As atividades da sociedade conectadas à natureza se relacionam e, portanto, fazem parte da produção sociocultural do espaço. Nos espaços do rio Taquari, no centro-leste do estado do Rio Grande do Sul, os pescadores artesanais buscaram diversos lugares para viver e manusear o ambiente para que pudessem utilizá-lo na garantia da sustentabilidade familiar.
Um estudo publicado por pesquisadora da Universidade do Vale do Taquari - Univates buscou analisar as relações que os pescadores artesanais do rio Taquari estabelecem com o território a partir de suas práticas e saberes relacionados com a pesca. O estudo é de autoria de Emeli Lappe e do professor doutor Luís Fernando da Silva Laroque, ambos do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates. A pesquisa foi publicada no Caderno Prudentino de Geografia.
As implicações da pesquisa
Considerando que a pesca é uma das atividades econômicas mais antigas desenvolvidas pela sociedade, cujo papel foi fundamental na obtenção de recurso alimentar para as comunidades ribeirinhas, constatou-se que essa prática, embora com ressignificações, continua presente entre os pescadores artesanais do rio Taquari.
Os principais achados estão no estabelecimento de uma compreensão do que é ser pescador. Vemos eles pescando no rio, mas não entendemos como fazem aquilo ou para quê. Mas, quando você entra nesse universo, passa a perceber que eles têm um conhecimento amplo que vai além de estudos teóricos. Eles são seres partícipes do cuidado e preservação da natureza, explica a investigadora Emeli.
O artigo publicado é compilado das pesquisas realizadas durante o doutorado em Ambiente e Desenvolvimento, no qual pesquisamos os saberes de pescadores artesanais do rio Taquari em relação ao ambiente e território. A pesquisa em si é de suma importância para dar visibilidade às sociedades tradicionais que aqui vivem. Não só pescadores, mas indígenas kaingang também, detalha a pesquisadora.
A metodologia do estudo, ou seja, a forma como os dados foram obtidos para posterior análise, constituiu-se de uma abordagem qualitativo-descritivo, utilizando revisão bibliográfica, entrevistas com base na história oral e relatos registrados em diários de campo, e dados analisados a partir de teóricos da territorialidade e da natureza dos rios.
Interesse pela pesquisa do tema
Entendo que os pescadores são invisibilizados pela sociedade não tradicional, ou seja, há poucos trabalhos acadêmicos sobre a temática. Nesse contexto, a pesquisa torna-se oportuna para que a sociedade do vale do Taquari compreenda a importância e os conhecimentos dos pescadores, pois estes entendem todas as lógicas e dinâmicas naturais e ambientais dos rios, dos peixes, bem como o comportamento das águas e as próprias ações antrópicas, que, em muitos momentos, prejudicam o ciclo natural, explica a pesquisadora.
Estou inserida na pesquisa acadêmica desde 2010, quando iniciei como bolsista de extensão do projeto História e Cultura Kaingang. Fui desafiada e me desafiei, mas foi bom. Aprendi muito e fiz amizades. E pesquisa é isso. Por isso digo que é muito além dos livros. Descobrimos histórias, dados, informações que não encontramos em artigos, livros e sim, nas conversas, nos relatos, nas entrevistas e fotografias realizadas, ressalta Emeli. Estar no universo acadêmico e pesquisar é uma experiência que transforma como ser humano. É motivador, pois você pode apresentar para a sociedade um novo assunto, uma nova temática, que, muitas vezes, é desconhecida ou não entendida da melhor forma.