelecido, garantindo, assim, a melhora de aspectos ambientais e a produção de alimentos e madeira.
Mas, para poder ser efetivo, o sistema tem que ser desenhado seguindo uma lógica de produção baseada em princípios que respeitem a dinâmica da natureza. Fatores amplos precisam ser considerados, como o solo, clima, mercado, composição de espécies (por exercerem funções distintas, como adubação, produção de frutos e hortaliças, madeira e culturas anuais); arranjos (a definição do local de plantio de cada uma delas será em função da classificação ecológica das espécies utilizadas); operação; objetivo com a produção; custos e a legislação.
Além disso, segundo Steenbock e Vezzani (2013), a prática agroflorestal integra fatores ecológicos, econômicos e sociais, e o uso e manejo de processos ecológicos para a produção, como: fotossíntese, sucessão natural e reciclagem de nutrientes.
Existem algumas espécies agrícolas já consolidadas, como cacau, café ou erva-mate, que crescem bem na sombra de árvores. Seguindo o sistema SAF, o produtor pode combinar esses plantios com árvores como ingá (Inga marginata); açoita cavalo (Luehea divaricata); angico (Parapiptadenia rigida); pitangueira (Eugenia uniflora), entre outras. Deve-se também ter em conta que a escolha depende muito da região e dos interesses dos agricultores.
Vantagens
As vantagens do sistema SAF são:
- otimiza o uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a produção de alimentos;
- conserva e regenera o solo;
- diminui a erosão do solo;
- diminui a pressão pelo uso da terra para a produção agrícola;
- há menos necessidade de fertilizantes e defensivos;
- conserva a mata nativa;
- maior conservação de água e de produção de biomassa;
- estabilidade climática.
Na área social tem vantagens como:
- melhor distribuição da mão de obra durante o ano;
- redução dos custos de manutenção da floresta;
- maior diversificação e qualidade alimentar e uso racional da sombra para animais e humanos.
Na área econômica:
- aumenta e distribui as receitas ao longo do ano;
- diminui a vulnerabilidade dos preços dos produtos que se produzem na propriedade;
- aumenta a rentabilidade;
- valoriza a propriedade pela beleza cênica.
Etapas para a implantação de um SAF
Planejamento e design: comece identificando as características do local, como clima, tipo de solo, topografia e disponibilidade de recursos hídricos. Em seguida, defina os objetivos, considerando os produtos que deseja obter e a demanda de mercado.
Escolha das espécies: selecione espécies de árvores, arbustos e culturas que sejam adaptadas ao seu local e que possuam características complementares. Considere o tamanho, a estrutura das raízes, a demanda por luz, as necessidades hídricas e os ciclos de crescimento das diferentes plantas. Opte por espécies nativas ou exóticas não invasivas, priorizando a diversidade e a resiliência do sistema.
Arranjo espacial: planeje a disposição das plantas no sistema. Podem-se adotar diferentes arranjos, como fileiras de árvores intercaladas com fileiras de culturas, aglomerados de árvores dispersas entre as culturas, ou estruturas em camadas com plantas de diferentes alturas. Considere fatores como sombreamento, competição por recursos e facilitação entre as plantas.
Preparação do terreno: faça a preparação do solo de acordo com as necessidades das culturas selecionadas. Isso pode envolver práticas como aração, gradagem, adubação e controle de plantas invasoras. Seja cuidadoso para evitar a compactação do solo e a degradação dos recursos naturais.
Implantação do SAF: plante as espécies de acordo com o arranjo espacial planejado. Forneça os cuidados iniciais necessários, como irrigação adequada, controle de pragas e doenças e manejo da vegetação competidora. Acompanhe o desenvolvimento das plantas e faça ajustes conforme necessário.
Manejo contínuo: mantenha a manutenção e o monitoramento do sistema ao longo do tempo. Isso inclui a poda das árvores, o manejo das culturas, o controle de pragas e doenças, a reposição de plantas perdidas e a adição de novas espécies conforme apropriado. A integração de animais, como aves ou gado, também pode ser considerada, dependendo dos objetivos do sistema.
Lembre-se de que a criação de um SAF é um processo contínuo de aprendizado e adaptação. É recomendável buscar conhecimento específico sobre as espécies escolhidas, interações ecológicas, manejo agroecológico e práticas sustentáveis. Além disso, é importante considerar a participação da comunidade local e o respeito aos conhecimentos tradicionais relacionados ao manejo agroflorestal.
Referências
1) Agroforestry systems, legislation and sustainability of small farms in Rio Grande do Sul, Brazil Míriam Helena Kronhardt, Julia Gastmann, Claudimar Sidnei Fior, Elisete Maria de Freitas Artigo científico
2) Benefícios dos sistemas agroflorestais são apresentados em Semana Agronômica Portal Embrapa Embrapa.
3) STEENBOCK, W.; VENAZZI, F. M. (2013). Agrofloresta: aprendendo a produzir com a natureza. Ed. Curitiba: Fabiane Machado Vezzani, 148p. il. ISBN 978-85-908740-1-0. 2013