A dermatite seborreica, popularmente conhecida como caspa, atinge 50% da população mundial e é considerada uma doença crônica, não contagiosa. Ela se manifesta em partes do corpo onde existe maior produção de óleo pelas glândulas sebáceas ou a presença de um fungo, o Pityrosporum ovale.
O cetoconazol é um antifúngico caracterizado por apresentar três átomos de carbono e dois átomos de nitrogênio, formando um núcleo chamado de imidazol. A medicação tem como mecanismo de ação a inibição da biossíntese (processo em que são produzidos compostos químicos complexos nos organismos vivos) do ergosterol, importante componente para a formação da membrana celular fúngica. Dessa forma, o cetoconazol apresenta atividade fungicida.
Para o tratamento da dermatite seborreica, a concentração 2% é a mais eficaz e, por ser largamente receitada, a produção dos xampus de cetoconazol é muito comum em farmácias de manipulação. Sabe-se, porém, que a estabilidade desses xampus é dificultada pelo alto quantitativo de matérias-primas em pó adicionadas à formulação.
O estudo Análise de estabilidade físico-química de xampus de cetoconazol manipulados, desenvolvido pela estudante do curso de farmácia Caroline Rapellini da Universidade do Vale do Taquari - Univates e publicado pela Revista Eletrônica Multidisciplinar de Investigação Científica - REMICI, tem como objetivo avaliar a estabilidade físico-química dos xampus de cetoconazol 2% manipulados e comparar com um xampu de cetoconazol 2% industrializado, a fim de analisar se os testes de controle de qualidade estão sendo seguidos conforme o que preconizam as RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nos 67 e 68, de outubro de 2007.
Metodologia
Por meio de um estudo quantitativo e de caráter experimental, foram analisadas três amostras de 100mL de xampu de cetoconazol 2% manipuladas em diferentes farmácias do interior do estado do Rio Grande do Sul e uma amostra de xampu de cetoconazol 2% industrializado de uma marca reconhecida no mercado.
As amostras foram encaminhadas para o laboratório do curso de Farmácia da Univates, sendo as amostras manipuladas identificadas como A, B, C e a amostra industrializada como REF. Para chegar aos resultados finais, foram realizadas diversas análises, sendo elas: ensaios de controle de qualidade, determinação da viscosidade, determinação de pH (potencial hidrogeniônico), determinação de densidade, teste de centrífuga, ensaios organolépticos e índice de espuma.
O que mostram os resultados
É aconselhável que os xampus de uso diário tenham o pH na faixa de 5 a 7, porque com pH acima de 7 irá abrir as cutículas dos cabelos mais profundamente. Assim, um xampu que apresenta pH neutro é melhor para os cabelos que um de pH alcalino, porém o ideal é que ele possua um pH levemente ácido.
O xampu de referência possui pH 6,4, sendo considerado neutro e levemente ácido. As amostras manipuladas apresentam pH mais baixo. Das três analisadas, a amostra C foi a que mais teve o valor de pH próximo à amostra de referência. Quanto ao valor de pH fisiológico do fio de cabelo, a amostra B se mostrou com um pH bastante ácido.
A viscosidade está relacionada à qualidade do produto. Conforme a literatura, a viscosidade dos xampus deve estar entre 2000 e 5000 cPS (centipoise, unidade de medida de viscosidade). As amostras A e B não atingiram de forma satisfatória os parâmetros de viscosidade.
Em relação à densidade, não há parâmetros oficiais para xampus, porém para xampus e sabonetes líquidos considera-se 1,010 e 1,020 g/mL (grama por mililitro) como um resultado aceitável. Os resultados das análises variaram de 1,037 a 1,059 g/mL. Assim, nenhuma das quatro formulações estão de acordo com os parâmetros de qualidade.
A espuma não influencia na qualidade do produto, porém o consumidor a associa à sua eficácia. A amostra A foi a que mais se aproximou dos resultados do xampu de referência. A amostra B teve maior índice de espuma inicial e de repouso comparado com o de referência. E a amostra C teve um índice de espuma menor.
Por meio do estudo pode-se concluir que os testes de qualidade não estão sendo realizados de forma adequada em todos os laboratórios farmacêuticos analisados, podendo, ao mesmo tempo, se tratar de um erro de lote.