Um estudo publicado na revista internacional Frontiers of Biogeography apresentou informações sobre a diversidade de espécies no bioma Pampa. De acordo com a pesquisa, mais de 12.500 espécies de plantas, animais e microorganismos foram identificadas nessa região, o que corresponde a 9% da biodiversidade atualmente conhecida no Brasil. O artigo intitulado 12,500+ and counting: biodiversity of the Brazilian Pampa foi liderado pelo professor Dr. Gerhard Overbeck e pelos pesquisadores de pós-doutorado Dra. Bianca Ott Andrade e Dr. William Dröse, do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre.
A pesquisa contou com a colaboração de mais de 120 pesquisadores de 70 instituições de ensino e pesquisa. A Univates esteve representada neste estudo pelos professores doutores Camille Eichelberger Granada, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec), e Eduardo Périco, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD). Esses pesquisadores colaboraram para desvendar um pouco mais da biodiversidade do bioma Pampa, que é conhecido pelas suas vastas planícies de campos, mas também inclui outros ambientes, como florestas, banhados e butiazais.
A Dra.Camille E. Granada trabalhou com a diversidade de microrganismos dos solos, em colaboração com as doutoras Luciane M. P. Passaglia (Ufrgs) e Anelise Beneduzi (DDPA). Já o Dr. Eduardo Périco trabalhou com a diversidade de libélulas (Odonata), que são insetos cuja fase larval ocorre na água e a fase adulta é terrestre, sendo utilizados como organismos indicadores da integridade ambiental.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo reuniram uma equipe de especialistas em diversos grupos de organismos e trabalharam por mais de dois anos para construir uma base de dados sobre a biodiversidade do Pampa. Os resultados surpreenderam, pois a maioria dos grupos de organismos apresentou números mais elevados do que se conhecia ou se estimava anteriormente. Nesse contexto, destacaram-se os grupos de algas e fungos, os quais apresentaram um número muito maior de espécies do que aquelas que se conhecia anteriormente. Os dados também revelaram que o Bioma Pampa contribui significativamente para a diversidade de aves, mamíferos e abelhas. Segundo o Dr. William Dröse, o estudo evidencia que a biodiversidade do Pampa é elevada não somente no grupo de plantas campestres, o que já era bem conhecido, mas também em muitos outros grupos. Ele ainda ressalta que, por exemplo, no caso das formigas, há muitas espécies que ainda nem sequer foram descritas.
Essa alta diversidade mostrada no estudo vem, contudo, sofrendo perdas aceleradas (dados mostrados no Map Biomas). A Dra. Bianca Ott Andrade ressalta que a perda de biodiversidade implica na perda de serviços ecossistêmicos fundamentais para as populações humanas. Diante disso, os autores do artigo esperam que os dados compilados contribuam para a conservação de espécies nativas.
Para garantir a conservação do bioma, é necessário investir em pesquisa e desenvolver políticas públicas voltadas para esse assunto, uma vez que o Pampa ainda recebe relativamente pouca atenção nesse sentido. A perda de biodiversidade nos ambientes naturais deveria ser um tema central em um período em que muito se discutem mudanças climáticas globais. Os dados coletados pelos pesquisadores estão disponíveis on-line na página da revista. Os cientistas pretendem atualizar a base de dados periodicamente.
Saiba mais sobre o Pampa
O Pampa é um bioma brasileiro que se estende pelo Sul do Brasil, Uruguai e Argentina. É uma das principais formações vegetais do país, caracterizada por vastas planícies, coxilhas (ondulações suaves do terreno) e matas ciliares ao longo dos rios. A vegetação é predominantemente herbácea, com gramíneas, ervas e arbustos. O Pampa abrange uma área de cerca de 176.000 km², o que representa pouco mais de 2% do território brasileiro. É um ecossistema com grande importância econômica e cultural para a região, abrigando diversas espécies de animais e plantas endêmicas.
O Pampa apresenta uma diversidade de fitofisionomias e pode ser dividido em três grandes porções: uma localizada na região costeira do estado, que concentra uma das maiores densidades e diversidades de áreas úmidas do Sul do Brasil; uma chamada de campos altos, na interface entre os biomas Pampa e Mata Atlântica; e a vegetação estépica, que é tradicionalmente conhecida como Campanha, e que ilustra o imaginário popular sobre o modo de vida do gaúcho.