Por Candida Schaedler / Ascom Sict. Confira o texto original aqui
Giseli Buffon é CEO da startup Syntalgae, escolhida como finalista da competição de startups do South Summit Brazil 2022. Cofundadora do negócio de biotecnologia ao lado de outra mulher, afirma que elas iniciaram o desafio de empreender sem ter noção dos obstáculos que enfrentariam, o que, ironicamente, acabou sendo fundamental para o sucesso da empreitada: Se soubéssemos o que teriamos que transpor, talvez não tivéssemos começado. A Syntalgae é uma startup de base tecnológica que disponibiliza microalgas para substituir produtos convencionalmente sintetizados à base de petróleo por produtos naturais renováveis.
Aos 35 anos, Giseli é licenciada em Ciências Biológicas, mestra e doutora em Biotecnologia pela Universidade do Vale do Taquari (Univates) e tem sua carreira firmada no ecossistema regional de inovação dos Vales, onde atua como parceira de projetos do programa Inova RS, da Sict, além de já ter sido contemplada com a bolsa Doutor Empreendedor, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
Combina prática, docência e pesquisa para oferecer soluções sustentáveis por meio da inovação. Também é cofundadora do Ko.lab, em Lajeado, uma edtech para aperfeiçoamento dos professores conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por meio de uma plataforma e um aplicativo de estudo on-line ou híbrido que tornam a formação mais acessível, interativa, participativa e facilitada. Além de empreendedora, também atua como professora no Colégio Cenecista Mário Quintana, na cidade de Encantado.
Durante sua carreira, conta que um dos maiores desafios foi ter se posicionado como CEO da Syntalgae, quando ela e a sócia compraram a startup, fundada em setembro de 2019, do primeiro investidor. Quando eu e a Anja [Dullius, sócia e diretora de P&DI], abrimos a startup, não tínhamos pensado nos nossos cargos dentro da instituição. Nós duas nos colocávamos como diretoras de P&D. Em nosso subconsciente, nosso primeiro investidor era o chefe, não sabíamos nem o que era um contrato social, lembra.
A Syntalgae tem duas fundadoras mulheres em um estado em que apenas 17,5% das startups são criadas por membros do sexo feminino, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em 2022. Giseli conta ainda que, durante o primeiro ano, elas aprenderam bastante, fizeram muitas mentorias, participaram de inúmeros pitchs e editais e se decepcionaram, porque o negócio não cresceu como elas esperavam. Assim, o caminho foi se empoderar e tomar as rédeas, comprando a empresa do investidor. Abrimos uma nova rodada de investimentos e conseguimos o dinheiro que precisávamos para comprar a parte do nosso antigo investidor e seguir com o crescimento da startup. Foi uma virada de chave nas nossas vidas. Nossa equipe nos apoiou muito nessa fase. Acho que isso é empreender: acreditar no seu negócio e em você, define.
União de ciência e empreendedorismo
Oriunda do meio acadêmico e entusiasta da ciência enquanto forma de melhorar a vida prática das pessoas, Giseli acredita que é necessária a junção da ciência e do empreendedorismo para gerar inovação. Por meio de mentorias, apoio de órgãos governamentais, aceleradoras e hubs de inovação, relata que aprendeu a linguagem empreendedora e transpôs o preconceito sofrido por ser uma mulher empreendendo com biotecnologia. Hoje, nosso maior desafio é mostrar que nossa tecnologia é realmente disruptiva, que vamos conquistar inúmeros mercados e que temos conhecimento e parceiros estratégicos para fazer isso acontecer, afirma.
Nesse caminho, porém, as dificuldades impostas por questões de gênero não passam despercebidas. Ser pesquisadora, empresária, mulher é um grande desafio. As oportunidades não são iguais, a maternidade é vista como um grande problema na carreira acadêmica e, quando sofremos um assédio, ficamos paralisadas e, muitas vezes, não respondemos e não tomamos uma atitude. Várias vezes ouvi coisas de um homem que tenho certeza que ele não falaria em uma negociação ou conversa para outro homem, porém, para mim falou, pondera.
A cobrança maior por questões de gênero também ocorre, mas Giseli afirma que o empoderamento frente ao cargo de CEO é fundamental para avançar e conquistar espaço. Como mulheres, precisamos sempre mostrar que estamos acima da curva, nos posicionando nas negociações com ética e responsabilidade e, por fim, entender que esse lugar de CEO nos pertence, finaliza.
Elas inovam
Para marcar o Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul coloca sob os holofotes mulheres que estão moldando as políticas de inovação do estado. Elas inovam é uma série que conta a trajetória de oito profissionais, uma em cada ecossistema regional de inovação, que inspiram e apoiam outras mulheres, liderando transformações na tríade inovação, ciência e tecnologia dentro de universidades, hubs de inovação, startups e empresas.