Uma pesquisa conduzida pela doutoranda Pauline Amanda Vognach, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates, sob orientação do professor doutor Eduardo Périco, busca ampliar a compreensão da relevância dos insetos aquáticos nos ecossistemas de água doce. Com o título Serviços ecossistêmicos providos pelos insetos aquáticos em ambientes dulcícolas, o estudo revela o papel fundamental desses organismos microscópicos na manutenção do equilíbrio ambiental.
Os ecossistemas são sistemas que englobam complexas, dinâmicas e contínuas interações entre seres vivos em seus ambientes físicos, dos quais o homem é parte integrante. Um ecossistema em pleno funcionamento controla uma série de processos essenciais à presença de vida na Terra, e a biodiversidade constitui elemento-chave desses processos, pois proporcionam uma série de serviços ecossistêmicos, como polinização, decomposição, controle de pragas e de doenças e ciclagem de nutrientes. A degradação ambiental, causada pelas atividades humanas, vem diminuindo a capacidade dos ecossistemas de suprir esses serviços.
Os serviços ambientais ou ecossistêmicos, oferecidos gratuitamente pela natureza, são a interface básica entre o capital natural e o bem-estar humano. O desenvolvimento econômico, a qualidade de vida e a união das sociedades humanas são irremediavelmente dependentes dos serviços gerados pelos ecossistemas, sendo indispensável o mapeamento e valoração desses serviços, cujo valor total já foi estimado em 33 trilhões de dólares anuais.
Segundo o professor Périco, de todos os ecossistemas do planeta, os ecossistemas de água doce suportam a maior concentração de biodiversidade. Esses ecossistemas fornecem uma série de bens e serviços para os seres humanos, e a maioria deles é proporcionada direta ou indiretamente pela biota aquática. Nas últimas décadas, entretanto, os ambientes aquáticos têm sido alterados de maneira significativa em razão de múltiplos impactos ambientais advindos de atividades antrópicas. Por serem coletores naturais das paisagens, o uso e o manejo do solo são determinantes para a qualidade da água desses ecossistemas. Como consequência dessas atividades, tem-se observado uma expressiva queda da qualidade e quantidade da água e perda de biodiversidade aquática, o que alterará ou reduzirá os bens e serviços fornecidos por esses ecossistemas.
O estudo realizado no Laboratório de Ecologia e Evolução, vinculado ao Museu de Ciências (MCN) da Univates, oferece uma visão mais abrangente sobre os insetos aquáticos e seus serviços ecossistêmicos em ambientes dulcícolas. Compreender e reconhecer a importância desses pequenos organismos é essencial para a preservação dos ecossistemas de água doce e o desenvolvimento de práticas sustentáveis de gestão ambiental.
Comumente, quando se pensa em rios, lagos e outros habitats de água doce, associam-se esses ambientes imediatamente a peixes, répteis e anfíbios. No entanto, os insetos também desempenham um papel crucial nesses ecossistemas, como destaca a pesquisa em desenvolvimento.
Os insetos aquáticos são bioindicadores, ou seja, sua presença e diversidade revelam a qualidade da água em que habitam. Sua sensibilidade a alterações nas condições ambientais torna-os excelentes indicadores da saúde dos ecossistemas aquáticos.
Ao monitorar a presença e a diversidade desses insetos, os cientistas podem obter informações valiosas sobre a qualidade da água, identificando possíveis problemas e desencadeando medidas de conservação e recuperação.
Além disso, os insetos também exercem papéis vitais em outras funções ecológicas. A polinização de plantas aquáticas é um exemplo dessas interações. Muitas espécies de insetos aquáticos são responsáveis por transportar o pólen das plantas, promovendo a reprodução e a manutenção da biodiversidade em ecossistemas aquáticos.
Outra contribuição importante dos insetos aquáticos é a decomposição da matéria orgânica. Eles atuam como agentes de decomposição, quebrando e transformando restos de plantas e animais em componentes mais simples. Esse processo é fundamental para a reciclagem de nutrientes e o funcionamento saudável dos ecossistemas de água doce.
Além disso, os insetos aquáticos desempenham um papel crucial na purificação da água. Ao se alimentarem de detritos e organismos mortos, eles ajudam a remover substâncias indesejáveis e a melhorar a qualidade da água, tornando-a mais adequada para a vida aquática.
Diante dessas descobertas, a pesquisa de Pauline destaca a importância de valorizar e proteger os habitats dos insetos aquáticos. A conservação desses organismos não apenas contribui para a manutenção da biodiversidade, mas também promove a qualidade da água e o equilíbrio ambiental como um todo.