O Brasil abriga aproximadamente 20% de toda a biodiversidade mundial e possui a flora mais rica do mundo. No entanto, por questões culturais, a maioria das atividades agrícolas no país é baseada em espécies exóticas, levando ao subaproveitamento de plantas nativas, o que, por sua vez, leva a uma baixa diversidade de alimentos derivados dessa categoria. No entanto, as espécies nativas possuem grande variedade fitoquímica e valor nutricional, o que permite que sejam exploradas economicamente.
As plantas alimentícias não convencionais têm uma variedade de compostos bioativos com valor nutricional. O jaracatiá (Vasconcellea quercifolia) pertence à família de plantas Caricaceae e é uma alternativa dietética com uma excelente composição nutricional. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari - Univates e da Universidade Federal de Pelotas - Ufpel investigou as propriedades nutricionais dessa planta. Na Univates, as pesquisas foram desenvolvidas no Laboratório de Botânica com participação dos pesquisadores dos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia e em Sistemas Ambientais Sustentáveis.
O estudo é assinado por Lilian de Fátima Ferreira da Silva, Kétlin Fernanda Rodrigues, Eduardo Miranda Ethur, Lucélia Hoehne, Claucia Fernanda Volken de Souza, Daisa Hakbart Bonemann, Anderson Schwingel Ribeiro e Elisete Maria de Freitas. A pesquisa foi publicada no periódico acadêmico Brazilian Journal of Food Technology.
A pesquisa teve como objetivo caracterizar a composição nutricional da farinha de frutos verdes do jaracatiá (V. quercifolia), a fim de aplicá-la em um alimento funcional. Para isso, a farinha foi caracterizada em relação a macro e micronutrientes, fatores antinutricionais, pH, atividade da água e cor.
A farinha obtida pelos pesquisadores ao longo dos experimentos apresentou teores de carboidratos de 22,31%; proteínas de 9,65%; fibra alimentar dietética de 32,80%; lipídios de 14,95%, dos quais 63,56% são ácidos graxos insaturados, especialmente ácido oleico; e cinzas de 9,10%, com maiores concentrações para potássio, cálcio e magnésio.
A farinha de V. quercifolia tem, portanto, características nutritivas e pode ser utilizada como suplemento alimentar, concluem os pesquisadores. Mais pesquisas, no entanto, devem ser realizadas para ampliar o conhecimento sobre as características da planta e do respectivo produto, bem como para determinar formas de aplicação da farinha.
O perfil nutricional, principalmente o teor de fibras, aponta para o potencial de utilização da farinha em formulações alimentícias e produtos biotecnológicos como substrato para probióticos, por exemplo, servindo como fonte de carbono para manutenção celular.
Além disso, V. quercifolia é uma espécie nativa subutilizada no Brasil, com potencial de uso na alimentação humana, sendo favorecida pela facilidade de propagação. Portanto, este estudo teve como objetivo promover a inserção de uma espécie vegetal nativa na economia regional, valorizando a flora nativa e incentivando o uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais.