Um estudo publicado pelas pesquisadoras Mônica Maria Siqueira Damasceno, Jane Marcia Mazzarino e Aida Figueiredo analisou as interferências da natureza no comportamento de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) a partir de estudo de caso no Nordeste brasileiro. Os achados da pesquisa foram publicados na Revista Ambiente e Sociedade.
Mônica é doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - campus Juazeiro do Norte. Ela também tem pós-doutorado pela Universidade de Aveiro, em Portugal. Jane é pesquisadora do PPGAD e Aida realiza pesquisa na Universidade de Aveiro. Ambas orientaram o trabalho de Mônica.
O objetivo do estudo foi analisar o perfil de seis crianças com TDAH, antes e depois de intervenções na natureza, a fim de identificar possíveis alterações no comportamento decorrentes de experiências de contato direto com a natureza.
O que apontam os resultados da pesquisa?
As atividades na natureza se mostraram significativas tanto para o processo de aprendizagem quanto para a minimização dos sintomas do TDAH. Os resultados do estudo demonstraram que as crianças com TDAH, ao realizar atividades em contato com a natureza, tiveram um salto qualitativo nos aspectos do desenvolvimento, sejam cognitivos, afetivos ou sociais, bem como demonstraram a relevância de as escolas considerarem a natureza como mais um espaço de aprendizagem, podendo ser utilizada para a promoção de mudanças pedagógicas.
Nossa pesquisa apontou o quanto o ensino é ainda conservador, principalmente quando tratamos da aprendizagem de crianças que possuem algum transtorno. Os achados apontam a necessidade de se usar outras estratégias de ensino, incluindo o desemparedamento dessas crianças, ou seja, propiciar momentos em que elas possam estar fora das quatro paredes da sala de aula, destaca Mônica.
É importante o debate sobre o tema porque ressignifica o olhar para as crianças que possuem TDAH ou outros transtornos e a prática pedagógica, comprovando que a sala de aula não é o único ambiente que propicia aprendizagem e desenvolvimento, conforme opina a pesquisadora. Este tema é relevante porque esclarece (e provoca) que cada vez mais as crianças estão se afastando da tendência natural de voltar a atenção às coisas vivas, que chamamos de biofilia.
Mônica evoca um trecho da obra de Lea Tiriba, autora e pesquisadora, que diz que à medida que as crianças são afastadas dos ambientes naturais, essa afeição pode não se desenvolver, gerando, ao contrário, sentimento de desapego e indiferença em relação ao mundo natural. Outro autor que trouxe embasamento para a pesquisa foi Richard Louv ao apresentar o termo transtorno do déficit de natureza, que se apresenta como um fenômeno que decorre do confinamento das crianças em espaços interiores e fundamentalmente da restrição do convívio com a natureza, implicando em algumas enfermidades.
Tenho que destacar a importância de o PPGAD e as Ciências Ambientais estarem se aprofundando em temas sensíveis e provocando discussões e pesquisas que muito têm contribuído com a sociedade. Este estudo é importante porque, quanto mais crianças puderem realizar atividades na natureza, mais irão se desenvolver e aprender, afirma a doutora.
A pesquisa continua
A partir do tema investigado e dos resultados encontrados, a pesquisadora segue estudando a relação entre o ensino e a natureza. Realizei meu pós-doutorado no departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal, investigando os espaços exteriores e o uso das possibilidades (affordances), conceito que permite a assimilação de qualidades ambientais que propiciam certos comportamentos às crianças em ambientes abertos. Continuo estudando e pesquisando essa temática, defendendo a ideia da necessidade de criação de pátios verdes nas escolas, com a intenção de que as crianças saiam das salas de aula e aprendam também nos espaços exteriores da escola, em contato com a natureza, diz Mônica.
Em razão da pesquisa de pós-doutorado, Mônica tem realizado diálogos com a gestão municipal do Crato, no Ceará, para possibilidades futuras. As conclusões me levam a persistir no uso das vivências com e na natureza em crianças com TDAH e nas demais. Eu, enquanto professora de cursos de licenciatura, tenho envolvido meus alunos a pesquisar nessa área e a despertar em cada um deles o olhar sensível. Outra implicação é a luta para que as escolas adotem o contato regular com e na natureza como parte do currículo.
Estar envolvida em pesquisa cujos resultados trazem contribuição para a sociedade, efetivamente, permite uma grande realização e satisfação tanto profissional quanto pessoal. E saber que estou impactando mais pessoas que queiram pesquisar esse tipo de assunto é muito significativo, finaliza a pesquisadora.