Por bastante tempo ao longo da história, as organizações se preocupavam em produzir bens ou serviços para satisfazer as necessidades dos clientes ou usuários de seus produtos, não dando atenção para as consequências de suas atividades. Os processos produtivos consomem muitos recursos não renováveis e são responsáveis pela geração de resíduos e de poluentes que degradam o meio ambiente e, também, contribuem para alterações em escala global, como as mudanças climáticas.
Nas últimas décadas, estão sendo observados novos valores sociais e culturais por parte de camadas da população, os quais têm requerido das empresas a produção de bens e serviços em um contexto mais sustentável, isto é, que seja economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo.
O que é a ESG?
Como atualmente as pessoas estão demonstrando mais interesse nas questões de responsabilidade social implicadas na atuação das organizações e mais atentas aos impactos provocados pelas suas ações, os empresários e investidores estão tendo que incorporar no planejamento das empresas iniciativas que busquem contribuir para as dimensões Ambiental, Social e de Governança. Essa estratégia é conhecida pela sigla ESG (no inglês, Environmental, Social and Governance, traduzido para o português como Ambiental, Social e Governança).
Neste sentido, a sigla ESG corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa ou organização.
A primeira letra, E, representa a relação entre a empresa e o ambiente natural e os efeitos (negativos ou positivos) de suas atividades no meio ambiente. Em outras palavras, diz respeito às práticas corporativas relacionadas ao meio ambiente, como emissão de carbono, poluição do ar ou da água, gestão de resíduos, entre outras.
A segunda letra, S, representa os fatores da empresa que afetam as pessoas, sejam os trabalhadores ou clientes, seja a sociedade em geral. Aqui se ressalta a importância da responsabilidade social para a empresa e seu impacto nas comunidades em que atua. Nessa dimensão, estão aspectos como direitos humanos, legislação trabalhista, segurança do trabalho, benefícios para as comunidades, entre outros.
Na última letra, G, estão arrolados os fatores da governança, ou seja, o modo como a empresa administra os negócios de maneira responsável. Neste ponto é importante os requisitos éticos que a empresa tem, como, por exemplo, políticas anticorrupção ou transparência tributária, a existência de um canal de denúncias e auditorias, entre outros.
O termo ESG foi cunhado no ano de 2004 e apareceu pela primeira vez em uma publicação do Banco Mundial (International Finance Group) chamada Who Cares Wins Connecting Financial Markets to a Changing World. Desde então, os princípios de ESG se tornaram de suma importância para todas as companhias.
Como saber se uma empresa segue os princípios da ESG?
Para saber se uma empresa segue os princípios do ESG, é preciso conhecer os dez princípios do Pacto Global da Organização das Nações Unidas:
Direitos humanos
As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente.
Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.
Trabalho
As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva.
A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório.
A abolição efetiva do trabalho infantil.
Eliminar a discriminação no emprego.
Meio ambiente
As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais.
Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental.
Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.
Anticorrupção
As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.
Como uma empresa pode aplicar os princípios da ESG?
A aplicação da estratégia ESG (Environmental, Social, and Governance) é um processo que envolve a incorporação de práticas e princípios sustentáveis, éticos e de governança corporativa em uma empresa. Aqui estão algumas etapas que uma empresa pode seguir para aplicar a ESG:
1) Avaliação e definição dos princípios ESG: A primeira etapa é entender os princípios da ESG e como eles se aplicam ao contexto da empresa. Isso envolve a avaliação dos impactos ambientais, sociais e de governança da empresa em suas operações e cadeia de valor.
2) Engajamento das partes interessadas: É importante envolver as partes interessadas, como funcionários, clientes, fornecedores, investidores e comunidades locais, na definição dos objetivos ESG da empresa. Isso pode ser feito por meio de consultas, pesquisas e diálogos abertos para entender suas preocupações e expectativas.
3) Desenvolvimento de políticas e práticas: Com base na avaliação e no engajamento das partes interessadas, a empresa deve desenvolver políticas e práticas que abordem os principais desafios e oportunidades relacionados à ESG. Isso pode incluir a implementação de programas de redução de emissões de carbono, políticas de diversidade e inclusão, práticas de gestão de resíduos e muito mais.
4) Monitoramento e relatórios: A empresa deve estabelecer sistemas de monitoramento para acompanhar seu desempenho em relação aos objetivos ESG estabelecidos. Isso envolve a coleta de dados relevantes, estabelecimento de métricas e indicadores de desempenho, e a criação de relatórios periódicos para comunicar os resultados alcançados.
5) Integração nos processos de tomada de decisão: A aplicação efetiva da ESG requer a integração dos princípios em todos os níveis da empresa, incluindo processos de tomada de decisão estratégica, gerenciamento de riscos, alocação de recursos e avaliação de desempenho. Isso garante que a ESG seja considerada de forma abrangente em todas as atividades da empresa.
6) Transparência e prestação de contas: A empresa deve se comprometer com a transparência e a prestação de contas, divulgando informações relevantes sobre suas práticas e desempenho ESG. Isso pode ser feito por meio de relatórios públicos, participação em iniciativas de divulgação voluntária, como os princípios do Global Reporting Initiative (GRI) ou a adesão a padrões de sustentabilidade reconhecidos.
A implementação da ESG é um processo contínuo e requer o comprometimento e engajamento de toda a organização. Além disso, a aplicação da ESG pode variar conforme o setor e a natureza das operações da empresa, portanto, é importante adaptar as abordagens e práticas segundo a realidade específica de cada organização.
Referências
1) ESG ‒ Pacto Global Rede Brasil ‒ ESG Pacto Global
2) The Ten Principles of the UN Global Compact ‒ United Nations ‒ The Ten Principles | UN Global Compact
3) Who Cares Wins. Connecting Financial Markets to a Changing World ‒ IFC ‒ Who Cares Wins
Material escrito em colaboração com a professora doutora Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis.