Um projeto de pesquisa realizado pela Universidade do Vale do Taquari - Univates objetiva avaliar diferentes metodologias de restauração de áreas degradadas em margens de rios e arroios da Bacia Hidrográfica do rio Taquari, no escopo do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis. A equipe do projeto, liderada pela professora doutora Elisete Maria de Freitas, é composta por diversos professores da Univates, bolsistas de iniciação científica e estudantes de mestrado e doutorado.
O grupo conta ainda com o apoio de profissionais voluntários, prefeituras municipais, uma empresa privada, Ministério Público e Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema/RS). O projeto foi aprovado pela Sema/RS e conta com licença ambiental para a realização das atividades nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) dos cursos hídricos.
A iniciativa de pesquisa visa a contribuir para reverter o atual estado de degradação das matas ciliares de rios e arroios, responsável pela geração de danos ambientais e econômicos. Com o início do projeto, nove áreas degradadas foram selecionadas nas margens dos rios Taquari e Forqueta, nas quais diferentes técnicas (metodologias) de restauração ecológica (recuperação ambiental) estão sendo aplicadas.
Os principais objetivos do projeto são entender o quadro de degradação, identificar as melhores metodologias e garantir a formação de uma nova cobertura vegetal arbórea. Ou seja, buscamos selecionar técnicas que são adequadas para aplicação regional, conforme condições ambientais, estimular a restauração desses ecossistemas quando degradados, mostrando que é possível fazer alguma coisa, e, por fim, executar a restauração das áreas selecionadas, explica a professora Elisete.
O projeto iniciou suas atividades em 2021 e tem alcançado resultados positivos. Recentemente, como desdobramento, em uma das áreas, localizada em Arroio do Meio, a equipe da Universidade identificou a necessidade de aplicar uma intervenção que envolvia técnicas de engenharia natural, além das técnicas de restauração ecológica. A associação de técnicas de engenharia natural com o plantio de mudas de plantas nativas poderá interromper os processos erosivos das margens do rio, restabelecendo as condições ambientais dos locais.
Com o apoio da Prefeitura Municipal de Arroio do Meio, do Ministério Público de Lajeado e com a orientação técnica, de forma voluntária, do engenheiro ambiental Cleberton Bianchini (por meio de termo de parceria firmado entre Univates e sua empresa, a DuoTeB Engenharia e Meio Ambiente Ltda.), foi possível executar a atividade. Grandes rochas foram transportadas até o local e dois defletores foram instaladas na margem do rio. As estruturas promoverão um leve deslocamento do fluxo de água em enchentes, evitando o choque direto da água contra a margem, e impedirão a continuidade dos processos erosivos.
As atividades iniciaram em dezembro de 2021 quando a equipe da Prefeitura de Arroio do Meio realizou o chanframento do talude e a equipe da Univates executou o plantio de mudas e a semeadura direta para a rápida formação da cobertura vegetal. Somente em 2023, com o recebimento de valores do Ministério Público de Lajeado, correspondentes a uma indenização ambiental, foi possível contratar máquinas e caminhões com capacidade para a sua execução. A atividade complementa o que havia sido realizado em 2021, garantindo o fim da erosão, uma vez que no local o rio apresenta forte correnteza, e promoverá a formação de uma cobertura vegetal com espécies características de matas ciliares da região.
Entendendo o impacto da ação
Caso a intervenção não fosse realizada, o proprietário das terras continuaria perdendo área. Sempre que subia o nível das águas, parte do talude do rio era carregado. E isso agora não acontece mais. É gratificante demais. Aprendemos muito, ainda temos ajustes a fazer e estamos fazendo, complementa a professora Elisete. Considerando o caso específico da área onde trabalhamos em Arroio do Meio, com tamanho grau de degradação e de grande extensão, eu entendo que é também papel da pesquisa na Universidade investigar causas dos problemas existentes e, com base nelas, buscar soluções e testar, porém tendo cautela. Fazer aos poucos, tendo a certeza de que será possível contornar falhas e ajustar, explica.
Para o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, da DuoTeB, as atividades que estamos desenvolvendo nas margens dos rios são extremamente importantes para a proteção e a restauração desses espaços e têm gerado aprendizagens valiosas. Por mais difícil que seja recuperar as margens de rios, precisamos fazer algo, e o projeto tem demonstrado que é possível fazer. É trabalhoso sim, mas com a união de diversos atores podemos fazer.
A docente Elisete avalia o impacto positivo da ação. De forma pontual, a ação vai garantir o sucesso da restauração da cobertura vegetal e interromper definitivamente os processos erosivos. É meta atingida! Em menos de 20 anos, os proprietários perderam 0,75 hectares de terra no local onde atuamos e, com a ação, desde dezembro de 2021, nada mais se perdeu. Ainda, de forma indireta, a ação serve para mostrar aos proprietários de outras áreas semelhantes que é possível reverter a situação, ou seja, é um problema que tem solução. É preciso iniciar, fazer, colocar a mão na massa. Também serve para mostrar aos gestores municipais e aos técnicos das áreas ambientais o que é possível fazer e como fazer, explica a investigadora.
Elisete destaca que essa iniciativa compreende aprendizado para todos os envolvidos. Eu aprendi muito, continuo aprendendo com este projeto, e tenho a certeza de que todos que acompanharam as atividades realizadas também aprenderam. Aprendemos a ser persistentes e a nunca desistir. Aprendemos a conduzir o processo com profissionais de outras áreas, o que é enriquecedor, indica. Produzir conhecimento e disseminá-lo é o papel da Universidade. Além disso, entendo que estamos fazendo inserção social e contribuindo para mudar uma realidade de nossa região.
A docente ainda avalia que as ações como a que realizaram precisam estar estabelecidas sobre o conhecimento e a realidade local. Há a necessidade de trabalhar em equipe com profissionais de diferentes áreas do conhecimento, além de muita persistência para superar todas as dificuldades ‒ ambientais, econômicas e sociais, finaliza.