Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Pesquisa

Pesquisa analisa interferências da natureza no comportamento de crianças com TDAH no Nordeste brasileiro

Por Lucas George Wendt

Postado em 13/10/2022 08:19:15


Compartilhe

Um estudo publicado pelas pesquisadoras Mônica Maria Siqueira Damasceno, Jane Marcia Mazzarino e Aida Figueiredo analisou as interferências da natureza no comportamento de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) a partir de estudo de caso no Nordeste brasileiro. Os achados da pesquisa foram publicados na Revista Ambiente e Sociedade

Mônica é doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - campus Juazeiro do Norte. Ela também tem pós-doutorado pela Universidade de Aveiro, em Portugal. Jane é pesquisadora do PPGAD e Aida realiza pesquisa na Universidade de Aveiro. Ambas orientaram o trabalho de Mônica. 

O objetivo do estudo foi analisar o perfil de seis crianças com TDAH, antes e depois de intervenções na natureza, a fim de identificar possíveis alterações no comportamento decorrentes de experiências de contato direto com a natureza.

Divulgação/Acervo pessoal

O que apontam os resultados da pesquisa?

As atividades na natureza se mostraram significativas tanto para o processo de aprendizagem quanto para a minimização dos sintomas do TDAH. Os resultados do estudo demonstraram que as crianças com TDAH, ao realizar atividades em contato com a natureza, tiveram um salto qualitativo nos aspectos do desenvolvimento, sejam cognitivos, afetivos ou sociais, bem como demonstraram a relevância de as escolas considerarem a natureza como mais um espaço de aprendizagem, podendo ser utilizada para a promoção de mudanças pedagógicas.

“Nossa pesquisa apontou o quanto o ensino é ainda conservador, principalmente quando tratamos da aprendizagem de crianças que possuem algum transtorno. Os achados apontam a necessidade de se usar outras estratégias de ensino, incluindo o ‘desemparedamento’ dessas crianças, ou seja, propiciar momentos em que elas possam estar fora das quatro paredes da sala de aula”, destaca Mônica. 

É importante o debate sobre o tema porque ressignifica o olhar para as crianças que possuem TDAH ou outros transtornos e a prática pedagógica, comprovando que a sala de aula não é o único ambiente que propicia aprendizagem e desenvolvimento, conforme opina a pesquisadora. “Este tema é relevante porque esclarece (e provoca) que cada vez mais as crianças estão se afastando da tendência natural de voltar a atenção às coisas vivas, que chamamos de biofilia”.

Mônica evoca um trecho da obra de Lea Tiriba, autora e pesquisadora, que diz que “à medida que as crianças são afastadas dos ambientes naturais, essa afeição pode não se desenvolver, gerando, ao contrário, sentimento de desapego e indiferença em relação ao mundo natural”. Outro autor que trouxe embasamento para a pesquisa foi Richard Louv ao apresentar o termo “transtorno do déficit de natureza”, que se apresenta como um fenômeno que decorre do confinamento das crianças em espaços interiores e fundamentalmente da restrição do convívio com a natureza, implicando em algumas enfermidades. 

“Tenho que destacar a importância de o PPGAD e as Ciências Ambientais estarem se aprofundando em temas sensíveis e provocando discussões e pesquisas que muito têm contribuído com a sociedade. Este estudo é importante porque, quanto mais crianças puderem realizar atividades na natureza, mais irão se desenvolver e aprender”, afirma a doutora. 

A pesquisa continua

A partir do tema investigado e dos resultados encontrados, a pesquisadora segue estudando a relação entre o ensino e a natureza. “Realizei meu pós-doutorado no departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal, investigando os espaços exteriores e o uso das possibilidades (affordances), conceito que permite a assimilação de qualidades ambientais que propiciam certos comportamentos às crianças em ambientes abertos. Continuo estudando e pesquisando essa temática, defendendo a ideia da necessidade de criação de pátios verdes nas escolas, com a intenção de que as crianças saiam das salas de aula e aprendam também nos espaços exteriores da escola, em contato com a natureza”, diz Mônica. 

Em razão da pesquisa de pós-doutorado, Mônica tem realizado diálogos com a gestão municipal do Crato, no Ceará, para possibilidades futuras. “As conclusões me levam a persistir no uso das vivências com e na natureza em crianças com TDAH e nas demais. Eu, enquanto professora de cursos de licenciatura, tenho envolvido meus alunos a pesquisar nessa área e a despertar em cada um deles o olhar sensível. Outra implicação é a luta para que as escolas adotem o contato regular com e na natureza como parte do currículo”. 

“Estar envolvida em pesquisa cujos resultados trazem contribuição para a sociedade, efetivamente, permite uma grande realização e satisfação tanto profissional quanto pessoal. E saber que estou impactando mais pessoas que queiram pesquisar esse tipo de assunto é muito significativo”, finaliza a pesquisadora. 

Fique por dentro de tudo o que acontece na Univates. Escolha um dos canais para receber as novidades:

Compartilhe

voltar