O professor Carlos Tiggemann, doutor em Ciência do Movimento Humano e professor de Educação Física na Universidade do Vale do Taquari - Univates, em parceria com o professor Dr. Cleber Cremonese, da Universidade Federal da Bahia, e com Janice Gossmann, profissional de educação física, desenvolveu o estudo Perfil, prevalência e fatores de risco a lesões em corredores amadores do Rio Grande do Sul, publicado pelo Portal Regional da BVS.
Carlos Tiggemann é praticante de corridas de longas distâncias e já participou de corridas como a São Silvestre, no estado de São Paulo, e a Meia Maratona, no estado do Rio de Janeiro. Em seu estudo, ele destaca que a busca por hábitos saudáveis, uma melhor qualidade de vida e ter um baixo custo faz com que as pessoas escolham a corrida de rua como modalidade de exercício.
Além da promoção da saúde, existe também o sentimento de prazer, benefícios estéticos, competição e poder estar com outras pessoas - o que faz com que as corridas ganhem mais adeptos ao longo do tempo. Porém, apesar desses benefícios que a prática da corrida proporciona, o índice de lesões no aparelho locomotor é bastante alto, principalmente nos membros inferiores. Carlos já sofreu algumas lesões e o interesse pela realização do estudo recentemente publicado surgiu da perspectiva de querer entender qual é o comportamento da lesão.
Metodologia
A pesquisa ocorreu por meio do Google Forms, com um questionário com questões específicas do perfil sociodemográfico (idade, renda, sexo, estatura, peso, estado civil, graduação, hábitos diários, doenças e ingestão de medicamentos), de treinamento (volume, tempo, velocidade, métodos, competições, frequência, orientação, percurso e intensidade) e de histórico de lesões baseado em um estudo sobre o perfil de corredores de rua do estado de São Paulo.
A divulgação da pesquisa ocorreu pelas redes sociais, ficando disponível entre maio de 2018 e fevereiro de 2019. Como critérios de inclusão da pesquisa, foi estabelecido que os sujeitos devessem ser moradores do Estado do Rio Grande do Sul, estar praticando corrida de rua nos últimos 12 meses, ser maior de 18 anos e ter aceitado participar do estudo após leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados do estudo
Obtiveram-se 288 respostas ao formulário. Por meio do questionário e da análise de dados, foi possível averiguar que 46,5% dos corredores apresentaram algum tipo de lesão, que impossibilitou a continuidade dos treinos. Desses, em 28,1% a lesão foi muscular, afetando a musculatura da panturrilha na maior parte dos casos. As lesões articulares estiveram presentes em 38,5% dos quadros clínicos, sendo o joelho e o tornozelo as partes mais afetadas.
Percebeu-se que corredores que possuem treinos de maior distância, com uma média de velocidade maior, ou os praticantes de treinos com variação de velocidade, se machucam mais em comparação com aqueles com distância e média de velocidade menores.
Em relação à prevalência de lesão, os sujeitos do sexo masculino possuem 33% a mais de chance de terem lesões, em comparação com corredoras do sexo feminino. Assim como, corredores mais altos, com mais de 1,75, possuem 35% maior chance de ter lesão em comparação aos mais baixos.
O tempo de corrida de 3 a 5 anos, o volume semanal em km percorridos e o tipo de orientação para treinar (se com acompanhamento ou de forma autônoma) e sentir dor ou desconforto pós-treino são variáveis significativas para uma maior prevalência de lesões.
A lesão não aparece de uma hora para outra, ela vem antes com sintomas de dor e desconforto. A parte disso, a pessoa tem que ter consciência de que, à medida que ela sente a dor e o desconforto, ela precisa reduzir seus treinamentos, procurar uma ajuda prévia com profissionais, ou buscar alternativas de treinamentos, exalta o professor Tiggemann.
Com o estudo, conclui-se que a prevalência de lesões dos corredores de rua que responderam à pesquisa foi bastante elevada, chegando a quase metade dos participantes investigados. As principais lesões foram as articulares, as quais ocorreram nos membros inferiores, com maior ocorrência na região do joelho seguido do tornozelo e pé.
No estudo, os sujeitos mais altos, o sexo masculino, o fato de não possuir doença crônica, correr a uma maior velocidade, realizar com maior frequência treinos fartlek e longão, maior tempo de prática de corrida, maior quantidade de dias de treino, maior volume semanal, seguir orientação por meio de planilha pronta da internet e sentir dor ou desconforto foram identificadas como variáveis significativas em favor de maior prevalência de lesões.
O professor Carlos Tiggemann possui um canal no youtube, chamado Estudando com o Prof. Tiggemann, no qual, uma vez por semana, ele divulga conhecimentos científicos sobre o movimento humano, aplicados à prática profissional da educação física e áreas próximas.